Os códigos deixaram de ser secretos pela internet – e já não servem para muita coisa
Você acredita em senhas? Então lamento informar que elas não passam de frutos da sua imaginação – ou de seu excess de fé. Deixei de acreditar nelas no início de minha vida digital, tão logo minha conta bancária foi invadida ela primeira vez. Faz muito tempo.
Lembro-me da era adâmica da internet, no início dos anos 1990, quando as pessoas brincavam com as palavras e era possível cadastrar emails e domínios com nomes e sobrenomes simples e senhas com datas de aniversário. Coo Adão no Velho Testamento, os desbravadores brincavam de distribuir palavras em um território inexplorado. A palavra mágica era “pontocom”. Tudo se desdobrava dali.
Mas a era nominalista logo acabou. Com o povoamento, os mais espertos tomaram posse das palavras. Os hackers aparceram e, com eles, aumentou a desconfiança entre os usuários. A segurança e a privacidade foram para o brejo. As senhas tiveram de ganhar uma certa complexidade alfanumérica. Em vão.
Isso porque a maior parte das pessoas, passados 20 anos da Idade da Pedra da rede, ainda usa senhas primárias, facilmente decifráveis. O consultor de segurança digital Mark Burnett listou as 10 mil senhas mais comuns na internet.
A conclusão é que a palavra mais usada para senha é “password”, “senha” em inglês. Em segundo lugar, “123456”. Seguem-se “12345678”, “1234”, “qwerty”, “12345”, “dragon”, “pussy”, “baseball” e “football” – só para ficar nas dez.
Vale a pena consultar a lista porque ela comprova que o ser humano não é dotado de grande imaginação, nem mesmo quando lida com um vocabulário que se pretende secreto.
Senhas como “letmein”, “daniel”, “justin”, “tigger”, “robert”, “fuck”, “btman” e “test”, além de tantas outras compiladas por Brunett, poderiam compor o dicionário de ideias adquiridas sonhado pela dupla de lexicógrafos Bouvard e Pécuchet do romance homônimo de Gustave Flaubert.
As senhas mostram que a humanidade evolui com extrema lentidão. E que cotinua viciada em lugar-comum.
O problema é que as senhas são necessárias. Todo mundo é forçado a usá-las para entrar em contas de banco, redes sociais e sites.
No entanto, assim como não existe o crime perfeito, não há senha perfeita. Os hackers possuem programas de decifração poderosos. Eles sempre arrumam uma forma de descobri-la, por mais complexa que possa parecer.
Se senhas deixaram de ser secretas, deixaram de ser propriamente senhas. Não ocultam segredos nem protegem ninguém.
Por que O Hobbit é católico
A morte antecipada de Niemeyer
Viva a preguiça intensamente
Cutucadas eróticas
A novela que mudou o espectador
Um caso exemplar é contato na reportagem “Hacked” (hackeado, ou invadido), publicada na edição de dezembro da revista Wired, o jornalista Matt Honan narra em dtealhe como os piratas digitais descobriram suas diversas senhas – algumas com mais de dez dígitos e misturando caracteres alfanuméricos -, entraram no sua conta bancária, sacaram dinheiro e, não contentes com isso, ainda entraram na sua conta do Twitter para enviar mensagens racistas.
Segundo Honan, as senhas deixaram de ter utilidade na internet, pois são inócuas e facilmente decifráveis. “É tempo de tentar alguma coisa nova”, afirma. Ele defende novas formas de criptografia com uma segunda confirmação de dados, como faz o Google, evitando a ação direta dos piratas. Ele acha que somente os mais fortes sobreviverão ao “apocalipse da senha”. Como? Honan não avança nas soluções.
Assim, os crédulos que se cuidem. O antigo paraíso se transformou em inferno. Enquanto os desenvolvedores tentam encontrar novos programas de criptografias para substituir as velhas senhas, o melhor é evitar se expor demais e navegar com mais cuidado pela internet. Esqueça as senhas - ou pelo menos, senhas com a palavra “senha”.
01 de janeiro de 2013
Luís Antônio Giron
Lembro-me da era adâmica da internet, no início dos anos 1990, quando as pessoas brincavam com as palavras e era possível cadastrar emails e domínios com nomes e sobrenomes simples e senhas com datas de aniversário. Coo Adão no Velho Testamento, os desbravadores brincavam de distribuir palavras em um território inexplorado. A palavra mágica era “pontocom”. Tudo se desdobrava dali.
Mas a era nominalista logo acabou. Com o povoamento, os mais espertos tomaram posse das palavras. Os hackers aparceram e, com eles, aumentou a desconfiança entre os usuários. A segurança e a privacidade foram para o brejo. As senhas tiveram de ganhar uma certa complexidade alfanumérica. Em vão.
Isso porque a maior parte das pessoas, passados 20 anos da Idade da Pedra da rede, ainda usa senhas primárias, facilmente decifráveis. O consultor de segurança digital Mark Burnett listou as 10 mil senhas mais comuns na internet.
A conclusão é que a palavra mais usada para senha é “password”, “senha” em inglês. Em segundo lugar, “123456”. Seguem-se “12345678”, “1234”, “qwerty”, “12345”, “dragon”, “pussy”, “baseball” e “football” – só para ficar nas dez.
Vale a pena consultar a lista porque ela comprova que o ser humano não é dotado de grande imaginação, nem mesmo quando lida com um vocabulário que se pretende secreto.
Senhas como “letmein”, “daniel”, “justin”, “tigger”, “robert”, “fuck”, “btman” e “test”, além de tantas outras compiladas por Brunett, poderiam compor o dicionário de ideias adquiridas sonhado pela dupla de lexicógrafos Bouvard e Pécuchet do romance homônimo de Gustave Flaubert.
As senhas mostram que a humanidade evolui com extrema lentidão. E que cotinua viciada em lugar-comum.
O problema é que as senhas são necessárias. Todo mundo é forçado a usá-las para entrar em contas de banco, redes sociais e sites.
No entanto, assim como não existe o crime perfeito, não há senha perfeita. Os hackers possuem programas de decifração poderosos. Eles sempre arrumam uma forma de descobri-la, por mais complexa que possa parecer.
Se senhas deixaram de ser secretas, deixaram de ser propriamente senhas. Não ocultam segredos nem protegem ninguém.
Outras colunas de Luís Antônio Giron
O ano do pornô domésticoPor que O Hobbit é católico
A morte antecipada de Niemeyer
Viva a preguiça intensamente
Cutucadas eróticas
A novela que mudou o espectador
Um caso exemplar é contato na reportagem “Hacked” (hackeado, ou invadido), publicada na edição de dezembro da revista Wired, o jornalista Matt Honan narra em dtealhe como os piratas digitais descobriram suas diversas senhas – algumas com mais de dez dígitos e misturando caracteres alfanuméricos -, entraram no sua conta bancária, sacaram dinheiro e, não contentes com isso, ainda entraram na sua conta do Twitter para enviar mensagens racistas.
Segundo Honan, as senhas deixaram de ter utilidade na internet, pois são inócuas e facilmente decifráveis. “É tempo de tentar alguma coisa nova”, afirma. Ele defende novas formas de criptografia com uma segunda confirmação de dados, como faz o Google, evitando a ação direta dos piratas. Ele acha que somente os mais fortes sobreviverão ao “apocalipse da senha”. Como? Honan não avança nas soluções.
Assim, os crédulos que se cuidem. O antigo paraíso se transformou em inferno. Enquanto os desenvolvedores tentam encontrar novos programas de criptografias para substituir as velhas senhas, o melhor é evitar se expor demais e navegar com mais cuidado pela internet. Esqueça as senhas - ou pelo menos, senhas com a palavra “senha”.
01 de janeiro de 2013
Luís Antônio Giron
Nenhum comentário:
Postar um comentário