"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

UMA GRANDE E ASSUSTADORA INTERROGAÇÃO

O crescimento econômico do Brasil deve ganhar impulso, atingir 3,4% neste ano e cerca de 4% em 2014 e 2015, segundo as novas contas do Banco Mundial divulgadas ontem. A expansão no ano passado foi estimada em 0,9%, número muito próximo da maior parte dos cálculos correntes no País. A produção global também deve acelerar-se, puxada pelos emergentes, mas o ritmo ainda será muito contido: 2,4% em 2013 e pouco mais de 3% nos dois anos seguintes. Mesmo essas projeções, nada espetaculares, estão sujeitas a condições ainda incertas, como a continuidade da recuperação americana e a superação dos riscos mais graves na zona do euro. A evolução da China, com provável declínio da taxa de investimento nos próximos anos, poderá afetar principalmente os países emergentes e em desenvolvimento, fornecedores de matérias-primas para a indústria chinesa. Isso inclui o Brasil, hoje muito dependente do mercado chinês, e boa parte dos latino-americanos.
A nova edição de Perspectivas Econômicas Globais, com a atualização das estimativas do Banco Mundial, é parte de uma safra de projeções periodicamente publicadas por instituições multilaterais. Na próxima semana o Fundo Monetário Internacional (FMI) deverá divulgar mais uma revisão dos números de seu Panorama Econômico Mundial.
As projeções têm sido elaboradas com ressalvas muito importantes, principalmente por causa da insegurança na União Europeia e de riscos como o do abismo fiscal nos Estados Unidos. O perigo de um desastre na economia americana foi temporariamente afastado, mas o presidente Barack Obama ainda precisa negociar medidas importantes, como a elevação, mais uma vez, do teto da dívida federal.
As perspectivas do Banco Mundial indicam mais um ano de recessão na zona do euro, com redução de 0,1% do produto bruto regional. Para a economia americana foi previsto crescimento de 1,9%, pouco menor que o de 2012 (2,2%), mas com tendência de aceleração nos dois anos seguintes. A continuidade da recuperação dependerá, em todo o mundo, da consolidação das contas públicas e, em alguns casos, de reformas politicamente difíceis nas áreas trabalhista e previdenciária.
A recomendação de empenho nas reformas é dirigida também aos países emergentes e em desenvolvimento. De modo geral, esses países conseguiram sair rapidamente da crise de 2008-2009, mas agora precisam elevar seu potencial de crescimento. No caso do Brasil, a aceleração em 2013 deverá ser favorecida, segundo o Banco Mundial, pelos estímulos fiscais e monetários adotados nos últimos dois anos. Os efeitos dessas medidas, segundo a análise, se manifestaram apenas parcialmente até agora e continuarão a surgir nos próximos meses. Esse argumento tem sido usado especialmente por dirigentes do Banco Central (BC).
A médio prazo, no entanto, a continuidade do crescimento dependerá de ações de maior alcance, segundo reconhecem os autores do Panorama. "Esforços do governo para elevar a eficiência da economia por meio da redução do Custo Brasil (altos custos de insumos e de tributos, burocracia pesada e infraestrutura inadequada) devem sustentar o produto potencial no médio prazo, apesar do menor crescimento da força de trabalho", segundo o documento.
Os economistas do banco são bem informados sobre alguns dos grandes problemas estruturais do Brasil. Mas talvez sejam um tanto otimistas quanto à execução das políticas para aumento da produtividade nacional e do potencial de crescimento.
O governo apenas começou a tocar em alguns daqueles problemas. As concessões e parcerias para a execução de obras no setor de transportes ainda são uma promessa e um bom tempo ainda poderá decorrer até a assinatura dos contratos. A renovação de concessões no setor elétrico inclui a curto prazo a redução de tarifas, mas nada garante, por enquanto, a realização, num prazo razoável dos investimentos necessários. As mudanças tributárias continuam limitadas e as mais ambiciosas são ainda remendos.
No Brasil, o médio prazo permanece uma grande e assustadora interrogação.
17 de janeiro de 2013
Editorial do Estadão

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