Excelente a entrevista que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, concede a Otávio Cabral na VEJA desta semana.
Alckmin vai ao ponto: os tempos andam um tanto favoráveis a governantes omissos, desde que eles reproduzam a cartilha do politicamente correto.
Quem paga o pato são os pobres e os que mais precisam da ação do estado, eis a verdade.
Abaixo, reproduzo alguns trechos da entrevista, que tratam do programa de combate ao crack em São Paulo, da descriminação da maconha e da onda de violência em São Paulo no fim do ano passado.
Leia a íntegra na edição impressa da revista.
*** *** ***
Geraldo Alckmin é um homem fiel a suas origens. Em duas horas de entrevista no Palácio dos Bandeirantes, fez diversas referências à sabedoria da política no interior do estado. Citou o prefeito de Indaiatuba, para quem prender ladrões “é como pescar lambari. Ele invocou a etiqueta de chamar as pessoas como elas querem ser chamadas, aprendida em Pindamonhangaba, sua cidade natal, para explicar por que diz “presidenta” Duma. Sob o jeito pacato, no entanto, esconde-se um administrador decidido e sem medo de críticas. Alckmin respondeu aos que discordam de seu programa de internação compulsória de viciados em crack e anunciou que a bancada do PSDB submeterá ao Congresso um projeto que endurece as penas para menores infratores.
VEJA – O senhor lançou em janeiro um projeto que prevê a internação compulsória de dependentes de crack. Isso provocou reações da oposição e de algumas organizações, que alegaram que ele desrespeita os direitos individuais dos dependentes. Passado um mês do inicio do programa. O senhor acha que acertou?
ALCKMIN - Sem dúvida. As críticas que recebemos se baseiam na ideia de que não se deve fazer nada com os dependentes a não ser que eles procurem ajuda. Trata-se de uma atitude muito cômoda e prejudicial ao viciado e à sociedade. E a lógica perversa da omissão. Ela se vale de uma total inversão de valores em que sai ganhando não o governante que faz. mas o que deixa de fazer. Se não combate o crime, não é acusado de encher as cadeias. Se não reprime o consumo de crack, não é acusado de truculência. Se não interna dependentes químicos, não é acusado de desrespeitar direitos individuais. É assim que o inoperante, o omisso se livra de críticas. Eu não me deixo paralisar pela lógica perversa da omissão. Prefiro agir e ser criticado a me omitir e não enfrentar o problema. Sei que as mães e os pais dos dependentes se sentiram atendidos. Ouço o clamor dessas mães e também o dos pais e até o de filhos desses dependentes. Vejam o caso da jovem que dopou o pai para levá-lo à internação. Não temos o direito de ignorar essa tragédia. Vou enfrentar quaisquer críticas, mas, repito, não vou me omitir.
Parte dos seus críticos sustenta que a política de redução de danos seria mais adequada. Eles estão errados?
Sim, claro. A política de redução de danos simplesmente não funciona com os viciados em crack. Os danos que essa droga provoca são devastadores. O tamanho e a intensidade do problema não permitem que esperemos mais. Hoje, o crack é uma questão gravíssima de saúde pública e também de segurança: em todas as capitais há cracolândias e 90% das cidades têm viciados, em sua maioria jovens vindos de famílias mais pobres. O programa que lançamos criou um centro que agora fica aberto 24 horas por dia, sete dias por semana, com médicos, psicólogos e assistentes sociais. E, pela primeira vez. há a presença de juízes, promotores e defensores públicos. A decisão judicial sobre a internação sai na hora, mesmo que o dependente não queira.
Qual é a sua opinião sobre a descriminalização da maconha, bandeira do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso?
FHC é um grande homem, um grande político, um grande intelectual e revela um senso de atualidade ao abordar o tema. Mas. nesse particular, discordamos. Penso o contrário disso. Como podemos descriminalizar a maconha se nem conseguimos impedir que o álcool seja vendido a menores? Acho que a prioridade é outra. O Brasil tornou-se o principal consumidor de crack do mundo. E o segundo de cocaína. Isso é um descalabro.
Foram mortos mais de 100 policiais em São Paulo em 2012. Qual é a responsabilidade de seu governo?
Nessa questão da violência, mais uma vez, o governo é criticado não por deixar de agir, mas por ter agido e reduzido significativamente os índices de criminalidade. No fim da década de 90, o estado de São Paulo tinha 14000 homicídios por ano, o que dava uma média de mais de 35 mortes por 100.000 habitantes — era o quarto estado mais violento do país. Treze anos depois, o número foi reduzido para 4 500 mortes, ou seja, onze assassinatos por 100000 habitantes. O Brasil tem 22.6 homicídios por 100000 habitantes. Isso é mais do que o dobro de São Paulo. Saímos da posição de quarto estado com maior índice de homicídios para o 25° lugar. O que ocorreu foi que, no segundo semestre de 2012, houve uma reação do crime organizado à ação dura da polícia, principalmente no combate ao tráfico. O bandido, ao matar policial e incendiar ônibus, quer desviar o foco para poder traficar em paz.
16 de fevereiro de 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário