Siqueira Campos escapou do massacre de Copacabana, morreu num desastre de avião. Borges de Medeiros não se interessa em ser presidente, governou o Rio Grande por 25 anos.
Muita coisa não se guarda na memória nem se obtém com pesquisa. Exemplo: quem fotografou os heróis do primeiro 5 de julho, o de 1922. Já falaram dois nomes, não se tem certeza.
Também ninguém cita o capitão Euclides da Fonseca, comandante do Forte de Copacabana, filho do general-presidente Hermes da Fonseca. Que ficou detido no Quartel General, enquanto os companheiros cumpriam o combinado.
Não foi Siqueira Campos quem estimulou a revolta, e sim os 17, 48 horas antes de Euclides ser detido. Formaram os oficiais, Euclides falou: “Vamos enfrentar o governo, ninguém é obrigado, pode ir para casa”.
Em 1930, Siqueira Campos, (junto com João Alberto, os dois da Coluna Prestes) foi ao Uruguai convidar Prestes para chefiar a Revolução de 30. Prestes disse que aceitaria se “a Revolução fosse comunista”.
Os dois vieram embora, o avião caiu em frente a Montevideu. João Alberto não sabia nadar, se agarrou na asa do avião, foi salvo. Siqueira Campos, campeão de natação do Exército, morreu aos 30 anos de idade. O avião era um Latecoere da Condor, muitos anos mais tarde, Cruzeiro do Sul.
“CONTESTAÇÃO” CONTESTADA
Você é engraçadíssimo, Montalvão. Mesmo na Tribuna impressa, quando chegavam suas cartas, eram momentos hilariantes. Como agora. Você quer, pela força de sua pressão, que para participar do Tratado de Versalhes de 11 de novembro de 1918, Rui ou Epitácio não fossem convidados por Rodrigues Alves, presidente eleito,e sim por Artur Bernardes. Há!Há!Há!
Artur Bernardes só entraria em cena, eleito presidente, em 1º de março de 1922, 4 anos depois. E você finalmente tem razão. Bernardes tomaria posse em 15 de novembro, mas de 1922, 4 anos depois de tudo que estamos revendo.
Rodrigues Alves, que não assumiria nunca, morreu em janeiro de 1919. Quem poderia ficar no lugar dele seria Delfim Moreira, que sofria do que se chamava na época “faculdades mentais”. A doença dos dois permitiu a eleição de Epitácio.
E antes disso, os 11 meses da “regência Mello Franco”, como está na História e já contei. Em vez do Google, Montalvão, com toda a generosidade, você devia ler este repórter.
RUI NÃO FOI SENADOR EM 1921
Montalvão, desculpe, mas Rui não morreu senador. E por que ele renunciaria a um mandato (que não tinha) em março de 1921, para se eleger novamente em junho do mesmo 1921? Além do mais, acredite: no Império ou na República, nunca, MAS NUNCA MESMO, houve eleição de senador em ANO ÍMPAR.
No Império, os senadores eram 2, vitalícios, nomeados pelo Imperador. Na República, a primeira eleição direta foi em 15 de novembro de 1890, ano PAR, como você sabe há muito tempo.
Em 1896, Rui seria reeleito, mas antes se exilou (primeiro na Argentina, depois em Londres) por causa de um rompimento com o Marechal Floriano, que assumiu a Presidência rasgando a Constituição.
E sabe por que não havia eleição em ano ÍMPAR? Porque todos os mandatos eram PARES. Excetuado o presidente da República, governadores, senadores, deputados federais e estaduais, precisavam do “referendo”.
Em 1896, Rui foi reeleito senador. Manuel Vitorino, baiano, vice-presidente de Prudente de Moraes, e J. J. Seabra, senador, queriam vetar Rui Barbosa.
O governador Luiz Viana, grande figura, nada a ver com o filho ou o neto, mais tarde também “governadores” (as aspas são indispensáveis), chamou o vice e o senador, repreendeu os dois: “Vocês estão malucos? Querem vetar um senador que é chamado de o maior brasileiro vivo?”. Recuaram, Rui foi empossado,
PINHEIRO MACHADO
Fica valendo que eu disse: “fazia” presidentes, mas jamais conseguiu “fazer” a si mesmo. Na primeira eleição para senador em 1890, Pinheiro Machado não se elegeu. Só chegou à capital, ao Distrito Federal, à Corte, em 1894, quando foi eleito o primeiro presidente civil, Prudente de Moraes.
Quanto a Borges de Medeiros, nada a contestar. Foi poderoso mesmo, governou o tempo que lhe interessava.
EM 1914, QUASE TODOS ERAM “REFORMISTAS”, MENOS RUI
Borges de Medeiros foi governador do Rio Grande do Sul de 1898 a 1908, 10 anos seguidos, num estado que tinha grandes lideranças que passaram à História. Quando Rui fez seu discurso violento contra Pinheiro machado, em 1914, renunciando à segunda candidatura, Borges de Medeiros era governador, não precisando de ninguém, nem queria ser presidente.
Quando Pinheiro machado foi assassinado em 1915, Borges continua governador, seu objetivo era o estado, que considerava mais importante do que qualquer coisa. Deixou o governo em 1915, foi eleito novamente em 1916, e aí bateu todos os recordes ficando até 1928, 12 anos seguidos. Por que estaria interessado em simples mudança numa Constituição?
Rui não admitia mudança, por convicção. Proclamava: “Por que mudar uma Constituição que só tem 23 anos?”. (1891/1914). Morreu com 97 anos, sem cargo, mas como presidente de honra da seção gaúcha da UDN, baluarte da derrubada da ditadura.
Meu grande amigo Helio Silva, que escreveu mais de 20 livros, com o título “A República não esperou o amanhecer”, deixou gravado: “Antes de escrever a História do Brasil, é preciso escrever a História do Rio Grande do Sul”. E confessava: “Principalmente por causa do Borges de Medeiros”.
Você, Montalvão, é mal informado, indelicado, grosseiro mesmo. A respeito do discurso de Rui em 1914, renunciando à candidatura presidencial, você diz, como se fosse o arauto de tudo: “Não existiu”. Eu nunca desminto ninguém, nem mesmo você, que pretendia que Bernardes (em 1922) convidasse Rui ou Epitácio (em 1918), anos antes de ser presidente.
O AUTOR DA FOTO DOS 18 DO FORTE
Confessei que esqueci o nome do autor da ótima foto dos 18 do Forte. Como eu sabia o nome do autor, e não sei mais, esqueci. Aqui mesmo, dois comentaristas deram nomes diferentes ao fotógrafo dos jovens tenentes.
Devem estar convencidos de que tinham razão. Podem até descobrir quem foi o autor da foto, mas ser grosseiro com que queria contribuir para o debate sem grosseira?
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PS – Em toda a História da República, só três presidentes foram eleitos diretamente, em ANOS ÍMPARES. Na República Velha, ninguém. Todos os outros cargos, sempre preenchidos em anos PARES. Desculpe.
PS2 – Muitas ditaduras, no fim de uma delas, em 1945, o marechal Dutra. Em 1946, a Constituinte aumentou o mandato presidencial para 5 anos, o primeiro ÍMPAR a partir daí, foi JK. Jango foi vice que tomou posse depois do “malabarismo” de Janio.
PS3 – Em 1994, FHC acreditava na vitoria de Lula, reduziu o mandato para 4 anos, acabou com a eleição em ano ÍMPAR.
16 de fevereiro de 2013
Helio Fernandes
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