"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 16 de fevereiro de 2013

NÃO SÃO SONHÁTICOS. SÃO CÍNICOS!

Hoje Marina Silva funda " o partido da Marina" que, no entanto, não será chamado de partido, porque pretende não ter dono, mesmo que a dona, a deusa, a divindade reverenciada seja Marina Silva.
É em torno dela que velhos políticos profissionais se reúnem para praticar uma nova política: Walter Feldman, Alfredo Sirkis, Heloísa Helena e a própria Marina Silva militam na política tradicional há mais de duas décadas. Não. Não são sonháticos. São cínicos!
Marina Silva diz que não aceitará doações de empresas de bebidas, cigarros, agrotóxicos, mas nasce patrocinada pelo Banco Itaú. A Itausa, holding do banco, atua em celulose, petroquímica e outras áreas altamente poluidoras. Além de representar um segmento que obtém lucros escorchantes em cima da população. Na foto, Marina Silva aparece na mansão de Neca Setúbal, dona de 3,5% da Itausa, uma fortuna em torno de R$ 5 bilhões. É a nova política. Abaixo, editorial da Folha de São Paulo.
Após conseguir perto de 20 milhões de votos nas eleições presidenciais de 2010, sem eximir-se de alguma identidade ideológica, a ex-senadora Marina Silva -que escreve uma coluna semanal para esta Folha- detém capital político suficiente para se aventurar na construção de um novo partido.Mais que isso, haveria algo de incompleto no espectro partidário brasileiro sem uma legenda capaz de representar as ideias e organizações que seu nome mobiliza.
Em tese, o lugar estaria reservado ao PV (Partido Verde), que, entretanto, terminou como legenda de aluguel de luxo na campanha de 2010. Logo se deu o choque entre líderes da sigla e o poder pessoal da candidata que acolheram. Depois de muitos anos filiada ao PT, dessa passagem meteórica pelo PV e de alguma aproximação com o PPS, Marina Silva lança agora uma nova agremiação, provisoriamente chamada de Rede Pró-Partido (o nome será definido hoje, num encontro em Brasília).
Pelo benefício de um mínimo de estabilidade e clareza para o eleitor, é de esperar que a ex-senadora finalmente encontre uma plataforma sólida para suas aspirações. A agremiação já surge com suas ambiguidades e contradições. Seria, em tese, o ponto de encontro dos que defendem uma visão mais contemporânea do desenvolvimento, atenta para a necessidade de que ele seja sustentável e para a assimilação de comunidades autônomas, hoje marginalizadas, no processo de criação de riqueza.
Ou seja, algo bastante diferente do modelo varguista que, grosso modo, persiste no presente governo federal: grandes obras de infraestrutura, algumas problemáticas do ponto de vista ambiental, aliadas ao paternalismo redistributivo para com populações mais pobres.
A "modernidade", ou "pós-modernidade", de Marina Silva contrasta, todavia, com outras circunstâncias. Em primeiro lugar, seu partido não deixa de surgir como instrumento de uma liderança pessoal, mais do que pela confluência de movimentos descentralizados e capazes de emitir luz própria.
Tanto é assim que já se notam dificuldades na atração de outros nomes representativos, como Eduardo Suplicy ou Heloísa Helena, para o partido "de" Marina. A preposição até agora faz sentido: a ex-senadora, mesmo em razão de seus inegáveis méritos, surge como espécie de "dona" da agremiação.
Diferentemente do PSD "de" Gilberto Kassab, que obteve sucesso instantâneo em arregimentar parlamentares disponíveis a um projeto confessamente sem ideologia, a sigla de Marina há de nascer pequena, sob a égide de um nome reconhecidamente forte nas urnas. Não é a melhor receita para um partido político, mas é uma força nova, que certamente enriquece o debate e amplia o leque das escolhas sérias à disposição do eleitor.
 
16 de fevereiro de 2013
in coroneLeaks

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