"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

E NO DE(S)CÊNIO DOS PETRALHAS FARSANTES E FALSÁRIOS

            Petrobrás perde brilho e cai mais do que outras blue chips na Bolsa


O fraco resultado apresentado pela Petrobrás no ano passado, divulgado no início de fevereiro, aliado aos conhecidos problemas da empresa - como o alto endividamento e o prejuízo nas vendas de gasolina -, pressionou ainda mais as ações da companhia.
As ações agora têm um dos piores desempenhos dentro dos papéis que compõem o Ibovespa.
Em 12 meses, até 14 de fevereiro, as ações ordinárias (ON, com direito a voto) tiveram desempenho inferior a 83% das ações do Índice. Ou seja, das 69 ações do Ibovespa, 57 apresentam alta ou quedas inferiores à Petrobrás ON. No caso da preferencial (PN), há perda para 78% dos papeis (ou 54 ações), segundo dados da Economática.
Nesse período, o Ibovespa também teve queda significativa, de 10,7%, mas ainda assim inferior à baixa apresentada pela Petrobrás: a ON caiu 43,7% e a PN, 30,9%. "Na verdade, a empresa sofre mais neste momento porque não é um problema relacionado somente à crise econômica mundial. Começou antes, ainda em 2008, quando ela apresentava lucros recordes.
Algumas sementes da crise foram implantadas na companhia e ninguém percebeu ou falou nada", avalia o analista e diretor da Infopro (Brasil Instituto de Formação Profissional), Richard Rytenband.
Entre os problemas levantados pelo mercado está o fato de a companhia ter baixa capacidade de refinar petróleo. A explosão de consumo de automóveis nos últimos anos, que poderia ser encarado como um evento positivo, acabou se tornando um entrave. A maior demanda por gasolina fez com que a empresa passasse a importar cada vez mais combustíveis.
Os preços internacionais subiram e, para controlar a inflação, o governo, como maior acionista da empresa, não permitiu que a Petrobrás repassasse para as bombas do Brasil a alta de preços no mercado externo.
A defasagem faz a companhia ter prejuízos constantes na refinaria.
Além disso, a descoberta do pré-sal exigiu mais investimentos. Existem três formas de captar mais recursos: utilizar os recursos dos lucros, os quais não foram conquistados pela empresa; lançar mais ações, como a empresa fez em 2010; e emitir títulos de dívida, que foi a última solução que a companhia tem aplicado.
Isso aumentou o endividamento da empresa, comprometendo os recentes resultados. A desvalorização do real agravou a situação na medida em que a maior parte da dívida é emitida em dólar.
 
Investidor Estrangeiro
 
"A queda talvez fosse ainda pior se a Petrobrás não estivesse no Ibovespa e no IBrX", diz o professor de finanças da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), Mário Amigo. O fato de a empresa estar nessas listagens faz com que muitos fundos de investimento e de previdência privada comprem suas ações, já que eles têm de seguir de perto o desempenho dos índices.
Se a a queda aqui na BM&FBovespa já é grande, na Bolsa de Nova York ela atinge variações ainda maiores. As ADRs ordinárias (títulos representativos das ações da Petrobrás) caem 43,7% na Nyse em 12 meses, enquanto as preferenciais recuam 30,9%.
Parte da diferença entre a desvalorização na Nyse e na BM&FBovespa pode ser explicada pelo efeito cambial, mas também influencia o fato de a Bolsa de Nova York ter muito mais ações do que a paulistana.
"A Petrobrás é uma empresa internacional. Faz parte de vários índices lá fora, como de emergentes e de produtores de petróleo. Isso a torna suas ações dependentes da demanda internacional. Atualmente a empresa não é atrativa em valor relativo aos concorrentes e não maximiza lucros. Um investidor estrangeiro que quer uma posição em petróleo tem opções como Exxon Mobil, Chevron e Ecopetrol", analisa o estrategista chefe da Icap Brasil, Gabriel Gersztein.
As infinitas opções de empresas no mercado externo fazem a blue chip brasileira perder ainda mais o brilho.
Segundo ele, a empresa atualmente possui muitas reservas de petróleo, mas o que o mercado busca é resultado, principalmente porque em 2010 depositou confiança na companhia. "Investiram R$ 120 bilhões no aumento de capital da empresa e até agora não houve retorno", lembra. Na ocasião do lançamento de ações, 20% da demanda foi estrangeira.
 
Perspectiva
 
A alta inferência do governo na empresa incomoda nas projeções. "Os passos da Petrobrás estão vinculados a interesses do governo, o que acaba pesando muito nas ações. O investidor estrangeiro é avesso a empresas com essa forte atuação estatal", avalia Amigo.
"Vira uma caixinha de surpresas. Seria indicado minimizar a exposição da carteira nesses setores com risco difícil de mensurar, é difícil calcular qual seria o preço justo", diz Amigo.
"Não tem atratividade nenhuma. Há reservas, mas não há lucro. Não vejo algum rally para as ações porque a credibilidade dela está afetada no mercado externo, algo que é demorado para se construir e fácil de destruir", diz Gersztein.
"O governo não é parte da solução, mas parte do problema. Tem optado por perder essa credibilidade em troca de segurar o preço da gasolina e a inflação", afirma.
(...)
 
Yolanda Fordelone, do Economia & Negócios
21 de fevereiro de 2013

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