Nesta quinta-feira (12/08) foram realizados os debates para os candidatos aos governos estaduais. Acompanhando pela Rede Bandeirantes os candidatos do meu estado, o Rio de Janeiro, novamente me deparei com uma daquelas situações que assustam (mais do que intrigam) e servem muito bem para ilustrar como a classe política brasileira conta com a alienação e o descaso da maioria da população para “vender o seu peixe” da forma mais descarada e fantasiosa possível.
Ao mesmo tempo, logo após o debate, mudei o canal para a TV Globo e assisti a um programa interessante e emocionante – intitulado “Brasileiros” – que discorria sobre formas de geração de renda e melhoria das condições de vida de pessoas muito pobres de nosso país.
Talvez você estranhe a junção de temas que esse artigo pretende fazer. Mas, se analisarmos a realidade de nosso país, poderemos compreender que o debate – e o discurso dos políticos – e a vitória de um cidadão sobre a miséria extrema que lhe roubava a dignidade; têm uma ligação realista e significativa que, muitas vezes, é ignorada pelo eleitor.
O debate mostrou, mais uma vez, que o político brasileiro não tem compromisso com a realidade e prefere fantasiar um mundo ideal para enganar o eleitor desatento. Um exemplo bem claro disso foi o candidato Sérgio Cabral.
Líder das pesquisas e apoiado de perto por Lula, a quem já chamou de desonesto, Sérgio Cabral citou sua “atuação” no governo do estado e suas “realizações”. Ao mesmo tempo, prometeu “o mundo” aos eleitores e procurou a todo custo desvincular sua imagem do casal Garotinho – de quem disse “nunca ter sido vinculado”.
Ora! Quem acompanha a política sabe que Sérgio Cabral apoiou e carregou no colo o casal Garotinho, quando foi presidente da ALERJ e também se elegeu sob a égide do Casal para o senado.
Aliás, quem costuma acompanhar esses fatos, sabe que Cabral foi considerado o mais ausente senador da sua legislatura e, como presidente da ALERJ, sempre foi um omisso crônico.
Colocado contra a parede por Gabeira, em relação a um decreto assinado por ele e que acabava com áreas de preservação ambiental na região da Baia da Ilha Grande – modificado após a tragédia do fim de ano – Sérgio Cabral negou a existência do decreto.
O que é incrível, pois o decreto existiu e foi publicado no Diário Oficial; sendo alvo de críticas dos ambientalistas e de outros políticos que o julgaram favorável demais a empresários ligados à campanha de Cabral. O restante do discurso de Cabral foi um recitar de promessas, de frases decoradas – “(…) com o apoio do presidente Lula (…)” – e inúmeros projetos mirabolantes que resolverão todos os problemas do Estado que ele sequer conseguiu “arranhar” durante toda a sua gestão.
O candidato Fernando Peregrino não trouxe propostas. Trouxe a frase: “Exatamente como Garotinho e Rosinha”. A cada pergunta, a cada manifestação e a cada intervenção; Fernando Peregrino tinha que falar sua frase de ligação com o casal que o apóia e que foi impedido de candidatar-se por ter sido condenado por irregularidades.
Ou seja, para alguém que promete transparência e “mãos limpas”, citar a todo instante que vai governar exatamente como dois outros governadores acusados de crimes dos mais diversos e já condenados pela justiça é um pouco “surreal”.
Jefferson Moura do PSOL não mostrou diferença em relação ao discurso do candidato de seu partido à presidência. Sem propostas plausíveis, preocupado em atacar Fernando Gabeira a todo instante, acusando-o de “traidor do socialismo” e de “ex-Gabeira”; Jefferson mostrou que a solução para o PSOL é acordar da Guerra Fria e vislumbrar que o mundo mudou.
A esquerda radical deve compreender, de uma vez por todas, que a URSS e seu modelo de governo foram testados e fracassaram; que o socialismo utópico é apenas isso, uma utopia e que o brasileiro quer ter propriedade privada, quer ser rico, quer comprar quinquilharias das quais não precisa e ao engole mais esse discurso do proletariado oprimido.
Até porque o PT, dono inicial dessa bandeira, chegou ao poder e os únicos proletários que foram “desoprimidos” foram eles e suas famílias. Afinal, exatamente como aconteceu na URSS, acontece em Cuba e acontece na Coréia do Norte; o socialismo só conseguiu socializar a miséria e tornar ricos os dirigentes daqueles países e os altos membros do partido.
Fernando Gabeira luta para expor propostas, mas esbarra no caráter manso, na cortesia exagerada e na pobreza de recursos financeiros e didáticos para “falar” ao “grande público”. Além disso, a aliança com César Maia equivale ao “beijo da morte” de uma aliança com o Casal Garotinho. Ambos são odiados na capital e têm muito que explicar em relação as suas atuações à frente do executivo carioca e fluminense.
Mas, o que tudo isso tem a ver com o programa da Rede Globo Arthurius?
Se você se perguntou isso, vai entender rapidamente quando eu relatar que o programa tratava de formas criadas por pessoas comuns para criar fontes de renda e empregabilidade em cidades pobres e sem quaisquer perspectivas de renda no interior do Brasil. Se notou alguma semelhança com o programa Bolsa Família do governo federal; quase acertou.
A diferença básica – e fundamental – é que as iniciativas mostradas não partem de políticos. Elas foram pensadas e implementadas por pessoas comuns que não aspiram cargos políticos e por entidades internacionais que resolveram apoiar essas iniciativas.
Logo, não são voltadas para a criação de massas parasíticas e dependentes que se deixam manipular para que permaneçam recebendo as esmolas que lhes caem à mesa e preferem permanecer na escravidão eterna da miséria a libertarem-se e caminharem com os próprios pés.
Os projetos abordados tratavam de coisa muito simples: Dinheiro.
Mas, ao invés de buscarem concorrência com o Bolsa Família e simplesmente darem um dinheiro aos miseráveis que abundam nas cidades abandonadas do interior do país e que não conseguem oferecer oportunidades de renda e emprego para seus habitantes, os projetos tratavam os pobres locais como seres humanos plenos e pessoas capazes de gerirem suas vidas e fazem delas coisa melhor.
Assim, através de pequenos empréstimos – de R$ 300,00 até R$ 2.000,00 – e pesada assessoria e acompanhamento na aplicação desses recursos e na gestão de seus projetos, pessoas que nada tinham e viviam das esmolas governamentais passaram a gerar emprego e renda e melhoraram de vida rapidamente e de forma significativa.
Lavradores e retirantes, que mal sabiam ler e escrever, foram apoiados pelos projetos e hoje (alguns em pouco mais de seis meses) se tornaram micro empreendedores de sucesso e já reúnem boas condições de vida, orgulho por suas realizações e capacidade de andar com as próprias pernas.
Isso tudo mostra a realidade avassaladora de que, para melhorar o país e dar vida nova às populações carentes, não são necessários os mega programas que envolvem bilhões de reais e que devem ser mantidos eternamente.
A base fundamental do Bolsa Família – que foi abandonada logo no início do governo Lula – que era “ensinar a pescar” ao invés de “dar o peixe” – mostra-se verdadeira e a forma plena de libertar nosso povo da escravidão dos coronéis e da dependência eterna das esmolas federais.
Oferecer recursos pequenos, para projetos simples e de fácil execução, que visem à satisfação de necessidades locais e garantam a aplicação correta dos recursos empenhados e de oferecimento da educação financeira necessária e da capacitação mínima para esse pessoal é a chave do sucesso.
Os projetos mostrados no programa da Globo, muito longe de rivalizarem com o Bolsa Família, desbancam completamente a falácia do governo e dos políticos sobre a “libertação” que o programa oficial oferece.
Em oposição à esmola federal, esses modelos de programas permitem que as pessoas gerem sua própria renda e contribuam para o crescimento econômico da comunidade que as cerca. Isso cria um círculo positivo que acaba melhorando a vida de toda a sociedade local.
Elimina a figura da transitoriedade da bonança, a dependência do cacique eleitoral, a escravidão ao messias da vez e afastam da vida dessas pessoas e dessas comunidades os tão funestos coronéis.
Enquanto isso, o Bolsa Família é uma “maravilha” que pode jogar as famílias que o recebem imediatamente para o mesmo abismo de miséria e abandono do qual as fingiu tirar.
Basta o Tesouro Nacional passe por dificuldades – que já se anunciam – ou o país enfrente uma grave crise internacional (seria alguma novidade?) para que o benefício enfrentasse problemas e algumas (ou mesmo todas) famílias acabassem sendo excluídas temporária ou definitivamente do sistema.
Assim, como nada geraram de sustentável, essas famílias mergulhariam na mesma opressão e na mesma miséria de antes imediatamente.
O único inconveniente dos programas mostrados pela Globo – e que semeiam sucesso e felicidade sustentável por onde passam – é que os messias, os salvadores, os líderes e alguns frutos do mar que andam por aí perderiam a sua massa de manobra e seus eleitorado de cabresto.
A conclusão óbvia é que basta um pouco da realidade avassaladora de propostas isentas para jogar por terra o Brasil de fantasias que essa gente insiste em vender para o eleitor.
Mas, mesmo assim, fica bem claro que a maioria do eleitorado é incapaz de desvincular-se de ideologias, interesses e paixões menores para pensar no país como uma nação forte e poderosa com plena capacidade de libertar seu povo da miséria sem a necessidade de esmolas, paternalismos e outras medidas assistencialistas.
Assim como o eleitor carece dessa visão, os políticos também carecem da visão do estadista e refestelam-se na lama do poder, preocupando-se meramente em manter-se no poder a qualquer custo. Mesmo que para isso tenham que pisar nos sonhos e na dignidade de seu próprio povo.
E você leitor, o que pensa disso?
21 de fevereiro de 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário