Ao lançar extra oficialmente a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição, ontem, em São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva apontou a grande imprensa como principal adversário do PT nas eleições de 2014. Pela primeira vez, Dilma aderiu às críticas à imprensa.
Diante de cerca de mil militantes petistas, Lula verbalizou publicamente aquilo que era dito a boca pequena no PT desde a condenação pelo Supremo Tribunal Federal de líderes históricos como José Dirceu e José Genoino.
“Na ausência de partidos de oposição, um setor da imprensa faz oposição”, afirmou Lula nesta quarta-feira no evento que marcou os 10 anos do partido no governo federal.
Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Lula discursa na festa em que o PT comemorou os dez anos no poder
Ao longo de meia hora de discurso, Lula fez diversas críticas à imprensa e disparou comentários irônicos contra jornalistas. Cada menção à mídia era comemorada pela plateia aos gritos de “cadeia nacional para o PIG”.
O termo PIG, abreviação de Partido da Imprensa Golpista, foi cunhado pelo deputado Fernando Ferro (PT-CE) no auge das denúncias do mensalão.
Lula intercalou críticas à imprensa com a desqualificação dos partidos de oposição, em especial o PSDB, dizendo que os adversários não têm discurso nem proposta, estão inquietos, nervosos e desorientados.
O ex-presidente chegou a dizer que os partidos políticos (menos o PT) estão enfraquecidos, causando constrangimento entre os dirigentes de 10 legendas aliadas que prestigiaram o evento.
Enquanto Lula falava, petistas ofendiam jornalistas que cobriam o evento. Uma militante exaltada atravessou o salão do evento para hostilizar a colunista política de um canal de televisão.
Pouco antes a repórter Daniela Lima, da Folha de S. Paulo, foi agredida verbalmente e levou um chute de um militante petista. Assustados, alguns petistas pediam que os jornalistas evitassem provocações dos militantes mais exaltados.
O presidente do PT, Rui Falcão, disse que a regulação da mídia é uma tarefa “inadiável” do partido.
A presidente Dilma Rousseff, que até ontem se mostrava refratária às tentativas de controle da imprensa, pela primeira vez aderiu às críticas, embora em um tom bem mais leve do que o de Lula.
“Eu respeito e defendo o direito de expressão alheia mas não posso me calar diante disso”, afirmou Dilma, antes de fazer uma série de críticas à cobertura do programa Brasil Sem Miséria. "É preciso ter mais seriedade, mais responsabilidade no manejo de informações que repercutem na vida das pessoas", completou a presidente.
Ao ouvir o comentário da presidente, Falcão, um dos principais defensores do controle social da mídia, abriu um largo sorriso. Apesar da crítica, Dilma não incluiu a regulamentação da imprensa entre as prioridades de seu governo.
No dia 1º de janeiro, durante a posse do prefeito Fernando Haddad, Falcão afirmou que os verdadeiros adversários do PT estão fora dos partidos políticos e voltou a defender o controle dos meios de comunicação. O presidente do PT, no entanto, não nomeou a imprensa como adversária.
Questionado ontem sobre a fala de Lula, Falcão disse que o presidente se referia a uma declaração da superintendente da Folha de S. Paulo, Judith Brito, feita em 2010.
Em reuniões para diagnosticar os motivos que levaram à condenação de petistas no julgamento do mensalão, dirigentes apontaram a pressão da imprensa como principal motivo para o resultado do julgamento. Alguns dos manifestantes que pediam cadeia para jornalistas eram os mesmos que defendiam a inocência dos petistas condenados pelo Supremo.
Depois do evento, Rui Falcão lamentou as agressões contra jornalistas e disse que em momento algum a direção do PT estimulou as hostilidades. “Ao contrário, sempre fizemos questão de diferenciar os profissionais dos donos das empresas”, disse ele.
21 de fevereiro de 2013
, iG
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