Embora os juros
baixos sejam uma conquista política da presidenta Dilma Rousseff, dificilmente o
Banco Central terá como manter ao longo de 2013 a Selic em 7,25%, menor taxa do
País em todos os tempos. É o que sinaliza a ata do Copom (Comitê de Política
Monetária) divulgada na última quinta-feira, 14 de março, na qual o colegiado
elevou suas projeções de inflação e admitiu a possibilidade de que a pressão nos
preços não seja temporária.
Segundo a análise
contida no documento, os preços mostram resistência e podem acomodar-se em
patamar mais elevado. Há um trecho emblemático da ata: "O Copom avalia que a
maior dispersão recentemente observada de aumentos de preços ao consumidor,
pressões sazonais (em um determinado período) localizadas no segmento de
transportes, dentre outros fatores, contribuem para que a inflação mostre
resistência". Por isso, a autoridade monetária elevou as projeções de inflação
para 2013 e 2014, acima do centro da meta de 4,5% estipulada pelo
governo.
Nessa questão, há
vários fatores a serem considerados, a começar pela crise internacional e o
aumento mundial do preço dos alimentos, quebra de safras nos Estados Unidos e
outros fatores circunstanciais. Há, contudo, de se destacar o fato de estarmos
pagando por algo muito positivo: uma situação de quase pleno emprego, aumento
real da massa de salários e o vigoroso processo de inclusão social e ascensão
econômica verificado no Brasil desde 2003. Mais gente ganhando mais significa
crescimento do consumo, com pressões sobre a demanda, que precisa expandir-se na
mesma proporção.
Não é sem razão,
portanto, que tenho observado, em vários artigos, a necessidade de o País
remover obstáculos aos investimentos produtivos e ao estímulo do chamado
espírito animal dos empresários, como os altos impostos, burocracia exagerada,
insegurança jurídica e encargos sociais muito elevados, dentre outros problemas.
Criar melhores condições para o resgate da competitividade da indústria é
essencial para se estabelecer um círculo virtuoso a partir da bem-sucedida
inclusão e/ou elevação de 53 milhões de brasileiros na sociedade do consumo (“O
emergente dos emergentes”- CPS/BID).
Não há dúvida do
quanto é necessário e premente que os poderes Executivo e Legislativo federais
solucionem esses gargalos, fazendo as reformas tributária, previdenciária e
trabalhista, revendo leis que dificultam a rotina empresarial e
desburocratizando a Nação. Continuamos todos nós fazendo essas pertinentes
cobranças.
Por outro lado,
entretanto, não é justo negar os esforços do governo no enfrentamento da maior
crise mundial do capitalismo, estabelecendo no Brasil uma situação melhor do que
na maioria dos países. Nas condições adversas da economia global, não é tarefa
simples conciliar o crescimento do PIB com o controle da inflação, pois juros
baixos, maior liquidez e crédito, aumento do valor do Real na cesta cambial de
moeda, desonerações da folha de pagamentos, redução de tributos e estímulo ao
consumo conspiram a favor da majoração dos produtos na ponta do
consumo.
Por isso, ao
mesmo tempo em devemos cobrar ao governo algumas lições de casa, é preciso haver
respostas ao barateamento da energia elétrica, desoneração tributária da cesta
básica, linha branca, carros e construção civil. O Estado tem o dever de
controlar a inflação, mas isso não diminui a responsabilidade de todos no
processo!
23 de março de 2013
Antoninho Marmo Trevisan é o presidente da Trevisan Escola
de Negócios, membro do Conselho Superior do MBC (Movimento Brasil Competitivo) e
do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da
República).
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