Vendo a foto do senador Renan Calheiros no dia em que foi promulgada a PEC das Domésticas, achei que estava diante do mais bem acabado retrato do Brasil.
Não é uma linda cena? O bravo senador alagoano rodeado por empregadas felizes com a promulgação da PEC que é, vá lá, o marco civilizatório que nos transformará, vapt, vupt, na Europa, que Deus me perdoe.
Claro está que ninguém ia promulgar uma Lei Tsunami em nossas vidas sem ter preparado o país para isso, não é? Não me preocupo com o Planalto Central. Lá, não tenho dúvida, há boas creches em cada um de nossos ministérios, nos dois palácios do Congresso, no STF, na UNB e, obviamente, no Palácio do Planalto.
Mas a beleza da foto não sossegou meu coração: quais os municípios brasileiros, ricos ou pobres, que têm acompanhamento para gestantes, creches, escolas em tempo integral, transporte escolar?
Pensaram nos adolescentes, certamente. Todos sabem que não é só até os 11 anos que a criança precisa de um adulto por perto. Fico ansiosa porque não ouço falar em quadras de esporte, espaço para atividades culturais como dança, teatros, artes plásticas, para ocupar as longas tardes de nossos adolescentes.
E os nossos avozinhos? Todos naturalmente, com espaços privilegiados para conversar com seus pares, jogar cartas, fazer ginástica, dançar, ler; sempre não esquecendo que eles também precisam de transporte público, tal qual as crianças.
Porque, obviamente, além do cuidado com nossas domésticas, a PEC visa deixar os chefes e chefas de família livres de preocupação de modo a não interromper seu trabalho. Ninguém quer ver um casal decidir no palitinho quem vai trabalhar na rua e quem vai ficar em casa cuidando da família...
Não era o caso dos nossos jornais entrevistarem as domésticas de nossos grandes líderes? Ver como vivem as domésticas de Norte a Sul do país, sobretudo quando na terra natal de nossos congressistas? Para saciar nossa curiosidade e calar a boca dos incréus?
Ontem, 4 de abril, dois artigos chamaram minha atenção.
Cora Ronai, em O Globo de ontem, 04/04, com seu “Patroas e empregadas”, onde lá pelas tantas diz: “Não sei quantas vezes li, essa semana, que Acabou a escravidão!(...)Será? Eu daria uma olhada pelo campo e pelas fábricas clandestinas antes de fazer uma afirmação dessas”.
E “Trabalho doméstico em debate”, da autoria do dr. Marcos Cintra, professor titular e vice-presidente da Fundação Getúlio Vargas.
Recomendo. São imperdíveis.
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Prometo nunca mais me ausentar do Blog do Noblat, a não ser doente. E se a doença não me impedir de escrever, aqui estarei. Provei da ausência e não gostei, apesar de ter encontrado amigos adoráveis pelo caminho, caminho que não deixarei de trilhar. Mas sou cria do Blog do Noblat e este é o meu canto preferencial.
05 de abril de 2013
Maria Helena Rodrigues Rubinato
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