O Brasil não irá retornar à taxa de crescimento de 7%, 8%, afirmou hoje o economista Dani Rodrik, professor de Política Econômica Internacional da Universidade Harvard.
Segundo Rodrik, o ambiente global é muito diferente hoje e é hora de ser "cuidadoso". "Uma taxa de crescimento de 3% ou 4% para o Brasil é perfeitamente factível", disse Rodrik, que participou de seminário da revista Carta Capital.
Rodrik afirmou também que a fase de alto crescimento no mundo acabou. O Brasil, com instituições democráticas sólidas, é resiliente. "Mas o Brasil não deve ser excessivamente ambicioso, precisa ser cuidadoso, fiscalmente seguro para lidar com os choques externos que provavelmente virão", disse. "Toda vez que venho ao Brasil encontro um país mais normal, e, no atual contexto global, normal é um grande elogio."
Segundo o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto, Rodrik provavelmente está certo e "nunca mais vamos voltar a um crescimento de 7%, 8%". "Mas o Brasil não precisa mais de crescimento de 7%, porque a população está crescendo menos de 1%, então um crescimento de 4% é magnífico", disse Delfim.
Segundo o professor de Harvard, a era de crescimento robusto no mundo acabou. "Quase todos os casos de crescimento bastante acelerado, de 6% por uma década ou mais, foram baseados em períodos de rápida industrialização, inclusive no milagre brasileiro pré-crise da dívida e no leste asiático e China", disse Rodrik.
Trata-se de um modelo de absorção de mão de obra pouco qualificada em fabricas, que provoca um salto de produtividade. Mas esse modelo, segundo Rodrik, não existe mais.
Hoje em dia, diz o professor, a indústria mudou e exige muito mais capital e tecnologia - o que representam barreiras para que países em desenvolvimento consigam emular o salto de produtividade dos asiáticos.
Rodrik vislumbra um cenário global em que os países avançados crescem pouco (se é que crescem), há grande risco de uma desaceleração significativa da China, haverá alguma reversão da globalização.
"As condições desse período extraordinário de convergência das economias pobres com as ricas não vão mais se repetir. Tínhamos grande crescimento da China, altos preços de commodities e cenário global benigno", diz Rodrik. "Agora, há três crises prestes a acontecer: o aumento da desigualdade e do endividamento nos EUA, o desemprego e consequências sociais na União Europeia, e a trajetória insustentável de crescimento da China."
07 de maio de 2013
PATRÍCIA CAMPOS MELLO - Folha de São Paulo
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