"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 12 de maio de 2013

"FIGURINO ULTRAPASSADO"

Já há quem preveja 2,5% de aumento do PIB e reversão da curva cadente da dívida pública; Fazenda, contudo, repete otimismo desgastado
 
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, não se distingue por poupar otimismo. Para ele, a economia brasileira está em retomada, com inflação e contas públicas sob controle. Fica mantida sua projeção irreal de crescimento do PIB em 3,5%, neste ano, e 4,5% em 2014.
 
Os dados insistem em desmenti-lo. A indústria cresceu 0,8% no primeiro trimestre, um bom resultado. Mas a alta se concentrou nas vendas de caminhões e máquinas agrícolas -e, no primeiro caso, houve só a reversão do tombo de 2012.
 
Outros setores seguem paralisados. O aumento da participação de importados nas cadeias de produção persiste. Os dados preliminares de abril são fracos, especialmente o índice de confiança industrial da Fundação Getulio Vargas. Os empresários permanecem temerosos, ressabiados.
 
O consumo também perdeu fôlego. O surto inflacionário dos últimos seis meses, concentrado nos alimentos, corroeu a renda disponível. Os salários reais estão perto da estagnação. O emprego tem crescido pouco nos últimos meses.
 
É esperada uma melhora nos próximos tempos com a reversão da alta de alimentos, já em curso. A inflação acumulada em 12 meses, medida pelo IPCA, deve recuar de 6,49% em abril para 5,5% ou 6% até o final do ano.
 
Algum consumo adicional resultará disso, certamente, mas as dificuldades da indústria permanecerão. O problema é estrutural.
 
Já são frequentes projeções de crescimento do PIB abaixo de 3% neste ano, uma repetição das sucessivas revisões para baixo ao longo do ano passado.
 
O ministro Mantega também afirmou que a criação de postos de trabalho é tão ou mais importante que o PIB. É inegável, contudo, que o pífio desempenho brasileiro, confirmando-se como duradouro, cedo ou tarde acabará por afetar o nível de emprego.
 
Do lado das contas públicas, tampouco se encontram razões para otimismo. Há visível deterioração do endividamento público. É preocupante o fim do compromisso com a meta de superavit primário, que o governo ora se inclina a submeter ao crescimento da economia e não mais à evolução da dívida. Vários analistas já abandonam o prognóstico (que vinha de anos) de redução paulatina da dívida como proporção do PIB.
 
A verdade, que Mantega teima em obscurecer, é que os fundamentos da economia brasileira pioram.
 
Não se trata de catastrofismo. A questão é que o próprio avanço inegável das duas últimas décadas -e as mudanças do cenário mundial- trazem desafios novos para o país. E a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff só tem respostas velhas para eles.

12 de maio de 2013
Editorial da Folha

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