"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 21 de maio de 2013

TEATRI DO RESSENTIMENTO

“Na guerra só uma coisa é bonita: a Vitória; o resto é nojento e deplorável”

Quase meio século depois da queda do Presidente João Goulart, apeado do seu cargo pelo contragolpe de 1964, assistimos, na semana passada, ao início do desdobramento de uma nova e insidiosa GUERRA, agora patrocinada pelo ressentimento e a fúria dos vencidos de ontem e dos inconformados que hoje encontram-se no poder.

Através de intensa mobilização e apoio governamentais, operacionalizados pela atuação de uma estranha “COMISSÃO da VERDADE”, tentam incriminar agentes do Estado que, no passado, se opuseram às suas pretensões utópicas.

Os integrantes da referida Comissão a cada dia demonstram não possuírem a requerida isenção e a necessária imparcialidade para a apuração de fatos tão controversos. Na última semana, com ampla divulgação dos meios de comunicação, a nação teve oportunidade de assistir a trechos importantes de uma sessão pública, adredemente preparada, onde foi ouvido de forma teatralizada, o Coronel Reformado CARLOS ALBERTO BRILHANTE USTRA, que nos idos de 1971-1974 , chefiou o DOI-CODI sediado na cidade de São Paulo.

Os inquisidores mais pareciam promotores em acusação, ficando evidente que o objetivo era apontá-lo como insensível torturador, expondo-o à execração pública sem qualquer análise equilibrada. Por coincidência intrigante, a oitiva foi aberta ao público e à imprensa, não faltando à referida montagem, o depoimento suspeito de um ex-sargento do Exército que, como foi divulgado, integrava os quadros do DOI-CODI na mesma época.

Não faltou, também, a participação de um médico, parlamentar paulista que esteve preso naquele período. Esse cidadão, para espanto geral, é hoje, o Presidente da “Comissão da Verdade” instalada na cidade de São Paulo. Ambas, a nacional e a de São Paulo, estão confundindo POLÍTICA PARTIDÁRIA com HISTÓRIA; esta última, como sabemos, destina-se a elucidar e registrar a verdade de fatos passados, enquanto a primeira busca argumentos na tentativa de convencer eleitores para conquistar ou manter o poder. O que as duas estão fazendo é a manipulação da história com visíveis fins políticos. Quais resultados podemos esperar dessas “inusitadas e imparciais” Comissões?

O bom senso sugere que se efetivamente desejam apurar os lastimáveis acontecimentos daquele sombrio período, em respeito ao sagrado direito de familiares e amigos de todos aqueles que de uma forma ou de outra envolveram-se e foram mortos nos decantados, repetidos e orquestrados acontecimentos, o espírito dessa indigitada Comissão deveria ser o do equilíbrio, da conciliação e da concórdia, sendo integrada, se possível, por historiadores isentos, com perfil adequado para a apuração serena dos fatos.

Mas isso, desde o início não ocorreu. Um vício de origem desqualificou a seriedade dos trabalhos dessa espúria “Comissão da Verdade”, pois todos os seus membros foram e serão indicados e substituídos, se houver necessidade, pela Sra. Presidente da República que, todos sabem, esteve profundamente envolvida nos lastimáveis fatos ocorridos naquela quadra sombria da história de nosso país.

O nobre espírito de pacificação que norteou a engenharia política que resultou na LEI DA ANISTIA (que continua a ser contestada apesar de decisão do STF) e a postura Pacificadora e histórica do grande líder e patrono do Exército Nacional, o Duque de Caxias, deveriam pairar e servir de inspiração para os trabalhos de qualquer Comissão designada para esse duro mister. Mas o contrário vem acontecendo; diariamente, são retirados das coxias do revanchismo, unilateralmente, fatos e supostos crimes cometidos somente por um dos lados.

Mais triste, ainda, é a covarde arremetida sobre aqueles que, por dever de ofício, foram obrigados e expuseram suas vidas, para sufocar e terminar com a luta de insanos e radicais que professavam o credo marxista, muitos deles, hoje, estabelecidos em diferentes escaninhos do poder. Não fosse a atuação firme, corajosa e patriótica de inúmeros camaradas e agentes do estado e, hoje, poderíamos estar vivendo as incertezas e o longo sofrimento da vizinha Colômbia que, há mais de meio século, é infernizada pela atuação dos fanáticos guerrilheiros das FARC.

Não podendo colocar no Banco dos réus, instituições sérias como as Forças Armadas, as Polícias Federal, Estaduais e Militares, que tiveram atuação intensa e foram envolvidas nos combates, encontraram uma forma perversa de penalizar individualmente seus antigos membros. Esperam que dessa forma as feridas abertas sejam cicatrizadas e que haja colaboração daqueles que ainda serão ouvidos nessa ridícula pantomima.

O comportamento unilateral dos membros da Comissão tangencia a ironia e o sarcasmo e revela o que verdadeiramente desejam: antagonizar essas mesmas Instituições com a nação brasileira, com especial interesse sobre o relevante papel desempenhado pelo EXÉRCITO NACIONAL na erradicação daquela louca pretensão.

Em gabinetes confortáveis e acondicionados, escribas e intelectuais organicamente cooptados, escrevem “artigos tendenciosos cheios de argumentações falaciosas”. Quando lhes interessa, chegam, até, a citar em seus artigos a “Convenção de Genebra”, para lembrar que violências só podem ser cometidas por um dos lados. Se forem cometidas pelo outro, constituem-se em pecado mortal inaceitável, desconsiderando, inclusive, o duro e perigoso ofício dos que tiveram que combater militantes e terroristas fanáticos, que foram capazes de cometer crimes escabrosos, como mostram os exemplos a seguir: matando friamente um oficial estrangeiro (o Capitão CHANDLER), na frente de sua esposa e de seu filho, ainda um menino, com o frágil argumento que “justiçavam” um espião Yankee representante da burguesia capitalista exploradora e, em outra ocasião, esmigalhando a cabeça do jovem Tenente da Polícia Militar de São Paulo (Tenente MENDES), que no vale da Ribeira/ SP perseguia guerrilheiros em treinamento na região, depois de preso por eles. Não cabe aqui relatar outras insanidades.

Mas a moeda dos acontecimentos históricos tem sempre duas faces, e os velhos soldados, que viveram a realidade daqueles tempos, tiveram a ALEGRIA de ver que o Coronel USTRA, durante a teatral oitiva, não titubeou e mostrou-se digno, não se intimidando nem se dobrando às indagações que lhe foram dirigidas. Permaneceu fiel, também, aos princípios e valores diuturnamente aprendidos nos quartéis do nosso querido Exército e não renegou ou esqueceu os compromissos assumidos em seus sagrados juramentos perante o pavilhão nacional. Agiu com honra, dignidade, coragem e exação no cumprimento do dever quando, como no passado, recebeu a dura missão de combater fanáticos que desejavam implantar regime político estranho às nossas conhecidas tradições .

Na outra face da moeda, entretanto, o que se viu foi motivo de desconforto e de tristeza. Muito poucos companheiros estiveram presentes em Brasília, para dar ao Coronel USTRA o apoio imprescindível que ele mereceria ter recebido, durante a mencionada sessão. Como sói acontecer, foi melhor para muitos permanecerem na “Zona de Conforto”, esperando o que ocorrerá, na doce ilusão de que serão futuramente benevolentes . Quem viver verá!

Não é justo deixar nossos camaradas expostos à sanha demolidora e à fúria inesgotável das velhas e conhecidas Hienas por falta de Camaradagem. Elas continuam, como sempre estiveram, atentas às nossas fraquezas, com suas garras e dentes afiados; não nos perdoam pelos insucessos históricos do passado, quando tentaram empolgar o poder através da luta armada e foram vencidas.

Ouço com frequência de amigos e companheiros de armas a argumentação sobre a necessidade imperiosa de termos que aceitar determinadas posições governamentais, pois vivemos uma circunstância diferente, sinal característico de novos tempos. Eles sempre afirmam que “Conviver não é Concordar”. Não me oponho à afirmação e, até, entendo-a aceitando essa posição difícil, porém civilizada e construtiva. O que percebo, contudo, é que desde os “inesquecíveis tempos” do presidente Collor, temos “convivido muito e discordado muito pouco, ou quase nada”. O resultado palpável é a escalada de constrangimentos que estamos nos acostumando a assistir sem qualquer reação significativa.

As Forças Armadas, com especial relevância para o Exército Brasileiro, foram sempre seu grande obstáculo. O objetivo (velado), portanto, é procurar desmoralizá- las e afastá-las das mesas de decisão, sempre que isso for possível. Será que essa nova forma de GUERRA (mais suja que as demais) não está a merecer atenção mais acurada.

Encerro esse artigo, relembrando aos velhos camaradas um aspecto que nos distingue dos demais compatriotas: nossa querida e respeitada Instituição se sustenta em um triângulo virtuoso, de lados indeformáveis, igualmente importantes e resistentes: na hierarquia, na disciplina e na Camaradagem. Quando uma das partes se fragiliza, os estados anímico e afetivo da Instituição sofrem e se enfraquecem.

Não é fácil enxergar o óbvio!

21 de maio de 2013
Carlos Augusto Fernandes dos Santos é General Reformado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário