“Na guerra só uma coisa é bonita: a Vitória; o resto é nojento e deplorável”
21 de maio de 2013
Quase meio século depois da queda do Presidente João Goulart, apeado do seu cargo pelo contragolpe de 1964, assistimos, na semana passada, ao início do desdobramento de uma nova e insidiosa GUERRA, agora patrocinada pelo ressentimento e a fúria dos vencidos de ontem e dos inconformados que hoje encontram-se no poder.
Através de intensa mobilização e apoio governamentais, operacionalizados pela atuação de uma estranha “COMISSÃO da VERDADE”, tentam incriminar agentes do Estado que, no passado, se opuseram às suas pretensões utópicas.
Os integrantes da referida Comissão a cada dia demonstram não possuírem a requerida isenção e a necessária imparcialidade para a apuração de fatos tão controversos. Na última semana, com ampla divulgação dos meios de comunicação, a nação teve oportunidade de assistir a trechos importantes de uma sessão pública, adredemente preparada, onde foi ouvido de forma teatralizada, o Coronel Reformado CARLOS ALBERTO BRILHANTE USTRA, que nos idos de 1971-1974 , chefiou o DOI-CODI sediado na cidade de São Paulo.
Os inquisidores mais pareciam promotores em acusação, ficando evidente que o objetivo era apontá-lo como insensível torturador, expondo-o à execração pública sem qualquer análise equilibrada. Por coincidência intrigante, a oitiva foi aberta ao público e à imprensa, não faltando à referida montagem, o depoimento suspeito de um ex-sargento do Exército que, como foi divulgado, integrava os quadros do DOI-CODI na mesma época.
Não faltou, também, a participação de um médico, parlamentar paulista que esteve preso naquele período. Esse cidadão, para espanto geral, é hoje, o Presidente da “Comissão da Verdade” instalada na cidade de São Paulo. Ambas, a nacional e a de São Paulo, estão confundindo POLÍTICA PARTIDÁRIA com HISTÓRIA; esta última, como sabemos, destina-se a elucidar e registrar a verdade de fatos passados, enquanto a primeira busca argumentos na tentativa de convencer eleitores para conquistar ou manter o poder. O que as duas estão fazendo é a manipulação da história com visíveis fins políticos. Quais resultados podemos esperar dessas “inusitadas e imparciais” Comissões?
O bom senso sugere que se efetivamente desejam apurar os lastimáveis acontecimentos daquele sombrio período, em respeito ao sagrado direito de familiares e amigos de todos aqueles que de uma forma ou de outra envolveram-se e foram mortos nos decantados, repetidos e orquestrados acontecimentos, o espírito dessa indigitada Comissão deveria ser o do equilíbrio, da conciliação e da concórdia, sendo integrada, se possível, por historiadores isentos, com perfil adequado para a apuração serena dos fatos.
Mas isso, desde o início não ocorreu. Um vício de origem desqualificou a seriedade dos trabalhos dessa espúria “Comissão da Verdade”, pois todos os seus membros foram e serão indicados e substituídos, se houver necessidade, pela Sra. Presidente da República que, todos sabem, esteve profundamente envolvida nos lastimáveis fatos ocorridos naquela quadra sombria da história de nosso país.
O nobre espírito de pacificação que norteou a engenharia política que resultou na LEI DA ANISTIA (que continua a ser contestada apesar de decisão do STF) e a postura Pacificadora e histórica do grande líder e patrono do Exército Nacional, o Duque de Caxias, deveriam pairar e servir de inspiração para os trabalhos de qualquer Comissão designada para esse duro mister. Mas o contrário vem acontecendo; diariamente, são retirados das coxias do revanchismo, unilateralmente, fatos e supostos crimes cometidos somente por um dos lados.
Mais triste, ainda, é a covarde arremetida sobre aqueles que, por dever de ofício, foram obrigados e expuseram suas vidas, para sufocar e terminar com a luta de insanos e radicais que professavam o credo marxista, muitos deles, hoje, estabelecidos em diferentes escaninhos do poder. Não fosse a atuação firme, corajosa e patriótica de inúmeros camaradas e agentes do estado e, hoje, poderíamos estar vivendo as incertezas e o longo sofrimento da vizinha Colômbia que, há mais de meio século, é infernizada pela atuação dos fanáticos guerrilheiros das FARC.
Não podendo colocar no Banco dos réus, instituições sérias como as Forças Armadas, as Polícias Federal, Estaduais e Militares, que tiveram atuação intensa e foram envolvidas nos combates, encontraram uma forma perversa de penalizar individualmente seus antigos membros. Esperam que dessa forma as feridas abertas sejam cicatrizadas e que haja colaboração daqueles que ainda serão ouvidos nessa ridícula pantomima.
O comportamento unilateral dos membros da Comissão tangencia a ironia e o sarcasmo e revela o que verdadeiramente desejam: antagonizar essas mesmas Instituições com a nação brasileira, com especial interesse sobre o relevante papel desempenhado pelo EXÉRCITO NACIONAL na erradicação daquela louca pretensão.
Em gabinetes confortáveis e acondicionados, escribas e intelectuais organicamente cooptados, escrevem “artigos tendenciosos cheios de argumentações falaciosas”. Quando lhes interessa, chegam, até, a citar em seus artigos a “Convenção de Genebra”, para lembrar que violências só podem ser cometidas por um dos lados. Se forem cometidas pelo outro, constituem-se em pecado mortal inaceitável, desconsiderando, inclusive, o duro e perigoso ofício dos que tiveram que combater militantes e terroristas fanáticos, que foram capazes de cometer crimes escabrosos, como mostram os exemplos a seguir: matando friamente um oficial estrangeiro (o Capitão CHANDLER), na frente de sua esposa e de seu filho, ainda um menino, com o frágil argumento que “justiçavam” um espião Yankee representante da burguesia capitalista exploradora e, em outra ocasião, esmigalhando a cabeça do jovem Tenente da Polícia Militar de São Paulo (Tenente MENDES), que no vale da Ribeira/ SP perseguia guerrilheiros em treinamento na região, depois de preso por eles. Não cabe aqui relatar outras insanidades.
Mas a moeda dos acontecimentos históricos tem sempre duas faces, e os velhos soldados, que viveram a realidade daqueles tempos, tiveram a ALEGRIA de ver que o Coronel USTRA, durante a teatral oitiva, não titubeou e mostrou-se digno, não se intimidando nem se dobrando às indagações que lhe foram dirigidas. Permaneceu fiel, também, aos princípios e valores diuturnamente aprendidos nos quartéis do nosso querido Exército e não renegou ou esqueceu os compromissos assumidos em seus sagrados juramentos perante o pavilhão nacional. Agiu com honra, dignidade, coragem e exação no cumprimento do dever quando, como no passado, recebeu a dura missão de combater fanáticos que desejavam implantar regime político estranho às nossas conhecidas tradições .
Na outra face da moeda, entretanto, o que se viu foi motivo de desconforto e de tristeza. Muito poucos companheiros estiveram presentes em Brasília, para dar ao Coronel USTRA o apoio imprescindível que ele mereceria ter recebido, durante a mencionada sessão. Como sói acontecer, foi melhor para muitos permanecerem na “Zona de Conforto”, esperando o que ocorrerá, na doce ilusão de que serão futuramente benevolentes . Quem viver verá!
Não é justo deixar nossos camaradas expostos à sanha demolidora e à fúria inesgotável das velhas e conhecidas Hienas por falta de Camaradagem. Elas continuam, como sempre estiveram, atentas às nossas fraquezas, com suas garras e dentes afiados; não nos perdoam pelos insucessos históricos do passado, quando tentaram empolgar o poder através da luta armada e foram vencidas.
Ouço com frequência de amigos e companheiros de armas a argumentação sobre a necessidade imperiosa de termos que aceitar determinadas posições governamentais, pois vivemos uma circunstância diferente, sinal característico de novos tempos. Eles sempre afirmam que “Conviver não é Concordar”. Não me oponho à afirmação e, até, entendo-a aceitando essa posição difícil, porém civilizada e construtiva. O que percebo, contudo, é que desde os “inesquecíveis tempos” do presidente Collor, temos “convivido muito e discordado muito pouco, ou quase nada”. O resultado palpável é a escalada de constrangimentos que estamos nos acostumando a assistir sem qualquer reação significativa.
As Forças Armadas, com especial relevância para o Exército Brasileiro, foram sempre seu grande obstáculo. O objetivo (velado), portanto, é procurar desmoralizá- las e afastá-las das mesas de decisão, sempre que isso for possível. Será que essa nova forma de GUERRA (mais suja que as demais) não está a merecer atenção mais acurada.
Encerro esse artigo, relembrando aos velhos camaradas um aspecto que nos distingue dos demais compatriotas: nossa querida e respeitada Instituição se sustenta em um triângulo virtuoso, de lados indeformáveis, igualmente importantes e resistentes: na hierarquia, na disciplina e na Camaradagem. Quando uma das partes se fragiliza, os estados anímico e afetivo da Instituição sofrem e se enfraquecem.
Não é fácil enxergar o óbvio!
21 de maio de 2013
Carlos Augusto Fernandes dos Santos é General Reformado.
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