Quando a bolha da habitação da década seguinte estourou, o resultado foi a maior crise econômica desde os anos 30 –uma crise da qual ainda não emergimos.
Assim, quando as pessoas falam sobre bolhas, o certo é ouvir atentamente e avaliar suas alegações –e não descartá-las com desdém, exatamente o que muitos dos chamados especialistas fizeram quanto aos alertas sobre a bolha na habitação.
E existe muita discussão sobre bolhas no momento. Boa parte da discussão gira em torno de uma suposta bolha dos títulos públicos, que teoricamente estaria mantendo os preços dos títulos indevidamente altas e suas taxas de juros –que se movimentam na direção oposta– indevidamente baixas. Mas a alta no índice Dow Jones também trouxe o medo de uma bolha nas ações.
Assim, será que temos uma grande bolha de títulos e/ou ações? Quanto aos títulos, eu diria que certamente não. Quanto às ações, diria que provavelmente não, ainda que não esteja tão certo.
O que é uma bolha, afinal? Surpreendentemente, não existe definição padrão. Mas eu definiria como uma situação na qual os preços dos ativos parecem se basear em opiniões implausíveis ou incoerentes sobre o futuro.
Os preços das ações de Internet em 1999 só faziam sentido se você acreditasse que muitas companhias se tornariam novas Microsofts. Os preços da habitação em 2006 só faziam sentido se você acreditasse que eles continuariam subindo muito mais rápido que a renda dos compradores, por muitos anos.
Há algo de comparável acontecendo no mercado de títulos atual? Bem, a taxa de juros sobre os títulos de longo prazo depende principalmente do desempenho antecipado para os juros de curto prazo, que são controlados pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos).
Você não deve comprar um título de dez anos com juros inferiores a 2%, o índice atual, se acredita que o Fed vai elevar as taxas de juros de curto prazo para os 4% a 5% em um futuro não muito distante.
Mas por que exatamente você acreditaria em uma coisa dessas? O Fed normalmente cortas as taxas de juros quando o desemprego é alto e a inflação é baixa –exatamente a situação atual.
É verdade que o banco central não pode cortar ainda mais os juros porque eles já estão perto do zero e não há como baixá-los. (De outra forma os investidores prefeririam reter o dinheiro em lugar de investi-lo.)
Mas é difícil ver por que o Fed elevaria as taxas de juros até que o desemprego caia muito e/ou a inflação dispare, e não há indício, nos dados recentes, de que qualquer das duas coisas deva acontecer, e por muitos anos.
Por que, então, tanta conversa sobre uma bolha? Em parte isso reflete a observação, correta, de que as taxas de juros estão muito baixas, pelos padrões históricos.
O que é preciso ter em mente, porém, é que a economia também está em péssima forma, pelos padrões históricos –vive a sua pior situação em três gerações. As regras usuais sobre o que constitui nível razoável para a taxa de juros não se aplicam, hoje.
Também é preciso dizer que esse rumor de bolha é até certo ponto a expressão de um desejo.
Por qualquer que seja o motivo, muita gente no setor financeiro desenvolveu um ódio profundo por Ben Bernanke, o chairman do Fed, e por tudo que ele faz; querem que suas políticas de dinheiro fácil sejam abandonadas, e também desejam que elas fracassem de alguma maneira espetacular.
No entanto, a falta de apreço por professores barbudos da Universidade de Princeton não provou ser uma base confiável para uma estratégia de investimento.
E não deveríamos esquecer o exemplo do Japão, onde as apostas contra os títulos do governo –justificadas por mais ou menos os mesmos argumentos hoje usados para embasar alegações sobre uma suposta bolha nos títulos norte-americanos– terminaram em desastre com tanta frequência que esse mercado veio a ganhar o apelido de “fazedor de viúvas”.
Hoje, a dívida pública japonesa é bem mais que duas vezes maior do que o PIB (Produto Interno Bruto) do país, o deficit orçamentário continua grande e a taxa de juros sobre os títulos públicos japoneses de 10 anos é de 0,6%. Não, não errei a vírgula.
Bem, e quanto às ações? Os grandes índices de ações estão mais altos hoje do que no final dos anos 90, e isso pode parecer ameaçador. Mas a ameaça parece bem menos séria, no entanto, quando você descobre que os lucros das empresas –e é neles, afinal, que uma ação representa participação– são mais de duas vezes e meia superiores ao que eram quando do estouro da bolha dos anos 90.
Além disso, com rendimentos tão baixos para os títulos públicos, é de esperar que os investidores transfiram dinheiro às ações, o que gera aumento de seus preços.
No geral, os argumentos quanto a bolhas significativas nas ações ou, especialmente, títulos públicos são bastante fracos. E essa conclusão importa para a política, e não só para o investimento.
Pois um importante subtexto da retórica recente quanto a uma bolha é a exigência de que Bernanke e seus colegas desistam de seus esforços para estimular a economia, sob pena de consequências catastróficas.
Na realidade, porém, não existem argumentos para acreditar que estamos enfrentando um grande problema de bolhas, e muito menos para que a preocupação sobre bolhas hipotéticas sobrepuje a tarefa de recriar empregos para os norte-americanos. Bernanke deveria deixar de lado os barões babões das bolhas e continuar fazendo seu trabalho. (transcrito da Folha)
Paul Krugman
21 de maio de 2013
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