Há um mês, desde que saíram as primeiras pesquisas de opinião registrando queda na avaliação positiva da presidente Dilma Rousseff – inicialmente de sete e, em seguida aos protestos, de 27 pontos porcentuais – o governo vive sob o efeito de um choque de realidade ao qual ainda não se adaptou.
A popularidade não era inabalável nem a aliança política tão sólida quanto desenhava o cenário de reeleição garantida. A esse novo quadro é que, na avaliação corrente nas bancadas do PT na Câmara e no Senado, o Palácio do Planalto não está dando as respostas adequadas.
O governo caiu das nuvens, mas ainda não conseguiu firmar os pés no chão. Continua operando no modo antigo, trabalhando com tentativas irrealistas de mudar de assunto e de compartilhar responsabilidades sem se concentrar na questão principal que emergiu das manifestações.
E qual é a questão? A existência de um “sentimento oposicionista” (a expressão é de um petista) que atinge os políticos e governantes de modo geral, os de oposição inclusive, mas prejudica muito mais quem detém mais poder e, portanto tem mais a perder: o governo federal.
Por enquanto o referido oposicionismo é difuso e não foi para lugar algum. “Pode ir para qualquer um”, diz um deputado referindo-se às forças políticas que disputarão em 2014.
O receio de parlamentares do PT, no entanto, é que esse capital não possa ser recuperado pelo partido se o governo não se concentrar em tomar medidas concretas (e consistentes) na gestão da economia, na melhoria dos serviços públicos, na reconstrução do ambiente de confiança para o investidor, na segurança para o empresário.
De acordo com os que pensam assim, a hora não é de alimentar apelos pela candidatura do ex-presidente Lula – “é ruim para ele, para o governo e para o partido” – nem de insistir em propostas inexequíveis como a do plebiscito sobre reforma política em ritmo de passe de mágica, muito menos de se atritar com o Congresso.
O momento requer um freio de arrumação: parar de escrever por linhas tortas e andar em linha reta para reconquistar a sociedade governando melhor. A recuperação da competitividade eleitoral e a reconstrução das alianças políticas seriam consequências naturais.
Testemunho. Militar aposentado, Athos Cardoso envia a seguinte mensagem a propósito do uso de aviões da Força Aérea Brasileira por autoridades que se sentem autorizadas a cometer qualquer tipo de abuso.
“Como coronel da ativa comandei o 4º Batalhão Especial de Fronteiras, guarnição mais a Oeste do Brasil, sediada em Rio Branco-AC. Foi de 1985 a 1988. A capital era a única do Brasil não ligada ao restante do Brasil por estrada asfaltada.
“Na época da terrível temporada de chuva amazônica, intransitável a rodovia, o rio ainda sem vazão para transporte fluvial; a cidade, isolada, só recebia suprimentos por via aérea. Faltava do óleo diesel ao papel higiênico.
“A família militar, com raríssimas exceções, passava quase dois anos na cidade sem viajar nas férias. As distâncias eram longas, as passagens aéreas inacessíveis. De ‘caronas’ pela FAB, nunca soube. Eu, o coronel comandante, viajava de Manaus para o Rio, com a passagem mais barata que existia. A do famoso ‘Corujão’.
“Assisto, indignado, à postura do senador Renan, político profissional, rico, cheio de mordomias, viajando de carona na FAB. Ele finge não ouvir o clamor das ruas. Enfrenta e afronta a opinião pública. Pergunto: pode um político como ele comandar as mudanças políticas de que o Brasil precisa?”.
Não poderia, não deveria nem estar onde está se o Congresso tivesse mais respeito pela opinião do pública.
09 de julho de 2013
DORA KRAMER, ESTADÃO
A popularidade não era inabalável nem a aliança política tão sólida quanto desenhava o cenário de reeleição garantida. A esse novo quadro é que, na avaliação corrente nas bancadas do PT na Câmara e no Senado, o Palácio do Planalto não está dando as respostas adequadas.
O governo caiu das nuvens, mas ainda não conseguiu firmar os pés no chão. Continua operando no modo antigo, trabalhando com tentativas irrealistas de mudar de assunto e de compartilhar responsabilidades sem se concentrar na questão principal que emergiu das manifestações.
E qual é a questão? A existência de um “sentimento oposicionista” (a expressão é de um petista) que atinge os políticos e governantes de modo geral, os de oposição inclusive, mas prejudica muito mais quem detém mais poder e, portanto tem mais a perder: o governo federal.
Por enquanto o referido oposicionismo é difuso e não foi para lugar algum. “Pode ir para qualquer um”, diz um deputado referindo-se às forças políticas que disputarão em 2014.
O receio de parlamentares do PT, no entanto, é que esse capital não possa ser recuperado pelo partido se o governo não se concentrar em tomar medidas concretas (e consistentes) na gestão da economia, na melhoria dos serviços públicos, na reconstrução do ambiente de confiança para o investidor, na segurança para o empresário.
De acordo com os que pensam assim, a hora não é de alimentar apelos pela candidatura do ex-presidente Lula – “é ruim para ele, para o governo e para o partido” – nem de insistir em propostas inexequíveis como a do plebiscito sobre reforma política em ritmo de passe de mágica, muito menos de se atritar com o Congresso.
O momento requer um freio de arrumação: parar de escrever por linhas tortas e andar em linha reta para reconquistar a sociedade governando melhor. A recuperação da competitividade eleitoral e a reconstrução das alianças políticas seriam consequências naturais.
Testemunho. Militar aposentado, Athos Cardoso envia a seguinte mensagem a propósito do uso de aviões da Força Aérea Brasileira por autoridades que se sentem autorizadas a cometer qualquer tipo de abuso.
“Como coronel da ativa comandei o 4º Batalhão Especial de Fronteiras, guarnição mais a Oeste do Brasil, sediada em Rio Branco-AC. Foi de 1985 a 1988. A capital era a única do Brasil não ligada ao restante do Brasil por estrada asfaltada.
“Na época da terrível temporada de chuva amazônica, intransitável a rodovia, o rio ainda sem vazão para transporte fluvial; a cidade, isolada, só recebia suprimentos por via aérea. Faltava do óleo diesel ao papel higiênico.
“A família militar, com raríssimas exceções, passava quase dois anos na cidade sem viajar nas férias. As distâncias eram longas, as passagens aéreas inacessíveis. De ‘caronas’ pela FAB, nunca soube. Eu, o coronel comandante, viajava de Manaus para o Rio, com a passagem mais barata que existia. A do famoso ‘Corujão’.
“Assisto, indignado, à postura do senador Renan, político profissional, rico, cheio de mordomias, viajando de carona na FAB. Ele finge não ouvir o clamor das ruas. Enfrenta e afronta a opinião pública. Pergunto: pode um político como ele comandar as mudanças políticas de que o Brasil precisa?”.
Não poderia, não deveria nem estar onde está se o Congresso tivesse mais respeito pela opinião do pública.
09 de julho de 2013
DORA KRAMER, ESTADÃO
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