Bárbaro, que história bárbara!
Quando os antigos gregos, com toda a sua filosofia, criaram o termo barbaros (“estrangeiro”) para designar tudo o que fosse não grego, o desprezo que sentiam por outras culturas pode ter transparecido na própria formação da palavra, que o Merriam-Webster etimológico garante ser “de origem onomatopaica, imitação zombeteira do discurso estrangeiro como se ele fosse um balbucio ou uma gagueira”.
Seja como for, é certo que a palavra se revestiu desde o início de sentidos intensamente negativos – barbaros não significava apenas estrangeiro, mas também grosseiro, não civilizado, inculto, incorreto, cruel, desumano – que passaram todos, por meio do latim barbarus, ao português bárbaro. Os não gregos deram lugar aos não romanos e, mais tarde, aos não cristãos. A pecha da barbárie se manteve.
Termo registrado em português desde o século IX, bem no início da fase histórica da língua, a redenção do bárbaro teria que esperar muito tempo. É recente, provavelmente do século XX, o surgimento na fala brasileira da acepção informal que virou do avesso a carga semântica do adjetivo e o transformou, como diz o Houaiss, em “palavra-ônibus que qualifica pessoas ou coisas com atributos positivos: muito bonito (um cara bárbaro; uma casa bárbara); ótimo (um pai bárbaro); muito afável, compreensivo (um chefe bárbaro); muito interessante (uma idéia bárbara) etc.”.
Essa inversão é mais comum do que parece. Já havia ocorrido séculos antes, por exemplo, com uma palavra que a maioria dos estudiosos afirma descender do mesmo latim barbarus, por meio da forma vulgar brabus: o adjetivo bravo.
De início, o sentido de bravo, termo do início do século XII, era exatamente o mesmo de bárbaro, ou seja, grosseiro, selvagem, cruel. Um século mais tarde, segundo o Houaiss, uma expansão semântica já levava a palavra a significar algo definitivamente positivo: valente, corajoso.
O filólogo catalão Joan Corominas afirma datar do século XVI, em espanhol, o primeiro registro de bravo como sinônimo de, simplesmente, “bom”. O mesmo se deu em italiano.
Em português, tal passo teria que esperar até o século XVIII, quando a importação da interjeição italiana bravo encheu nossos teatros dessas expressões de aprovação e entusiasmo.
09 de julho de 2013
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