"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 9 de julho de 2013

"TERRA DE CEGOS"

 
É senso comum nos meios políticos e empresariais que Dilma Rousseff precisa promover mudanças em seu primeiro escalão para demonstrar que tem ferramentas para retomar a confiança nos rumos da economia e o comando sobre sua tão extensa quanto desarrumada coalizão no Congresso.
 
Essa é uma constatação feita inclusive por ministros da presidente, que, na semana passada, chegavam a dar como certa a saída da combalida Ideli Salvatti da coordenação política e como provável a troca de Guido Mantega, na Fazenda, por um nome capaz de reconquistar o mercado.
 
A nota oficial divulgada no fim de semana dizendo que nada muda no primeiro escalão só não foi um banho de água fria maior porque a mesma Dilma, no início do ano, prometeu que não mexeria na equipe, para fazê-lo poucos dias depois.
 
Por outro lado, aliados da petista indagam: substituir Ideli e Mantega por quem? E mais: a troca de nomes vai mudar alguma coisa num cenário em que a articulação política é manietada, e a condução da economia, feita pela própria presidente?
 
Não há banco de reservas para a vaga de Ideli. Por ali já desfilaram nomes de vários partidos, com desempenho sofrível. O único que foi considerado razoável, pelo manejo do varejo, foi José Múcio, hoje no TCU.
 
Ideli tem sido submetida a constrangimentos públicos diários. Nas reuniões, não tenta nem disfarçar seu alheamento. Diante dos pedidos de senadores e deputados, sapeca um embaraçoso "a reitora não deixa'', numa referência a Dilma.
 
As opções aventadas para substitui-la não têm mais lastro político. Além disso, não é possível saber se os petistas à disposição para a tarefa trabalhariam por Dilma ou seriam infiltrados do "volta Lula'' no palácio.
 
Comentário corrente na base aliada mostra o dilema: um ministério em que pontifica Aloizio Mercadante dá sentido ao ditado segundo o qual em terra de cegos, quem tem um olho é rei.

09 de julho de 2013
Vera Magalhães, Folha de São Paulo

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