A quantidade e a variedade de pautas que emergem das
manifestações sociais de junho até hoje mostram que a sociedade represou tanto
as suas demandas, que em determinado momento elas explodiram feito tampa de
panela de pressão.
Mas, olhando desde uma perspectiva histórica, percebe-se que os protestos de agora se inserem em um movimento mais amplo de revisão histórica.
A sociedade vem escrevendo e reescrevendo uma história de um país cuja construção foi interrompida com a deposição de João Goulart.
Nosso momento histórico atual, prova que o Brasil, que até certo ponto aceitou aquela versão oficial produzida pela ditadura, agora quer investigar a história passada e fazer história corrente com as próprias mãos.
A versão da morte por ataque cardíaco de Jango, em 1976 na Argentina, está sendo questionada em denúncias antigas, ora conduzidas à Comissão Nacional da Verdade – esta, mais uma iniciativa revisionista que produziu uma enorme onda de investigação de outras Comissões da Verdade, estaduais, municipais e de instituições públicas e privadas.
A família de Goulart, incluindo o falecido ex-governador Leonel Brizola, sempre pleiteou a exumação do cadáver e agora dá enorme publicidade a essa tese através do documentário Dossiê Jango, em exibição nos cinemas.
No filme, a morte de Goulart é relacionada a outras duas perdas, igualmente suspeitas, que ocorreram no intervalo de poucos meses: a do também ex-presidente Juscelino Kubitschek e de Carlos Lacerda, líderes da Frente Ampla que se preparava para questionar a ditadura nas urnas.
É arriscado projetar onde vão dar essas reescrituras das versões oficiais. Mas, a disposição de colocar na agenda pública ao mesmo tempo o passado e o presente mostra uma saudabilíssima capacidade de a sociedade investir na retomada dos debates sobre o Brasil que fomos, que somos e que desejamos ser.
Se a velocidade desse debate, e das suas consequências práticas, é lento diante de outras experiências históricas, o mesmo não pode ser dito da ambição contida nos esforços de investigar o passado e mudar o presente com as sucessivas manifestações massivas nas ruas. Ela é ampla e ousada, ainda que a reação também seja forte.
A imprensa e a direita tentaram despolitizar as manifestações atuais e não repercutem com a importância devida a forte hipótese de que dois de nossos ex-presidentes tenham sido assassinados por um conluio da elite brasileira com o governo dos EUA, como afirma o Dossiê Jango.
Mas, a esperança que vem da força das ruas mostra que a política feita em praça pública e pé no asfalto é capaz de mudar. A história e o mundo.
09 de julho de 2013
Carlos Tautz, jornalista, coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empresas.
Mas, olhando desde uma perspectiva histórica, percebe-se que os protestos de agora se inserem em um movimento mais amplo de revisão histórica.
A sociedade vem escrevendo e reescrevendo uma história de um país cuja construção foi interrompida com a deposição de João Goulart.
Nosso momento histórico atual, prova que o Brasil, que até certo ponto aceitou aquela versão oficial produzida pela ditadura, agora quer investigar a história passada e fazer história corrente com as próprias mãos.
A versão da morte por ataque cardíaco de Jango, em 1976 na Argentina, está sendo questionada em denúncias antigas, ora conduzidas à Comissão Nacional da Verdade – esta, mais uma iniciativa revisionista que produziu uma enorme onda de investigação de outras Comissões da Verdade, estaduais, municipais e de instituições públicas e privadas.
João Goulart (Jango), ex-presidente do
Brasil
A família de Goulart, incluindo o falecido ex-governador Leonel Brizola, sempre pleiteou a exumação do cadáver e agora dá enorme publicidade a essa tese através do documentário Dossiê Jango, em exibição nos cinemas.
No filme, a morte de Goulart é relacionada a outras duas perdas, igualmente suspeitas, que ocorreram no intervalo de poucos meses: a do também ex-presidente Juscelino Kubitschek e de Carlos Lacerda, líderes da Frente Ampla que se preparava para questionar a ditadura nas urnas.
É arriscado projetar onde vão dar essas reescrituras das versões oficiais. Mas, a disposição de colocar na agenda pública ao mesmo tempo o passado e o presente mostra uma saudabilíssima capacidade de a sociedade investir na retomada dos debates sobre o Brasil que fomos, que somos e que desejamos ser.
Se a velocidade desse debate, e das suas consequências práticas, é lento diante de outras experiências históricas, o mesmo não pode ser dito da ambição contida nos esforços de investigar o passado e mudar o presente com as sucessivas manifestações massivas nas ruas. Ela é ampla e ousada, ainda que a reação também seja forte.
A imprensa e a direita tentaram despolitizar as manifestações atuais e não repercutem com a importância devida a forte hipótese de que dois de nossos ex-presidentes tenham sido assassinados por um conluio da elite brasileira com o governo dos EUA, como afirma o Dossiê Jango.
Mas, a esperança que vem da força das ruas mostra que a política feita em praça pública e pé no asfalto é capaz de mudar. A história e o mundo.
09 de julho de 2013
Carlos Tautz, jornalista, coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empresas.
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