"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 9 de julho de 2013

FAZENDO HISTÓRIA COM AS PRÓPRIAS MÃOS

 
A quantidade e a variedade de pautas que emergem das manifestações sociais de junho até hoje mostram que a sociedade represou tanto as suas demandas, que em determinado momento elas explodiram feito tampa de panela de pressão.
 
Mas, olhando desde uma perspectiva histórica, percebe-se que os protestos de agora se inserem em um movimento mais amplo de revisão histórica.
 
A sociedade vem escrevendo e reescrevendo uma história de um país cuja construção foi interrompida com a deposição de João Goulart.
 
Nosso momento histórico atual, prova que o Brasil, que até certo ponto aceitou aquela versão oficial produzida pela ditadura, agora quer investigar a história passada e fazer história corrente com as próprias mãos.
 
A versão da morte por ataque cardíaco de Jango, em 1976 na Argentina, está sendo questionada em denúncias antigas, ora conduzidas à Comissão Nacional da Verdade – esta, mais uma iniciativa revisionista que produziu uma enorme onda de investigação de outras Comissões da Verdade, estaduais, municipais e de instituições públicas e privadas.

João Goulart (Jango), ex-presidente do Brasil
 
A família de Goulart, incluindo o falecido ex-governador Leonel Brizola, sempre pleiteou a exumação do cadáver e agora dá enorme publicidade a essa tese através do documentário Dossiê Jango, em exibição nos cinemas.
 
No filme, a morte de Goulart é relacionada a outras duas perdas, igualmente suspeitas, que ocorreram no intervalo de poucos meses: a do também ex-presidente Juscelino Kubitschek e de Carlos Lacerda, líderes da Frente Ampla que se preparava para questionar a ditadura nas urnas.
 
É arriscado projetar onde vão dar essas reescrituras das versões oficiais. Mas, a disposição de colocar na agenda pública ao mesmo tempo o passado e o presente mostra uma saudabilíssima capacidade de a sociedade investir na retomada dos debates sobre o Brasil que fomos, que somos e que desejamos ser.
 
Se a velocidade desse debate, e das suas consequências práticas, é lento diante de outras experiências históricas, o mesmo não pode ser dito da ambição contida nos esforços de investigar o passado e mudar o presente com as sucessivas manifestações massivas nas ruas. Ela é ampla e ousada, ainda que a reação também seja forte.
 
A imprensa e a direita tentaram despolitizar as manifestações atuais e não repercutem com a importância devida a forte hipótese de que dois de nossos ex-presidentes tenham sido assassinados por um conluio da elite brasileira com o governo dos EUA, como afirma o Dossiê Jango.
 
Mas, a esperança que vem da força das ruas mostra que a política feita em praça pública e pé no asfalto é capaz de mudar. A história e o mundo.

09 de julho de 2013
Carlos Tautz, jornalista, coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empresas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário