Diante
dos Movimentos Sociais, designados também, aqui no Brasil, de “vozes das ruas”,
há quem diga que as lideranças se extinguiram. O líder perdeu a sua razão de
ser.
Esse raciocínio, para mim, é de extrema estreiteza. O líder não deixou de
existir, mas, nos últimos tempos, passou a ser não identificável.
O desgaste dos políticos dos últimos 20 anos levou ao encolhimento da figura de
lideranças nacionais. O perfil do homem público, que desempenha cargo eletivo,
está desgastado, ficou atrofiado em conseqüência de suas atitudes interesseiras.
É evasivo, sem personalidade, não mantém posições definidas, uma vez que se
rende à obtenção do voto, aliás, seu único fim.
O político de hoje trai a sua
ideologia cultural, renegando valores adquiridos de seus antepassados, não se
contrapondo a movimentos espúrios que ameaçam a raiz da dignidade familiar e da
sociedade em que vive.
É covarde em seus posicionamentos, tudo visando estar bem
com todos, não querendo ficar “mal na fotografia”.
O apoio de comunidades que
professam os mais vis hábitos como a homoafetividade, o aborto, a liberalização
das drogas, a negação de símbolos religiosos é muito bem vindo para que se
estabeleça em seus cargos políticos.
E o pior, denomina tais práticas de
progressistas. “Uma verdadeira piada”!
Todo um jogo foi concebido, nas duas últimas décadas, em que programas sociais
estariam acima de qualquer estratégia relevante ao País. Nos últimos dez anos,
isso foi acentuado sem pudor.
O objetivo era e é “pão e circo”. O pão foi
representado por programas sociais, como por exemplo, bolsa família, bolsa
presidiário, bolsa crack e, por fim, bolsa prostituta em fase de aprovação, tudo
dentro do programa Brasil sem Miséria.
Já o circo seria os megaeventos, com
destaque para os Jogos Mundiais Militares de 2011, a Copa das Confederações de
2013, o Campeonato Mundial de 2014, a Olimpíada de 2016.
Isso sem
considerar o Rock in Rio, o carnaval, os grandes clássicos do futebol. O cenário
estava montado para se comandar uma geração de andróide, massa amorfa apática,
atrofiada nas suas reflexões, sem qualquer interesse pelas coisas públicas, o
que asseguraria a esse político e a seu partido, bem como aos seus aliados a
eterna permanência no poder.
A configuração desse desenho social dava respaldo à vanglória do Governo em
dizer que tinha 70% de aprovação da população. Podia-se até ameaçar quem fazia
oposição com a afirmação de que o “bicho vai pegar”, com clara afronta à
democracia.
Mas algo novo não se levou em consideração, pois, sorrateiramente, uma nova
geração foi se desenvolvendo e se inserindo no contexto demográfico nacional.
Essa geração “gritou” em junho passado e vem “gritando” por conquistas sociais
que lhes foram e estão sendo negadas, mesmo com a enunciação da tola mentira de
que “democracia gera mais desejo de democracia, qualidade de vida desperta
anseio por mais qualidade de vida”.
Acontece que essa geração é filha da geração das “diretas já” e neta dos que se
opuseram à Revolução de 1964, cujos pais e avós, apesar de reclamarem da
ditadura, ainda presenciaram, naquela época, embates entre oposição e situação.
Esses jovens não sabem o que é ideologia de Direita ou de Esquerda.
Falaram para
eles que os poucos partidos opositores ao populismo atual são de Direita, mas
desconhecem que hoje, no Brasil, não existe Direita, pois tanto quem está no
Governo ou lhe fazendo oposição são oriundos da Esquerda dos anos 60. Esses
jovens são os “twiteiros”, os “fecebooquianos”, os “blogueiros” denominados
também de Geração Y ou do milênio.
Caracterizam-se pelo ato da “clicagem”, ou
seja, ao não se interessarem por algo virtual, apertam a tecla do mouse e
deletam o que lhes é estampado na “telinha” de suas mídias ou então mudam de
assunto procurando outro “site” ou “blog”.
São os “cliqueiros”, pessoas
imediatistas, querem flexibilidade no trabalho, não ficam muito tempo em um
emprego, porque têm dificuldade de encontrar um veterano ou um superior, com
mais experiência, que inspiram confiança para lhes apontar objetivos e caminhos.
Lamentavelmente, alguns partem para o vandalismo, com expressivas cenas de
violência, preferindo o anarquismo, o que pode levar à ruptura da paz social,
algo temeroso à Nação.
O Papa FRANCISCO se reportou aos baderneiros, como jovens
manipulados por pessoas maduras, mas radicais que desprezam o diálogo na solução
dos problemas sociais.
Porém, por incrível que pareça, são jovens com certa cultura, mesmo superficial,
já que vivem na sociedade do conhecimento, o que lhes dá condições para
perceberem e interpretarem maracutaias e mutretagens, além de não agüentarem
mais a embolação partidária, em que acordos e negociatas políticas são
arquitetados em prol de interesses escusos. Na verdade, desejam mandar para
“lixeira” parlamentares e mandatários, cuja representatividade tornou-se
desacreditada e descredenciada junto ao povo.
Aí está a “fornalha” que configura os movimentos sociais sem uma direção
definida, multifacetados nos seus desejos, com total ausência de mentores
capazes de direcionarem a novas causas.
Na verdade, o líder nunca esteve e nunca estará ausente. Desde os guias dos
bandos dos australopitecus da pré-história, passando pelos capitães que
comandaram os exércitos da antiguidade e da idade média até os estadistas que
vivenciaram e conduziram os ciclópicos eventos do último século, lá estava ele
como senhor de todos os acontecimentos.
Na verdade, o líder de hoje não é mais o arrogante ou o petulante que se arvora
na sua fala. Mesmo administrando uma massa governamental em franco processo
entrópico, alardeia pelas mudanças dos últimos dez anos, renegando, portanto,
contribuições de ícones do passado que fizeram a história desse País. É possível
alguém acreditar nesse tipo de discurso?
O líder
de hoje é o que muito faz e pouco fala. Sabe que as palavras convencem, mas os
atos arrastam multidões. O seu silêncio encanta, pois ouvir significa
respaldar-se para aplicar as ações planejadas.
Quando o
Papa FRANCISCO pede licença para entrar no País, dirigindo-se ao povo e, em
especial à juventude, “alegando que não tem ouro nem prata, mas traz o que
lhe é mais precioso para si: JESUS CRISTO”, apresenta um estilo de liderança
diferente que extrapola as mais vis propagandas eleitoreiras e autoritárias.
James Hunter, consultor de gestão corporativa, em seu bestseller, o MONGE
E O EXECUTIVO, é providencial nesta afirmação. É ainda mais feliz, nos seus
argumentos sobre o gestor, como modelo de guia corporativo, ao publicar COMO SE
TORNAR UM LÍDER SERVIDOR. Mas James Hunter é enfático ao considerar que essa
atitude é somente válida para o líder com conduta ilibada, sem qualquer mácula
de caráter no seu passado.
Por mais
paradoxal que seja, nesse mundo globalizado e em rede organizacionais, as
instituições que guardam em si, expressivamente, o aspecto da liderança são a
eclesial e a militar, mesmo tendo estruturas verticalizadas. Isso se deve a dois
fatores: a hierarquia e a disciplina. Mesmo sendo banalizados pelos que se
intitulam avançados, tanto a hierarquia como a disciplina são balizadores na
ordenação do regime das relações entre cidadãos. “Ordem e Progresso” é o lema da
Bandeira Nacional, como pendão a nortear nosso povo. A isso, nos últimos tempos,
vem se tentando destruir, à medida que se provoca o desmanche de instituições
seculares, com a inversão de práticas salutares da família, em que condutas
exógenas ao respeitoso convívio entre pessoas, não importando a classe ou raça,
são priorizadas em novo código de conduta. Eis aí a causa das explosões sociais
que eclodem na atualidade.
Por tudo
isso, cabe dizer que a liderança não se esvaiu. Ela está em letargia, como
atributo, no interior dos que têm o privilégio de possuí-la. O silêncio de suas
condutas é impregnante, a altivez de suas percepções, diante dos acontecimentos,
é serena, a honradez de suas ações, dentro do caos estabelecido, cativa os que
lhes estão próximo. Pode estar certo de que o líder, hoje, encontra-se nos mais
distintos locais. Na repartição pública, na empresa, no quartel, no hospital, na
igreja, na universidade, na federação industrial e comercial, enfim, na posição
que melhor lhe facilitará impedir a ruptura da ordem jurídica
nacional.
Da mesma
forma que as “vozes das ruas” eclodiram sem que houvesse uma prévia sinalização,
o “líder da última hora” ressurgirá oportunamente, saindo de seus nichos,
talvez, quem sabe, para liderar, dentre outras, as “vozes da rua”, na direção do
entendimento nacional. . .
ANTONIO
CELENTE VIDEIRA
Membro da
Academia Brasileira de Defesa (ABD).
acelente@gmail.com
Não sei
exatamente como o líder deve proceder para alcançar o sucesso, porém, com
certeza, a sua queda se inicia, quando fica preocupado em agradar a
todos.
(Presidente Kennedy)
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