Aleluia: "Precisamos de um novo ciclo de desenvolvimento para a Bahia e para o Brasil" (Foto: Jorge Souza) |
O Secretário de Urbanismo e Transporte da Prefeitura Salvador e ex-líder da oposição no Congresso Nacional, José Carlos Aleluia, em entrevista exclusiva ao Landisvalth Blog, falou sobre o seu futuro político, passando pela prefeitura de Salvador, governo da Bahia e sobre a política nacional.
Landisvalth Blog – Como o senhor recebeu a manifestação do ex-deputado Geddel Vieira Lima, do PMDB, afirmando apoiar o seu nome para candidato a governador pelas oposições?
José Carlos Aleluia – Foi uma gentileza do ex-ministro Geddel, porque nós estamos cogitando a possibilidade de ele ser também o nosso candidato. Estamos juntos. Hoje nós temos nomes muito preparados para ser governador da Bahia. Tem o ex-ministro Geddel, o ex-governador Paulo Souto, tem o meu nome. O PSDB tem nome, o João Gualberto. De modo que o que ele disse foi uma expressão da vontade coletiva. Nós queremos ter um candidato, mas mais do que isso, queremos ter um projeto novo para a Bahia. O candidato poderá ser qualquer um, desde que ele possa representar o novo para a Bahia e humanizar o governo. Este governo aí é o governo dos partidos. Queremos fazer um governo do povo. O povo não é partido. O povo está preocupado é com o custo de vida, com o transporte, com a moradia, com a educação do filho e, na Bahia, sobretudo com a segurança. O PT, nesses 12 anos, transformou o Brasil numa praça de guerra, onde morrem assassinadas 50 mil pessoas por ano. Morrer assassinado virou uma coisa comum e banal. Não há sequer mais investigação. Antigamente a violência estava na periferia das grandes cidades. Hoje ela está no campo. Ando muito pelo interior e vejo as pessoas preocupadas em dormir na fazenda. Estão preocupadas em ser assaltadas e nem mesmo haver investigação. A Polícia na Bahia foi abandonada pelo PT e está desestruturada. O povo está desprotegido. Este negócio de dizer que o povo está interessado em partido A ou B não é correto. O povo está interessado num projeto novo. O Democratas fala da Força das novas ideias. Se não houver ações e novos ideais não adianta. A ida do povo para as ruas é fruto da indignação, da insatisfação, da insegurança, do endividamento das pessoas. Alguns cometeram excessos, mas foram dizer aos governantes que basta. Esta semana a impressa publicou a paixão dos governadores por helicópteros. Como eles não tratam da segurança e nem da circulação das pessoas, resolveram encontrar solução para eles mesmos usando helicópteros. O governador do Rio chegou ao ponto de usar a aeronave para transportar ele e os amigos, depois a família e os amigos da esposa, depois os empregados e até os cachorrinhos. Isso tudo com dinheiro do povo, que está indignado também de ver tanto corrupto solto. A corrupção virou uma banalidade. O sujeito é condenado e continua deputado. Como é que o povo pode acreditar numa Câmara de Deputados se existem condenados atuando nela? Estes condenados votam nossas leis, mesmo sendo um fora da lei. Então o Brasil precisa de um novo projeto e a Bahia também. Quando o Geddel fez essa referência nos deu a esperança de que ele virá de barbas e bagagem para um novo projeto de transformação da Bahia.
Landisvalth Blog – Então o senhor elegeu a partidocracia, a violência, a corrupção, a inflação e a paralisia do país. E onde entra aí a incompetência do PT?
José Carlos Aleluia – Acho que eles não incompetentes não. São competentes para o que interessa a eles. O mais importante para quem quer governar o país não é a competência. Ela é consequência. O mais importante são os valores. O que falta a eles são valores, aqueles básicos de respeito à pessoa humana, seja quem for. São valores cristãos, valores que nós, católicos, evangélicos, todos pregamos. São valores pregados por mais de 90 por cento da sociedade: respeito à pessoa, à liberdade ampla, respeito à vida... que estão acima dos partidos. O partido não tem valor se começa a defender os interesses de quem está no partido ou de algum parente. Isso é compadrio. O PT é um partido atrasado, um partido da Velha República, do compadrio. O que ele faz é encher o governo de cargos de confiança, que não dão oportunidade a todos. Nunca se teve no Brasil tantos cargos de confiança. Não é incompetência, não. É falta de espírito público.
Aleluia: "O Democratas vai de Aécio Neves, mas a oposição deve se unir no 2º turno." (foto: Jorge Souza) |
Landisvalth Blog – Como é ser secretário de uma cidade como Salvador, com inúmeros problemas, sendo opositor dos governos federal e estadual?
José Carlos Aleluia – Quando eu assumo o cargo de secretário não partidarizo. Quando assumi, a primeira coisa que encontrei foi uma solicitação do governador para transferir o Metrô de Salvador para o Estado. Doamos ao Estado da Bahia um ativo de 800 milhões de reais, porque era do interesse público. Não transferimos porque o governador era do partido A ou B. Transferimos porque era melhor para o povo da Bahia, para o povo de Salvador e para que se colocasse o Metrô em operação. A passagem do Metrô de Salvador é a mais cara do mundo. Ele custa três milhões por mês e não transporta ninguém.
Landisvalth Blog – Se ACM Neto topar ser candidato a governador, o senhor seria candidato ao senado, por exemplo?
José Carlos Aleluia – Eu sairei candidato. Estou na secretaria para fazer uma transição de humanização da cidade. Em Salvador, os passeios eram território dos carros. Estou tentando fazer com que o povo baiano volte a andar nas ruas. Passeio é para gente, rua é para gente e o carro é uma exceção. As pessoas têm que se deslocar no transporte público. Em cidade grande não tem lugar para todo mundo ter um carro. Fui para lá para tentar organizar o uso do solo, um trabalho que deve durar até o fim do primeiro trimestre do próximo ano. Se ACM Neto for candidato a governador, estaremos juntos. Ele é o candidato que nas pesquisas aparece em primeiro lugar. Neto terá que avaliar o pouco tempo que ele tem frente à Prefeitura do Salvador, onde está fazendo uma revolução. Este crescimento dele também é fruto de um governo de novas ideias, um governo diferente. Quando assumimos, a passagem de ônibus estava sem aumentar há quase um ano e os empresários nos procuravam para perguntar quando teríamos aumento da passagem. Nós dissemos que não haveria aumento este ano, que eles teriam que apertar o cinto e mostrar as contas. Além disso, falamos da necessidade de o povo passear com os filhos e esposas nos fins de semana pagando meia. Por isso que não teve a revolta que ocorreu em São Paulo e no Rio, onde continuaram aumentando os preços. Agora, estamos tentando diminuir ainda mais a tarifa. Como Salvador é uma cidade muito grande, uma pessoa que toma um ônibus na Pituba para ir a Itapagipe, precisa pagar duas passagens. Estamos lutando para que isso acabe e as pessoas possam ter o Bilhete Único, saindo de sua casa e chegando ao destino com apenas um pagamento. Isso dá um trabalho enorme e quero deixar isso organizado. Como trabalhei muito pela eleição de ACM Neto, eu não queria ser secretário, mas não poderia deixar de sê-lo ante ao apelo que recebi. Já que eu tinha trabalhado para ajudá-lo a ser o prefeito, nada mais justo do que ajudá-lo a administrar. Estou lá, mas é uma atividade sacrificante. São mais de 12 horas de trabalho por dia. Trabalhei ontem o dia todo e hoje foi o dia que tive folga para ir ao interior. Fui a Curaçá na Festa do Vaqueiro e estou aqui em Heliópolis na Festa do São Pedro. Tudo que queremos é um projeto novo para Salvador e para a Bahia. A Bahia cansou disso. Vivemos uma das piores secas dos últimos 30 anos e o Governo do Estado não tomou conhecimento da situação. Foi como não fosse com ele. O rebanho bovino baiano era de 12 milhões de cabeças. Hoje não deve ter 8 milhões. O Governo do Estado não concluiu uma só barragem, uma só adutora importante, uma só obra estruturante para o sertão. Acabaram com os projetos que tínhamos. Fizeram apenas projetos para os amigos. Isso não funciona. Política tem ser impessoal. Quando se faz um programa não é para atender os que votaram em mim, mas para atender a todos. A educação da Bahia é hoje uma das piores do Brasil e isso sacrifica o futuro dos nossos filhos, com educação inferior aos jovens de Pernambuco, Sergipe, Minas Gerais, sem contar o Sul. Nós estamos dando menos oportunidades para as crianças no futuro. Por isso precisamos de uma mudança profunda na Bahia. As pesquisas comprovam, de certa forma, que o povo está abusado deste modo de fazer política. O povo cansou.
Landisvalth Blog – Indo para a questão nacional, temos Aécio Neves, Eduardo Campos e Marina Silva disputando o mesmo espaço da oposição. Há possibilidades de uma união eficaz das oposições no Brasil como se vê na Bahia?
José Carlos Aleluia – Nós estamos unidos na Bahia, mas isso não significa necessariamente que teremos um candidato só. Poderemos ter projetos alternativos e, após a escolha do povo, estaremos unidos no 2º turno. A nível nacional é a mesma coisa. O PT encaminhou o Brasil para um projeto errado, para o projeto das empresas dos amigos, ou grandes empresas dos amigos. Agora todos estão vendo pela imprensa um grande empresário amigo de Lula e da Presidenta Dilma, o Eike Batista, que quebrou. Tomou muito dinheiro do governo e quebrou. Enquanto isso, a pequena empresa está massacrada, sem crédito. A governo estimulou o povo a se endividar, não houve investimento em transporte público e trouxe de volta uma coisa que quem tem menos de 25 anos não sabia que existia: a inflação. Ela está aí, fora do controle e o governo está desesperado. Esta eleição será para julgar o governo Dilma. De certa forma já está sendo julgado nas ruas. Os candidatos que estão postos, Aécio Neves, que organizou Minas Gerais e se apresenta com muitas qualidades, é do PSDB, um partido com o qual temos muitas finalidades; tem o governador de Pernambuco, o Eduardo Campos, que está se distanciando do governo há algum tempo porque viu os caminhos que o PT estava trilhando, inclusive com a proteção ao banditismo. Na hora que o PT protege bandidos está protegendo o banditismo. São dois projetos. A própria Marina Silva já se distanciou há mais tempo porque viu que o PT estava caminhando para o lado errado. Então nós vamos ter alternativas. Não acredito que teremos só dois candidatos. O nosso partido, a nível da Bahia e a nível nacional, é bem provável que teremos um diálogo com o PSDB.
Aleluia: "O PT transformou o Brasil numa carroça!" (foto: Landisvalth Lima) |
Landisvalth Blog – Então o senhor acredita nessa virada de página com a eleição do ano que vem?
José Carlos Aleluia – Começar um novo ciclo. O Brasil, quando elegeu Fernando Henrique Cardoso, tinha uma inflação superior a 80 por cento ao mês. Herança da era Sarney. As pessoas pegavam o dinheiro e corriam ao mercado. Acabamos a inflação, vivemos um período de estabilidade e crescimento econômico. Agora o Brasil parou. O México se arrumou e hoje é o carro chefe da América Latina. O Brasil que era o carro chefe passou a ser agora a carroça. O PT transformou o Brasil, que era um carro com mobilidade, com um povo criativo, uma nação rica em recursos naturais, em uma carroça, num país onde ninguém quer investir porque não há segurança nem para as pessoas nem para os investimentos. Portanto é necessário um projeto novo para que o Brasil retome e reinicie um ciclo de crescimento e de melhoria de vida. Tudo que eles colheram estava preparado, rendeu 10 anos e os últimos dois anos foi uma catástrofe. O PT já entendeu que o projeto está errado, a presidenta já entendeu que ela errou. Só que ela está pensando na reeleição e se mudar agora terá sua eleição prejudicada. Então ela vai fazer maquiagem. Usando a linguagem que as mulheres entendem bem: já que não dá para fazer uma plástica, vamos fazer uma maquiagenzinha.
Landisvalth Blog – Para encerrar, Secretário, Salvador está pronta para a Copa?
José Carlos Aleluia – Não. Salvador não se preparou para a Copa, sobretudo para a Copa das Confederações. Não foi feito absolutamente nada do que estava previsto. Nós tínhamos um orçamento de 170 milhões e não tinha dinheiro para isso. Gastamos só 5 milhões. Ainda assim fizemos uma Copa razoável, com muitos esforços dos funcionários da prefeitura e dos baianos em geral. Agora temos que fazer alguma coisa para a Copa do Mundo, que é muito maior que a Copa das Confederações. Fizemos um ensaio. A Copa do Mundo é muito grande, mas não podemos comprometer a vida da cidade, que não vive só de copa. Eu não vou tirar dinheiro da educação ou da saúde para a Copa. Quando os filhos das pessoas ficam doentes não se leva para a Fonte Nova, mas para um posto de saúde. Quando necessitarem da leitura, vão ter que ir para a escola. Ou seja, menos circo, mais escola, mais saúde.
11 de julho de 2013
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