Dilma Rousseff recebeu a nata da bancada do PT. Depois de ouvi-la, um dos deputados presentes deixou o Planalto com a impressão de que alguma coisa subiu à cabeça da presidente. Não sabe muito bem o quê. Mas tem certeza de que não é nada que se pareça com sensatez. O observador petista registrou três passagens:
1. Não é comigo: Dilma fala dos protestos que encheram as ruas como se tivesse uma mochila nas costas. Ela volta no tempo: “Nós viemos das ruas.” E perde a noção do presente, insinuando que o asfalto não ronca contra o seu governo. O escorpião do PT acha que Dilma ainda não se deu conta do que realmente virou: uma presidente com 27 pontos percentuais a menos na coluna da popularidade.
2. As meninas: Participaram da conversa os ministros Mercadante, Ideli e Gleisi. Ouviram-se críticas à desarticulação político-administrativa e à incapacidade de comunicação do governo. Soaram também inquietações com a economia. Dilma defendeu-se do pessimismo econômico. Sobre o resto, deu a entender que concorda.
Ex-meninas superpoderosas, Ideli e Gleisi apanharam caladas. Apenas Mercadante se animou a mover os lábios. E não foi para defendê-las. A certa altura, o companheiro José Guimarães, líder do PT na Câmara, declarou que o governo precisa ser “chacoalhado”. Dilma fez sinal de concordância. O observador petista entendeu que vem reforma ministerial por aí. Acha que pode ajudar. Porém…
Não sabe onde Dilma está com a cabeça que ainda não reformou sua cozinha. Enxerga ali três ex-ministros esperando para acontecer: Mercadante, que já não está na Educação e ainda não foi para outro lugar; e a dupla Ideli-Gleisi, que deveria estar noutro lugar e ainda ocupa a coordenação política/Casa Civil.
3. O fetiche do plebiscito: A conversa durou algo como duas horas. Nesse intervalo, Dilma alternou duas personalidades: a de rainha e a de síndica do condomínio. Com a coroa na cabeça, insistiu na tese do plebiscito já. Coisa que todo mundo enxerga como inviável. Até os cegos.
Com a calculadora nas mãos, Dilma revela enorme preocupação com as emboscadas que seus pseudoaliados lhe preparam no Congresso. Insinua que não há caixa para projetos como o que destina 10% da arrecadação bruta da União para a saúde –uma prioridade do PMDB. O observador petista acha que Dilma precisa se decidir. Optando pela síndica, encontrará ajuda sincera. Se quiser brincar de rainha, será tomada como um caso irreversível de camisa-de-força.
06 de julho de 2013
Josias de Souza - UOL
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