A “nova agenda” é a velha e boa vergonha na cara. E uma correção à nota do Senado
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), vai pagar pelo uso indevido do avião da FAB. A Presidência do Senado divulgou uma nota a respeito. Peço que vocês a leiam na íntegra.
Volto em seguida.
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“O Senado Federal, sensível à nova agenda e aos novos tempos, vem implementando cortes substanciais de seus custos, eliminando redundâncias e ampliando a transparência e o controle social.
Até aqui, para o biênio 2013/2014, foram economizados mais de R$ 300 milhões com a eliminação de redundâncias, revisão e extinção de contratos, redução de 25% dos cargos comissionados e enxugamento das estruturas internas da Casa.
Paralelamente, a nova direção do Senado Federal ampliou a transparência disponibilizando todas as informações relativas a gastos, contratos e despesas da Instituição. Só não estão disponíveis as informações protegidas pela própria lei.
O Senado Federal é o único a contar com um Conselho de Transparência com representantes da sociedade civil que não deixam dúvidas quanto aos propósitos da Casa de ser referência em controle social.
Desta forma, o senador Renan Calheiros está formalizando consulta ao referido conselho para que se manifeste sobre o uso da aeronave para cargos de representação.
Antecipadamente, o senador está recolhendo aos cofres públicos os valores – R$ 32 mil – relativos ao uso da aeronave em 15 de junho entre as cidades de Maceió, Porto Seguro e Brasília, objeto de dúvidas levantadas pelo noticiário.
O Senado Federal reitera seu compromisso de esgotar a pauta de votações elaborada consensualmente entre todos os líderes e que vão ao encontro das demandas da sociedade.
Foram votados, em menos de 10 dias, as novas destinações do FPE, endurecidas as punições para crimes de corrupção, ficha limpa para servidores públicos, a lei do simples para advocacia, royalties para educação e saúde, a responsabilização de empresas envolvidas em corrupção e o fim do voto secreto para julgamento de senadores e deputados.
Estamos realizando sessões de votação também às segundas e sextas-feiras de forma a conferir agilidade e objetividade aos anseios expostos pela sociedade.
Nos próximos dias, estaremos votando a lei do passe livre, a extinção foro privilegiado para deputados e senadores, a eliminação da aposentadoria como pena disciplinar de magistrados e promotores condenados por corrupção ou crime, a diminuição da exigência para apresentação de leis de iniciativa popular, recursos para saúde e educação, a carreira de médico que serão contratados e o combate à tortura.
São ações e práticas que a sociedade cobra e espera do Congresso Nacional. Elas não serão, no mérito ou na agilidade, embaçadas ou prejudicadas por quaisquer diversionismos políticos.
Secretaria de Imprensa da Presidência do Senado”
Voltei
Começo pelo óbvio: Renan Calheiros está tentando transformar obrigação em virtude e, depois, se esforça para pôr a virtude a serviço do vício. Não usar em proveito pessoal um bem público não é “agenda nova”. Trata-se, na verdade, de uma agenda antiga: a velha e boa vergonha na cara.
Observem que, na nota, Renan classifica as críticas ao uso do avião de “diversionismo político”. Diversionismo por quê? Por que ele não tenta provar que o casamento da filha do líder do governo no Senado é assunto de estado, a justificar, então, o uso da aeronave?
Por que deveria ser o povo brasileiro a arcar com os R$ 32 mil da deferência que decidiu fazer a Eduardo Braga (PMDB-AM)?
Listar as ações do Congresso — algumas, de resto, destrambelhadas — como virtudes formidáveis, que compensariam, sei lá, um “deslize” ou outro é pura má consciência, sinal de que ele não entendeu o momento coisa nenhuma.
O presidente do Senado deveria se dispensar de usar como seu o dinheiro público e ser um pouco mais prudente nas votações.
De resto, cumpre fazer uma correção: o que a CCJ votou no Senado não foi o fim do voto secreto para cassações, mas o fim de qualquer voto secreto, o que é ruim para a independência do Parlamento.
06 de julho de 2013
Reinaldo Azevedo
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