Derrotas sofridas por Dilma Rousseff expõem estilo errático de sua gestão, que precisa assumir novos rumos na política e na economia
Desde o dia 21 de junho, quando se manifestou em rede nacional de rádio e TV sobre a onda de protestos que se alastrava pelo país, a presidente Dilma Rousseff tem acumulado graves reveses.
Naquele pronunciamento, a mandatária observou com propriedade que "a nova energia" das ruas poderia impulsionar necessárias mudanças institucionais. A sugestão mais audaciosa nesse sentido veio com a proposta de uma Constituinte exclusiva para promover a reforma política.
Logo, porém, ficou claro que a presidente se havia equivocado ao anunciar tal plano, ao qual nenhuma discussão, nem sequer num círculo restrito de assessores e aliados, dera solidez e coerência.
Nem mesmo o vice-presidente, Michel Temer (PMDB-SP), fora consultado --ele que, líder do maior partido aliado do governo e professor de direito constitucional, já havia produzido um artigo condenando semelhante ideia.
Viu-se então a presidente obrigada a um recuo constrangedor. A intenção seria apenas realizar um plebiscito acerca dos principais pontos da reforma.
Não tardou para que se revelasse o novo engano: o Executivo tentava impor ao Legislativo e ao Judiciário uma agenda irrealista ao defender a conclusão da consulta popular antes do dia 5 de outubro, de modo que suas diretrizes já se aplicassem ao pleito de 2014.
Novamente a iniciativa presidencial frustrou-se. Oposição e parcela dos aliados do Planalto nocautearam a proposta --que poderá ser viabilizada, com sorte, no próximo ano, para valer em 2016.
Tais episódios ilustram um método de atuação que soa como regra no governo federal. Decisões são tomadas ao sabor dos acontecimentos, sem que obedeçam a uma estratégia clara. Parecem produzidas antes por conveniências publicitárias e impulsos pessoais de Dilma Rousseff do que por um projeto capaz de dar continuidade ao desenvolvimento do país.
É o que se tem verificado na área econômica, cuja administração é feita no vaivém do varejo, com temerárias doses de voluntarismo e improviso. São pífios os resultados. A inflação ascende a patamar perigoso, os investimentos caem, as contas públicas se desequilibram e o PIB não decola.
Já é hora de o governo tomar as medidas necessárias para restaurar a confiança e recolocar o país nos trilhos. É preciso enfrentar o inchaço da máquina administrativa, submetida ao loteamento político, e proceder a uma mudança de rumos na economia.
Persistir no caminho do fisiologismo, da ação fortuita e do intervencionismo estatal somente adiará o encontro do Brasil com uma nova etapa de crescimento vigoroso e progresso social.
06 de julho de 2013
Editorial da Folha
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