"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 23 de outubro de 2011

CONTO SOBRE O FIM DA CRISE

Não nos animemos ainda. Não chegou o final da grande recessão. Por enquanto, as autoridades monetárias estão jogando apenas para minimizar os estragos recessivos em cascata, que se acumulam desde 2008.

A crise europeia é mais um capítulo da mesma novela. A grande recessão, de fato, merece o apelido que tem: seu curso de vida é muito longo, e seus desdobramentos mais agudos deverão se estender por mais três anos.

Ao final, teremos tido um largo ciclo recessivo, intermitente, de seis anos, influindo sobre todo o mandato da presidente Dilma. (Ela saberá lidar com isso?).

Mas os contornos finais da grande recessão começam a se esboçar, apesar de longínquos. Os primeiros sinais surgem no debate político americano e europeu.

Fala-se de criar mais e novos impostos. Ah bom! Disso entendemos, nós, brasileiros. Faz mais de uma década que nossa estabilização de dívidas públicas nos exigiu uma brutal escalada tributária. Acontecerá o mesmo na Europa e nos EUA. Não será logo, pois Obama, ou qualquer líder nacional na Europa, não têm a mínima condição de aprovar um aumento de carga agora.

Estamos na fase da descoberta do tamanho do buraco da dívida dos governos e de apontar quanto cada credor sofrerá, em perdas. Em seguida, virá a partilha da conta para os contribuintes americanos e europeus.

A discussão não será fácil, mas os políticos com ambição de subir na escada política já começaram a desvendar o problemaço para os eleitores, prometendo-lhes “a verdade, custe o que custar!”

Já sabemos aonde a conta final irá parar: no bolso dos contribuintes! No Brasil, com nossa carga tributária de burros de tropa, bem conhecemos como o governo nos fez o milagre de estabilizar a economia e produzir a atual conjuntura de sonho.

Colocou oito pontos percentuais de PIB a mais, com tributos de todos os tipos, no lombo dos contribuintes e comprou um chicote bem grande para bater em todos nós sem piedade. Fez isso de 1995 para cá, e a carga tributária brasileira pulou de 28% para 36% do PIB. Com a conta fiscal equacionada, o país começou a se recuperar. Não há milagres…

Essa é a fórmula que políticos do Partido Republicano começam a aventar no cenário americano. Lá, estimo que devam aumentar a carga tributária em seis pontos do PIB, saltando dos atuais 24% para 30%, além de emagrecer as despesas militares e assistenciais.

Um candidato, o governador Rick Perry, do Texas, fala no “flat tax”, ideia interessante de um imposto de renda absolutamente sem deduções ou outras malandragens, que todo mundo pagaria sem exceção.

Outro candidato, Herman Cain, empresário concorrendo, por fora, à eleição presidencial de 2012, propõe uma regra fiscal “9-9- 9″, também engenhosa, mas cujo último número nove representa um novo imposto federal de 9%, tipo Imposto sobre Valor Agregado (IVA) , em acúmulo ao atual Sales Tax cobrado pelos Estados.

Imaginem como o americano comum vai estrilar. As recentes passeatas são só um treino do que ainda está por acontecer. E é assim que acabará a crise. Quando os ricos forem embora com seus anéis a salvo e o povo, conformado com a conta que pagará, for embora para a casa… que também perdeu.

23 de outubro de 2011
Paulo Rabello de Castro
Fonte: Brasil Econômico, 21/10/2011

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