Conselhos privados viraram públicos
Parece intriga. E é, restando saber quem a espalhou e a quem interessou. Fala-se da versão que ganhou a imprensa, ontem, sobre ter estado a presidente Dilma disposta a pedir a exoneração de Orlando Silva, mudando de idéia depois de o ex-presidente Lula recomendar ao ministro do Turismo para não se demitir e ao PC do B para resistir. Quando desembarcou da África, Dilma reafirmou que confiava em que Orlando se defenderia e que continuava a manter sua confiança. Não foi o antecessor, portanto, responsável pela decisão da sucessora.
O que não dá para entender é como os conselhos do Lula, certamente dados em particular, tornaram-se públicos em menos de 24 horas. O ministro não foi o inconfidente, ainda que depois confirmasse o telefonema. Talvez o grupo do PCdoB, ávido de ocupar o ministério, porque a hipótese confirma a tese de que quanto menor um partido político, maiores suas disputas internas. Quem sabe companheiros do PT, de olho num ministério que valia pouco, transformado agora em jóia da coroa por conta da Copa do Mundo e das Olimpíadas?
De qualquer forma, seria bom o ex-presidente tomar cuidado. São muitas as correntes a evoluir em torno do governo, algumas inconformadas com a forma de governar da presidente, sempre inflando o ego do Lula para levá-lo a candidatar-se em 2014. Não se trata apenas de gente do PT. No PMDB, por exemplo, não são poucos os que aspiram pelo retorno do primeiro-companheiro, bem mais complacente na arte de nomear e de acomodar interesses.
Quanto ao próprio, quer dizer, o Lula, deveria tomar mais cuidado. De sua influência viraram ou continuaram ministros Antônio Palocci, Alfredo Nascimento, Wagner Rossi, Nelson Jobim e Pedro Novais – todos levados a demitir-se em condições no mínimo constrangedoras. Orlando Silva também integrou a quota dos salvados do governo anterior.
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LEMBRAI-VOS DE NAPOLEÃO
O espetáculo medieval do assassinato e mutilação do cadáver de Muamar Kadaffi nos leva à suposição de no futuro o falecido passar de ditador a vítima, depois mártir e finalmente a herói em seu país. Será sempre bom lembrar que Napoleão, depois de Waterloo, era mostrado na imprensa européia como o monstro sanguinário isolado em Santa Helena até a morte.
Com os Bourbon outra vez no trono, a Santa Aliança e a volta das monarquias absolutas, ficou sufocado o sentimento majoritário francês, a ponto de divulgarem que o “filho da Revolução” tornara-se o “genro da Reação. Passadas poucas décadas, no reinado de Luis Felipe, com o corpo de Napoleão transladado a Paris, atravessando a cidade em cortejo monumental, milhões de cidadãos ficaram nas ruas para pranteá-lo.
Cada país tem o Napoleão que merece. Kadaffi foi um déspota cruel, impôs sua vontade por 42 anos, mas criou uma nova Líbia, com maciços investimentos em educação e saúde públicas. Melhor aguardar o pronunciamento da História.
Carlos Chagas
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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