"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

LIÇÃO DE PUXA-SAQUISMO

Dilma sempre que ficou sozinha aos microfones falou besteira. Sua fama de administradora deriva unicamente da sua veia autoritária, que tratava funcionários e negociantes com o governo a pontapés.

A coluna do jornalista Fernando Rodrigues, na Folha de São Paulo de hoje, é um exemplo de como se planta notícias e se constrói, em doses homeopáticas, a imagem do governante do dia. Pinço aqui duas informações que foram ali colocadas, absolutamente incompatíveis com a realidade dos fatos:

“A presidente Dilma Rousseff já ganhou a batalha da imagem. Mandou embora seis ministros e ficou com a fama de não transigir com o erro. Pouco importa se no miolo de alguns ministérios a bandalha continue ou se alguns outros ministros também já devessem estar no olho da rua. Para efeito externo, a petista é durona e está fazendo uma faxina na política”.

“Nos seus três próximos anos, é possível que Dilma avance sobre outras áreas e de maneira mais real. Uma delas é a notória ineficiência do setor público”.

O artifício retórico é introduzir uma mentira como se fosse um fato consumado (Dilma Roussef como “faxineira”), fato incompatível com o noticiário que dá destaque à vida e à ação administrativa pouco proba de dois ministros, Carlos Lupi e Mário Negromonte, sobre os quais a presidente não exerce qualquer autoridade moralizadora. E também incompatível com todos os ministros do PT caídos em desgraça, desde o “mensalão”. Aliás, este deveria ser o mote de um artigo decente, a incompatibilidade entre o discurso ético e a ação deletéria da presidente acobertando os malfeitos de seus auxiliares ilustres.

Assim, Fernando Rodrigues se comporta como se fosse uma pena de aluguel, mesmo que não tenha a intenção deliberada de fazê-lo. Está ajudando a criar a imagem mitológica da “faxineira” comprometida com a ética.

Quanto à competência, esse campo nunca foi o forte do PT e da antiga ministra da Casa Civil, ora presidente. Lula assumiu que era despreparado do ponto de vista técnico e levou a vida presidencial em cima de palanque, fazendo populismo barato. Dilma sempre que ficou sozinha aos microfones falou besteira, revelando despreparo equivalente. Sua fama de administradora deriva unicamente da sua veia autoritária, que tratava funcionários e negociantes com o governo a pontapés. Isso não é e nunca foi competência, apenas despreparo, falta de liderança.

Fernando Rodrigues é dos melhores jornalistas em atividade. Dá para imaginar o que são os piores. E os alugados.

Nivaldo Cordeiro, 26 Novembro 2011
Folha de S. Paulo

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