"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

CARNAVAL DO BRASIL OU BRASIL DO CARNAVAL?

Relação entre a folia e a formação da identidade brasileira é via de mão dupla, garante especialista.

De um lado, alegorias suntuosas, fantasias repletas de brilho e luxo e celebridades instaladas em disputadíssimos camarotes. De outro, subúrbios decorados com confete e serpentinas, sprays de espuma e a simplicidade de pessoas de todas as camadas sociais que tomam ruas e praças nesta época do ano.
O que vem primeiro à cabeça quando se fala em Carnaval brasileiro?

Ainda que essas duas facetas da folia possam parecer divergentes à primeira vista, na verdade, elas têm muito mais do que o calendário em comum. Para a professora Helenise Monteiro Guimarães, vice-diretora da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisadora de cultura popular e Carnaval, a festa carnavalesca é um dos eventos que melhor traduz a riqueza e a multiplicidade das manifestações culturais do Brasil. Ao mesmo tempo em que o feriado mais aguardado e comemorado pela maioria do povo apresenta uma tendência cada vez mais clara de espetacularização — marcada pela competição e disputa no desfile das escolas de samba —, ele também conserva traços de festa popular e profana, com o ressurgimento de blocos, bandas, grupos de bate-bolas, afoxés, bailes carnavalescos de clubes e bailes gays.

“Ao longo do século XX, o Carnaval brasileiro foi divulgado no exterior como cartão postal nacional. A mídia teve papel fundamental nesta exposição, mas foram os indivíduos – brincantes, profissionais, turistas e o público em geral – que consolidaram o diferencial de nossa festa, exportada hoje para diversos países”, ressalta Helenise Guimarães, que também é jurada do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro no quesito ‘Alegorias e Adereços’.

Caldeirão de cultura e símbolo do povo

Se hoje as agremiações competem entre si na avenida, a disputa em outros carnavais era com outro adversário. Quando as escolas de samba surgiram no Rio de Janeiro, ainda no final da década de 1920, o Carnaval privilegiava os bailes de gala, como o do Theatro Municipal. A demanda por sofisticação e elegância devia-se a um projeto das autoridades — como o prefeito Pereira Passos, famoso pelas grandes transformações urbanas que empreendeu durante seu governo — que visavam tornar a cidade atrativa para personalidades estrangeiras.

“O que marcaria a vitalidade das escolas de samba seria a luta por encontrar lugar em um cenário no qual primavam os bailes de gala”, explica a pesquisadora. “Se antes o Carnaval era uma festa estratificada, a escola de samba veio para integrar camadas sociais diferentes e se tornar, com o desfile, o elemento central do evento mais importante da cidade, tão emblemático que se transformou em um modelo copiado e revisto em outros estados”, completa.

Segundo Helenise Guimarães, foi a partir daí que se criou um modelo de Carnaval brasileiro. Nascido no Rio de Janeiro, o conjunto que gerou o que vemos atualmente se espalhou pelo país, ganhando características regionais. Nesse processo, tanto a identidade brasileira fabricou um Carnaval diferenciado dos demais realizados em outros paises quanto a essência carnavalesca contribuiu para a formação de nossa brasilidade.

“A contribuição do Carnaval para a ‘identidade brasileira’ é a de reafirmar nossa multiplicidade cultural e capacidade de reunir grupos de indivíduos de diferentes níveis socioeconômicos com a mesma força demonstrada, por exemplo, pelo futebol e a paixão de suas torcidas unificadas na grande competição que é a Copa do Mundo”, esclarece Helenise Guimarães.

É justamente nessa miscelânea de cores, músicas, cantos e danças que reside a importância — sociocultural, econômica, política, artística e histórica — do Carnaval para os brasileiros, garante a pesquisadora. “Este é o mistério que cerca a nossa grande festa: a soma da sensualidade de rainhas, o suor de ritmistas e a grandiosidade plástica de alegorias, mas também o mar de multidões que tomam conta das ruas, dos coretos dos bairros ainda existentes e dos bailes que atravessam as madrugadas, para tudo ultrapassar – sempre – a Quarta-feira de Cinzas”, filosofa.

Camilla Muniz
19/02/2012

Caro leitor,

Em sua opinião, qual o maior símbolo do Carnaval brasileiro?

Você considera o Carnaval uma festa democrática?

Qual a importância do Carnaval para o povo brasileiro?


NOTA AO PÉ DO TEXTO

Eu hein!!! Falta mesmo do que escrever...
É aquele verso "quem não tem colírio usa óculos escuros..."
Até parece aquelas velhas propagandas de cigarro, sempre associadas à saúde e aos esportes, provando que câncer é coisa de gente ignorante ou que tem asma...
Ingenuidade ou provocação? Será que ela acredita mesmo que o carnaval contribuiu de fato para a "identidade da cultura brasileira", reafirmando sua "multiplicidade"?!? Então está tudo explicado!!! Tudo e mais alguma coisa!
E vamos cair na folia, já que na quinta-feira voltamos a nossa identidade cultural: corrupção, mensalão, consultorias variadas, fraude eleitoral e muitas outras folias, e que não são do velho momo...
m.americo

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