"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

CARNAVAL PER OMNIA SAECULA SECULORUM...

PARADA GERAL
O Brasil não parou para brincar Carnaval; o Brasil continuou parado. Dilma foi espraiar suas ideias; deputados e senadores, tiraram dez dias para descansar e o povo caiu na gandaia de sempre.


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Carro alegórico na Marquês de Sapucaí. Carnaval de 1982. Hoje, 30 anos depois, o roteiro é o mesmo. A diferença é que confétis, serpentina e purpurina são eletrônicos.

MESMICE
É comovente como esses carnavalescos e coreógrafos se matam o ano inteiro para mostrar nos sambódromos por aí a mesma coisa que mostram per omnia saeculo seculorum, amém. E pra tudo se acabar na quarta-feira.

NOVIDADE
De ano para ano, de Carnaval para Carnaval, a única novidade é uma que outra vinheta da TV que nem a Globeleza é mais bonita que a primeira aquela do alemão que descobriu o ouvido da minhoca.

PAUTA QUE PARIU
De uma folia para outra, não mudam nem mesmo as perguntas dos repórteres. E as respostas são cheias de uma imensa novidade do Carnaval que passou. É a verdadeira pauta que os pariu.
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VELHA ORIGINALIDADE
As fantasias dos destaques das escolas têm a mesmice dos ornatos, luxo e originalidade dos eternos Clóvis Bornay, Evandro de Castro Lima e do insistente aprendiz de folião plastificado Mauro Rosas. Fazem a alegria apenas dos estilistas e costureiros oficiais do tríduo momesco.
ENREDO
Os sambas-enredo são sempre a mesma marcha-rancho em 78 rotações, céleres e fora de compasso rumo à apoteose. As letras só mudam de escola.

SAMBA NO PÉ
Os passos dos sambistas têm a propriedade de serem iguais àqueles que suas bisavós ensinaram para as suas avós que ensinaram para as suas mães que ensinaram a vocês que têm samba no pé e que, de novidade, apresentaram na passarela só os sapatos.

PIORRÉIAS
As baianas, sempre filmadas de cima, parecem aquelas piorras loucas e coloridas que as crianças do Brasil Sem Miséria ganham em todos os Natais. Como sumiram as colombinas e o arlequins, as piorréias vieram vestidas de baianas.

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PIPI
As modelos que pagam para ser raínha da turma da banda por três dias exibem todas o indefectível sorriso de botox e seios inertes, inodoros e insípidos feitos do mesmo silicone Pipi, bom, bonito e barato.

RESSACA
Se houve alguma mudança radiacl deste para os outros carnavais, foi na ressaca. A turma já não bebe o que bebia antes; prefere dirigir.

SURPRESA NO RIO
Só o Rio preparou alguma surpresa neste Carnaval: nenhum bueiro explodiu. Em todo caso, televisão prevenida vale por duas: a Globo montou sua cabine de transmissões lá em cima, às alturas do Corcovado, sobre a Marquês de Sapucaí.

PRECONCEITO
Até nos quesitos mais simples faltou imaginação. Todas as escolas exibiram preconceito. Nenhuma delas sequer cogitou de colocar no Sambódromo um casal gay para Mestre Sala e Porta Bandeira. Aí, gentem! Estamos no 3° milênio; século 21!

PARAÍSO
De bom mesmo e que sempre vale a pena ver de novo, é que tinha mais bumbum na passarela do que essas igrejas de esquina que dizimam seus fiéis. As avenidas são verdadeiros paraísos. Dá vontade de morrer e ir pro céu.

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O BRADO DE BANGU
Quanto ao grito de exaltação das escolas detonado pelos puxadores de samba, há quem jure por todos os santos e bichos soltos que, no caso da Beija-Flor de Nilópolis, o brado foi dado lá em Bangu. O pessoal reconheceu a voz de Anísio Abraão David. Há controvérsias. Os agentes penitenciários não confirmam. Acham, inclusive, que o grito se ouviu foi apenas o eco dos velhos carnavais dos anos 80, de Anísio na Avenida.

FECHA ALAS
Os carros Abre-Alas são, como em todos os carnavais, justamente aqueles que empacam o desfile.

DESTAMPADA
Teve uma passista quarentona que foi parar na Sapucaí fantasiada só de tinta e "tapa-sexo". Bobagem, a sua cara já era uma indecência.

SORTEIO
Os sambas-enredo eram todos tão parecidos que as escolas só não brigaram feio entre si porque, no meio do barraco, resolveram decidir a autoria e o direito de apresentá-los jogando par-ou-ímpar.

Anísio Abraão - Sapucaí Anos 80

NAUFRÁGIO
E foi tudo sempre igual. As passistas, todas elas sem tirar nem pôr, se remelexeram e espernearam como se estivessem se afogando, sem saber nadar. Um sufoco.

PURPURINA NA CUECA
Em suma: índio no Brasil só é feliz de mentirinha. Índio de Carnaval é outra coisa. De resto e comme d'habitude, dá-se nas passarelas um festival de pelos pubianos fantasiados de purpurina. Intocáveis para quem não quer chegar em casa no ânus da madrugada com mancha de gandaia na cueca.

APOTEOSE
Repórter: - Deu pra suar?
Raínha da Bateria: - Dei, mas valeu a pena!

20/02/2012
sanatório da notícia

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