Daniel Pipes, 14 Fevereiro 2012
Internacional - Europa
Lembre-se deste nome, Castelorizo, você ouviu falar dele aqui pela primeira vez.
Trata-se da ilha mais remota e mais oriental das ilhas da Grécia, a 130 quilômetros da Ilha de Rhodes, 274 quilômetros a oeste de Chipre e apenas 1,6 quilômetros da costa da Turquia. Castelorizo (em grego Καστελόριζο ou oficialmente Megisti, Μεγίστη) é minúscula, compreendendo apenas 13 quilômetros quadrados, além de outras ilhas desabitadas do arquipélago, ainda menores. Seus 430 habitantes estão bem abaixo dos 10.000 do século XIX. O guia de viagens Lonely Planet escolheu-a uma das quatro melhores ilhas gregas (das milhares) para mergulho e snorkeling. Não há transporte público da adjacente Anatólia, somente da distante Ilha de Rhodes, de avião ou balsa.
Acima: ZEE da Grécia com Castelorizo. Abaixo: ZEE da Grécia sem Castelorizo.
O fato de Atenas controlar esse filete de terra implica que ela poderia (mas ainda não o fez) reivindicar uma zona econômica exclusiva (ZEE) no Mar Mediterrâneo que reduziria a ZEE turca a uma fração do que seria se estivesse sob controle de Ancara, conforme as ilustrações dos mapas reproduzidos a partir do jornal cipriota I Simerini mostram. O mapa acima mostra o que seria a reivindicação integral da ZEE das 200 milhas náuticas gregas e o controle da ZEE de Castelorizo (indicado pela seta vermelha), o mapa abaixo mostra a ZEE grega tirando Castelorizo (indicado pela seta branca).
Caso Atenas reivindique a ZEE integral, a presença de Castelorizo tornaria sua ZEE contígua com a ZEE de Chipre, fator de grande importância no momento, quando das descobertas das imensas reservas de gás e petróleo na costa. Castelorizo com a ZEE beneficiaria a aliança emergente Grécia-Chipre-Israel, tornando possível o transporte tanto de gás natural cipriota e israelense (via gasoduto) como de eletricidade (via cabo) para a Europa Ocidental sem permissão turca. Esse quadro assumiu uma urgência especial desde 4 de novembro, quando o ministro da energia da Turquia, Taner Yıldız, anunciou que seu governo não irá permitir o fluxo de gás natural israelense através do território turco, Ancara provavelmente também irá banir as exportações cipriotas.
O primeiro ministro da Turquia Recep Tayyip Erdoğan e seus colegas no partido AKP, ora no governo, aceitam o controle grego sobre Castelorizo e as seis milhas náuticas de águas territoriais, não mais que isso e certamente não o direito integral da ZEE. Sem dúvida, do ponto de vista deles, a asserção grega de uma ZEE constitui um casus belli. Neutralizando Castelorizo, Ancara poderá reivindicar uma enorme área econômica no Mediterrâneo e bloquear a cooperação entre seus adversários. É por esta razão que a ilha poderá se tornar um ponto crítico.
Vários acontecimentos apontam para a intimidação da AKP contra Grécia no que diz respeito a Castelorizo. Primeiro, em setembro autorizou um navio norueguês, o Bergen Surveyor, acompanhado de outras embarcações, a iniciar a prospecção de gás e petróleo ao sul de Castelorizo, incluindo algumas plataformas continentais da ilha. Segundo, navios de guerra turcos conduziram um treinamento com balas de verdade entre Rhodes e Castelorizo. E por último, aviões de guerra turcos sobrevoaram Castelorizo quatro vezes em 2011, não raramente voos rasantes com aeronaves de reconhecimento.
Essa beligerância se encaixa em um contexto mais amplo. O governo AKP, principalmente após ter assumido total controle das forças armadas no final de julho, acabou demonstrando uma hostilidade cada vez maior para com Chipre, Israel,Síria e Iraque. Além disso, faz muito tempo que Ancara tem negado a Chipre a sua ZEE, portando-se da mesma maneira em relação a Castelorizo, apoiando-se em uma política já consolidada. De fato, a brutal conquista dos turcos em 1974, com o uso de napalm, dos 36 porcento do norte de Chipre abriu um precedente para se apoderar de território adjacente da ilha. Capturar Castelorizo levaria mais ou menos o mesmo tempo que ler esse artigo.
George Papandreou, então primeiro ministro da Grécia, em visita a Castelorizo em abril de 2010.
Até o momento, as reações ao aumento da agressividade turca no Mediterrâneo se concentraram na dissuasão das simulações no que tange as reservas de gás e petróleo na ZEE cipriota, com as frotas e declarações dos Estados Unidos e Rússia defendendo o direito da República do Chipre de explorar seus recursos econômicos. O presidente cipriota Demetris Christofias avisou que se Ancara persistir com a diplomacia das canhoneiras, "haverá consequências que certamente não serão boas". O Vice-Ministro das Relações Exteriores de Israel Danny Ayalon comunicou aos gregos que "se alguém tentar contestar as prospecções, estaremos a postos" e seu governo aumentou a segurança não apenas para seus próprios campos marítimos mas também para áreas de prospecção em águas cipriotas. Pelo menos em uma ocasião, aviões de guerra israelenses confrontaram navios turcos.
Sinais claros mostrando determinação são bem-vindos. À medida que a União Européia pressiona a Grécia a prospectar hidrocarbonetos com o objetivo de encontrar novas fontes de renda, ela também deveria apoiar Atenas reconhecendo a sua ZEE, rejeitar a criação de problemas por parte do AKP vis-à-vis a Castelorizo e mostrar com clareza as terríveis consequências para a Turquia em relação a alguma aventura quanto a ilha, agora alegremente famosa com seus mergulhos e snorkeling.
Daniel Pipes, 14 Fevereiro 2012
Publicado no National Review Online.
Original em inglês: Kastelorizo - Mediterranean Flashpoint?
Tradução: Joseph Skilnik
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A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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