Olá Janer!
Em seu último texto você escreveu que o politicamente correto é "um cacoete ideológico, surgido nas universidades americanas nos anos 80", e que "a linguagem PC - politicamente correta - é o stalinismo aplicado à linguagem. Stalinismo curiosamente oriundo de uma nação que se jacta de defender a liberdade".
Isto me fez lembrar de um livro que comprei em um sebo em 2010 e que li no ano passado. Ao pesquisar sobre a "linguagem PC" na internet, eu quase sempre topava com este tipo de informação, qual seja, a de que o "politicamente correto" surgiu em tempos recentes, como as décadas de 1970 ou 1980, nas universidades americanas. Mas aí, veio o tal livro que eu comprei. O título é Child of the Revolution, e o autor é Wolfgang Leonhard. Velhinho, papel amarelado, algumas páginas soltas, me custou só R$ 5,00, mas prendeu minha atenção do início ao fim. Foi escrito em alemão na década de 1950, traduzido para o inglês e publicado em Chicago em 1958, pela Henry Regnery Company.
O livro é um relato autobiográfico. O autor era um menino em 1935, e sua mãe era comunista havia anos, participante da Spartakusbund e membro do partido comunista desde 1918. Em 1935, podendo escolher entre o exílio no Ocidente ou na URSS, ela escolheu o inferno de Stálin, e para lá carregou seu filho. O resto do livro é um relato da vida de um jovem emigrado no inferno stalinista. Ele foi separado da mãe (que foi presa, como acontecia frequentemente), mais tarde foi enviado a uma escola do Komintern em um lugar remoto no fim do mundo, e foi treinado para ser uma das lideranças naquilo que viria a ser a Alemanha Oriental após a guerra. No fim das contas, o autor foi ficando desgostoso com o stalinismo (mas não com o socialismo), e resolveu fugir para a Iugoslávia. O livro termina com sua fuga para o país de Tito. Pesquisando depois, eu soube que posteriormente ele foi para os Estados Unidos e tornou-se professor em uma universidade norte-americana.
Voltando ao politicamente correto, eu fiquei surpreso quando cheguei à página 227 do livro (no capítulo que relata sua vida na escola do Komintern) e me deparei com esta afirmação: "We had to learn how to compose, within an hour, a 'politically correct' leaflet on any subject set us. The subjects chosen for the purpose were by no means easy" (as aspas na expressão "politically correct" estão no original, mostrando que o autor quis enfatizar o termo). E aí ele passa a dar exemplos de assuntos que deveriam ser "traduzidos" para o jargão politicamente correto e distribuídos em panfletos para os comunistas fora da Rússia, como uma declaração de Goering de 1942 sobre racionamento de alimentos.
Na há dúvidas, portanto, que a expressão "politicamente correto" já existia pelo menos desde o início da década de 1940, e fazia parte do jargão do regime stalinista. A função do "politicamente correto" na URSS também era muito parecida com a ideia atual, pois era basicamente a adaptação de qualquer informação (o autor diz que eles analisavam até encíclicas papais) ao linguajar que os comunistas consideravam "aceitável".
Se esta praga da linguagem PC ganhou a notoriedade que tem hoje a partir de trabalhos feitos em universidades estadunidenses na década de 1980, eu acho que podemos dizer que ela não surgiu nos Estados Unidos, mas provavelmente na Rússia. Os ianques apenas fizeram um trabalho de atualização de mais uma porcaria criada pelos comunistas na época de Stálin.
Um grande abraço!
Humberto Quaglio
28 de fevereiro de 2012
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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