"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

NO BRASIL, ASSALARIADOS PAGAM MUITO MAIS IMPOSTOS QUE AS EMPRESAS

Exatamente isso como está no título. Os assalariados, em nosso país, pagam muito mais impostos do que as empresas, a começar pelo Imposto de Renda, que representa uma tributação direta. Mas há as indiretas, como as relativas ao federal IPI e ao estadual ICMS, cujos valores, é claro, estão sempre embutidos nos preços. O que é lógico.

Porém o ilógico é a legislação permitir que as empresas deduzam de seu IR, na declaração anual de ajuste com é chamada pela Fazenda, tributos que transferiram aos compradores de seus produtos. A dedução, assim, dá ampla vantagem tanto à indústria quanto ao comércio.

Por exemplo: se uma pessoa compra um automóvel paga a incidência do IPI e do ICMS. Cerca de 35% do valor total. Muito bem. Vamos supor que a compra foi feita no ano passado, para exemplificar melhor e mais concretamente. No ajuste de 2012, a montadora e a revendedora abatem de seus compromissos a carga tributária. Mas não foram elas que pagaram. Fomos nós, compradores. Pagamos e não temos o direito de reduzir o desembolso no ajuste relativo às pessoas físicas. O privilégio está restrito às pessoas jurídicas.

Uma injustiça flagrante, como se constata, e que bloqueia a redistribuição de renda no país. Mas eu iniciei o artigo me referindo mais ao IR. Leitor do Diário Oficial, encontro o decreto 7680 da presidente Dilma Rousseff na edição extra de 17 de fevereiro. Estabelece o programa financeiro e orçamentário para este ano, incluindo o cronograma de desembolso mensal. Matéria administrativa.

Entretanto, na página 5, está divulgada a previsão das receitas. Aí então verificamos que, para o IR, existe uma previsão da ordem de 262,9 bilhões de reais, Janeiro a Dezembro. Deste total, o imposto incide sobre o trabalho está projetado em 124,1 bilhões. E o incidente dobre o capital na escala de 114,2 bilhões. Além destas parcelas, uma terceira, referente à arrecadação na fonte, no valor de 24,6 bilhões de reais.Como se pode facilmente traduzir em matéria de política fiscal, tudo menos redistribuição de renda.

Até porque, tenho dúvida se a parcela de 24,6 bilhões do desconto na fonte refere-se ou não, conjuntamente, ao trabalho e ao capital. Se for em partes iguais, o salário está ainda mais taxado. Se a incidência referir-se mais ao trabalho, então, a diferença se amplia. O desafio é de que forma poderá haver distribuição de renda num panorama como esse? A resposta é difícil.

A redistribuição tem que ser do capital para o trabalho e não do trabalho para o próprio trabalho, elevando-se o mínimo, como invariavelmente tem ocorrido, acima dos demais salários. O mínimo, a partir do governo Lula, tem superado a inflação do IBGE. Mas e os demais vencimentos? Estes, depois de perderem disparado no governo FHC, passaram a empatar a partir de 2003. Empatar. Porém resgatar os prejuízos que ficaram no tempo nem se cogita.

O IBGE apontou uma inflação acumulada de 101% ao longo dos mandatos de Fernando Henrique. E um índice inflacionário de 56% no decorrer dos períodos de Lula. Mais 6,3% no primeiro exercício de Dilma Roussef. Calculando-se os montantes, chegamos a um patamar em torno de 230% de 95 a 2011. Qual o salário, acima do piso que alcançou tal reajuste? Nenhum.

Qualquer pessoa pode fazer o cálculo. Basta multiplicar o que ganhava em 95 por 3,2 vizes e comparar com o que recebe hoje. Pode, se quiser, considerar mais de um emprego. Não se trata de fonte pagadora. E sim de recebimento. A enorme maioria dos que não acompanharam a velocidade de 230 pontos, passou a ganhar menos, ainda por cima teve (e tem) que pagar mais impostos. Redistribuição de renda, só no papel, não significa nada . Apenas uma farsa.

28 de fevereiro de 2012
Pedro do Coutto

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