"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 29 de março de 2012

DEMÓSTENES TORRES, O IRMÃO DO JÔ SOARES E OS DITOS POPULARES

Todo inferno astral vivido pelo senador Demóstenes Torres (DEM-GO) é fruto do jeito sujo de fazer política adotado pelos parlamentares brasileiros. Sim, sem tirar nem pôr, o desfecho óbvio de qualquer relação não ética é o escândalo. Afinal de contas, “a mentira tem perna curta”. Esse ditado, além de sábio, se traduz constantemente em realidade.

Poderíamos até dar um desconto (menos de 1%) para essa “amizade” apregoada por Demóstenes – em relação a Carlinhos Cachoeira – se ela viesse de sua tenra infância. Pois, ninguém é capaz de saber se um grande amigo de brincadeiras vai se transformar em gângster ou em herói. Mesmo assim, “como é de pequeno que se torce o pepino”, caberia a Demóstenes escolher entre manter ou não essa incômoda amizade de infância.

Contudo, o simples fato de utilizar um telefone habilitado nos EUA para tentar escapar de possíveis escutas, já demonstra perfeitamente que, mais do que um telhado de vidro, a relação entre os dois era conscientemente ilícita.

Ao mesmo tempo – exatamente como fazia o PT antes de assumir o governo – Demóstenes se arvorou em defensor da ética e da moralidade pública para o eleitorado e para a imprensa nacional. Assim, a descoberta de suas relações com um criminoso conhecido e de longa ficha, muito mais do que chocar, mostra como os políticos brasileiros desconhecem completamente conceitos como moral e ética política.

Por mais que alardeiem aos quatro ventos suas posturas “éticas” e sua indignação diante da descoberta dos deslizes de seus colegas, nossos políticos não conseguem se desligar de suas próprias ligações perigosas e de suas intermináveis relações com empresários corruptores, escroques de toda sorte e corruptos contumazes.

Muito mais do que viver um inferno astral, Demóstenes Torres “colhe o que plantou” e sofre os efeitos de sua conduta aética. Seja lá qual for o desenlace desse drama, a única certeza que fica é (além da já batida “confiar desconfiando”) a incapacidade de “nossos representantes” assumirem plenamente a dignidade e os deveres do cargo para o qual foram eleitos.


Outro fator que nos causa estranheza e perplexidade é o comportamento do Procurador Geral da República Roberto Gurgel. Sabedor das gravíssimas acusações que recaíam sobre Demóstenes Torres desde o ano de 2009, o ilustre “irmão gêmeo do Jô Soares” nada fez. Engavetou as investigações da polícia Federal por três anos e apenas agora – depois de pressão popular e política intensa – resolve abrir investigações sobre o caso.

Certamente “embaixo desse angu tem carne” e a bondade do procurador também deveria ser investigada. Pois, se o encarregado de fiscalizar os três poderes e de ser a “voz do povo” contra os desmandos praticados pelas autoridades republicanas se cala diante de fato tão grave; como compreender que isso seja um bom desempenho de suas atribuições?

Infelizmente, como tudo mais na política nacional, “nesse mato tem coelho” e há muito mais do que os sorrisos e desculpas esfarrapadas do procurador deixam transparecer. Resta saber quem “levantará essa bola” se nem a grande imprensa parece estar interessada nesse “pequeno detalhe”.

Ora, caro leitor, todos nós sabemos que Carlinhos Cachoeira tem em seu “círculo de amizades” muito mais “excelências” do que Demóstenes Torres e, se “cutucado com vara curta”, pode querer trazer à luz suas relações de amizade que ainda dormem obscurecidas pelo manto do anonimato e pelo silêncio providencial do Procurador da República. Com toda certeza, não é do interesse de nenhum deles que isso mude.

Pense nisso.

29 de março de 2012
Arthurius Maximus

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