Ao migrar dos gramados para o tapete da Câmara, Romário trocou os pés pela língua. Mas não perdeu o cacoete de atacante. Neste sábado (17), o deputado pedurou em sua página no Facebook comentários ácidos sobre a Copa de 2014.
“É uma pena ouvir nas rádios, ver na TV, abrir os jornais e ler que o governo federal se uniu à Fifa para que a Copa do Mundo seja a maior de todos os tempos. Uma mentira descabida! Não será a melhor e nós vamos passar vergonha”, anotou.
Queixou-se da ausência de representantes do Congresso na audiência concedida na véspera por Dilma Rousseff ao presidente da Fifa, Joseph Blatter. “Se continuar acontecendo coisas erradas e estranhas como esse encontro do Blatter com pessoas que não são ligadas a Lei Geral da Copa, ela será uma merda.”
Romário (PSB-RJ) foi à canela: “O governo federal está enganado o povo. E a presidente Dilma está sendo enganada ou se deixando enganar.” Convocou as arquibancadas: “Brasileiros, continuem cobrando e se manifestando, porque essa palhaçada vai piorar quando tiver a um ano e meio da Copa.”
Pisou na rótula: “O pior ainda está por vir, porque o governo deixará que aconteçam as obras emergenciais, as que não precisam de licitações. Aí vai acontecer o maior roubo da história do Brasil.”
Romário prosseguiu: depois da violação das arcas, “eu quero ver se as pessoas que apareceram sorrindo na foto durante a reunião de ontem [de Dilma com Blatter] vão querer aparecer. Esse Brasil é um circo e os palhaços vocês sabem bem quem são.”
Deve-se o destampatório de Romário à composição da mesa do Planalto. Referiu-se à reunião como uma dessas “coisas que só acontecem no nosso país”. Percorreu a lista dos presentes: “O presidente da Fifa vem ao Brasil e se encontra com a presidente Dilma. Até ai perfeito!”
“Nesse encontro estão presentes Aldo Rebello, ministro dos Esportes, ok; Pelé, embaixador honorário do Brasil para a Copa do Mundo de 2014, ok; Ronaldo, conselheiro do Comitê Organizador Local (COL), ok. Só uma pergunta: qual dessas pessoas têm a ver com a Lei Geral da Copa? Nenhuma.”
Listou os ausentes: “O presidente da comissão da Lei Geral da Copa, Renan Filho [PMDB-AL], não estava lá. O relator da Lei da Copa, Vicente Cândido [PT-SP], também não. O presidente da Casa onde será votada a lei, Marco Maia [PT-RS], também não estava presente.”
Tomado pelas palavras, Romário avalia que ele próprio deveria ter recostado os cotovelos na mesa de reuniões do Planalto: “Muitos outros que têm muito a ver com a Lei Geral da Copa não estavam presentes.” Voltou a mirar a canela: “Na minha concepção de político, a política vai de mal a pior.”
De novo, foi para a galera: “O povo tem total razão de reivindicar e cobrar principalmente mais seriedade e responsabilidade das pessoas que tem autonomia para decidir coisas importantes como essa (Copa do Mundo).”
Terminado o encontro do Planalto, o ministro Aldo Rebelo levou Joseph Blatter ao encontro de um grupo de deputados. Entre eles alguns dos que Romário gostaria que tivessem participado da reunião do Planalto –o presidente da Câmara Marco Maia, por exemplo.
Rebelo, Blatter e os deputados trocaram afagos e sorrisos ao redor de espetos de picanha. A julgar por sua manifestação radioativa, Romário parece avaliar que a Lei Geral da Copa mereceria um encontro mais formal. Uma reunião em que a conversa não fosse entrecortada pela mastigação do churrasco.
18 de março de 2012
Josias de Souza
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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