"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 7 de junho de 2012

COMPANHEIROS, CHEGA!

É conhecida mas merece ser recontada a história daquele jornalista italiano, comunista ferrenho, a quem coube editar o primeiro número do jornal do partido depois de décadas de censura e perseguição pelo regime fascista de Mussolini. Os alemães haviam abandonado Roma, as tropas do general Mark Clark estavam às portas da cidade e toda imprensa recém libertada preparou, para aquele dia inesquecível, manchetes entusiasmadas como “Benvindos salvadores!”, “A Itália agradece à América”, “Todos às ruas para aplaudir os libertadores”. O nosso comunista, porém, destoou: “Americanos, fora de Roma!”

Era uma premonição, uma provocação ou uma bobagem? Tanto faz, mas o episódio se conta a propósito do que poderia ser, mas tão cedo não será a manchete de um de nossos jornalões: “Chega de PT!”, “Companheiros, ninguém aguenta mais!”, “Chegou a hora de mudar!”

A verdade é que a saída dos libertadores de Roma parece longínqua, entre nós. O PT, conforme as pesquisas, vencerá as eleições de 2014, com Dilma ou com Lula. Sem dúvidas a maioria da população apóia, senão apenas o partido, com certeza suas figuras exponenciais. E com razão, reconheça-se, pois como os americanos prestes a libertar a Itália, os governos do PT libertaram muita gente da miséria, da pobreza absoluta e do desemprego. Foi criada uma nova classe média que só tem que aplaudir o Lula e sua sucessora, pronta para a reeleição. Se ela não quiser, o antecessor e mentor entrará em campo outra vez. Aliás, de onde nunca saiu.

O problema, para quem se dedicar à ousadia de olhar mais adiante, é que os americanos esgotaram seu modelo imposto aos italianos. Logo as massas perceberam o engodo e os partidos Socialista e Comunista, junto com a Democracia Cristã, reivindicaram e conquistaram o governo adaptado às características de seu povo, mesmo conflitantes.

Aqui, algum dia, acontecerá a mesma coisa. Deverá esgotar-se o figurino imposto pelos companheiros, aqueles que em prol dos menos favorecidos oprimem a classe média. Ironicamente, ampliada por eles. Desde a ascensão do Lula ao poder prevalece a grande contradição: melhoria para as massas e, ao mesmo tempo, benesses e favores para as elites. A conta vem sendo paga pelos que ficam entre os dois extremos.

Com a ilusão de chegar ao topo e o medo de retornar ao porão, cada vez mais o cidadão comum abrirá espaço. Será a vez daquele que paga impostos, carece de políticas públicas eficazes, assiste a redução de seu salário e o fracasso de seus pequenos empreendimentos, percebendo haver sido garfado pela necessidade de uns e a esperteza de outros.
Não se sabe quando, talvez demore tempo, mas haverá que esperar a inevitável manchete de algum jornal, exprimindo o sentimento majoritário: “Companheiros, chega!”

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AGORA VAI

Nenhuma dúvida como resultado da sessão administrativa do Supremo Tribunal Federal, ontem: o julgamento dos réus do mensalão será realizado em agosto e setembro. O ministro Ricardo Lewandowski conclui em poucos dias o seu relatório e os demais ministros já começaram a examinar os autos do processo, até preparando suas intervenções com base nas conclusões do ministro Joaquim Barbosa. Seria prematuro e perigoso supor resultados, seja pela absolvição, seja pela condenação, mas julgados os 38 mensaleiros estarão, antes das eleições municipais de outubro. Desesperados ou confiantes…

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