NÃO VALE O ESCRITO
14 de dezembro de 1968. O Brasil acordou com o AI-5 na cabeça e o ministro da Justiça Gama e Silva com a ressaca na boca. Iracema Silveira, mulher de Joel Silveira, telefonou cedo para Rubem Braga:
- Prenderam Joel. Cuide-se.
- Vou tomar uma providência.
E fugiu. Foi para a casa de Fernando Sabino. À tarde, ligou para a casa dele, em Ipanema, a empregada tinha notícias:
- Chegaram aqui dois homens de cabelinhos cortados, com um jipe lá embaixo, procurando o senhor.
***
ADONIAS
Fernando e Rubem telefonaram para o escritor Adonias Filho, amigo do general Sizeno Sarmento, rei da Vila Militar. Daí a pouco, Adonias, baiano solidário e eficiente, chamou:
- Falei com o Sizeno, ele disse para o Rubem ficar onde está e aguardar instruções.
Rubem ficou três dias onde estava: no uísque de Fernando. Adonias ligou de novo:
- Rubem, você vai ser ouvido, mas não vai ser preso. Será ouvido por um ex-colega seu da FEB, o coronel Andrada Serpa. Amanhã, 8 da manhã.
- Não pode ser às 10? 8 é muito cedo.
***
BRAGA
Rubem chegou ao quartel, o coronel Serpa o esperava:
- Dr. Rubem, bom-dia.
- Um momento, coronel. Se vai me tratar com cerimônia, me chame de embaixador e eu o chamo de coronel. Sem cerimônia, sou Rubem e você é Serpa, o Rubem e o Serpa da FEB lá na Itália.
Rubem depôs até às 9 da noite. As crônicas de Rubem estavam todas sobre a mesa do coronel, marcadas, grifadas em lápis vermelho forte. E o coronel investigando:
- O que é que você quis dizer com estas frases aqui, Rubem?
- Serpa, você conhece o “Constantino”, aquele jogo do bicho de Niterói? A pule diz assim: “Vale o escrito.” Minhas crônicas, Serpa, são como o “Constantino”. Valem o escrito.
E voltou para o uísque mineiro e generoso de Fernando Sabino.
***
DIRCEU E PALOCCI
Esse foi o problema do governo de Lula e é o do governo de Dilma : nunca vale o escrito. O PT não deixa. Para o PT, o escrito não vale nada. O ex- procurador-geral da Republica Fernando Souza acusou (e o Supremo Tribunal concordou, recebeu a denuncia e abriu o processo) que o Mensalão era “uma organização criminosa” e José Dirceu o “chefe da quadrilha”.
Lula defendeu Dirceu, dizendo que não houve mensalão, mas “só caixa dois, que todo mundo faz”. Não valia o escrito.
Palocci primeiro negou, depois foi obrigado a confessar que faturou R$ 20 milhões durante a campanha de Dilma, da qual era coordenador, e desses, R$ 10 milhões entre a vitória e a posse, quando era chefe da Comissão de Transição e já convidado para a Casa Civil.
Lula defendeu Palocci e foi ao palácio pressionar Dilma para não demiti-lo, porque “o que ele fez todo mundo faz”. Não valia o escrito.
14 de dezembro de 1968. O Brasil acordou com o AI-5 na cabeça e o ministro da Justiça Gama e Silva com a ressaca na boca. Iracema Silveira, mulher de Joel Silveira, telefonou cedo para Rubem Braga:
- Prenderam Joel. Cuide-se.
- Vou tomar uma providência.
E fugiu. Foi para a casa de Fernando Sabino. À tarde, ligou para a casa dele, em Ipanema, a empregada tinha notícias:
- Chegaram aqui dois homens de cabelinhos cortados, com um jipe lá embaixo, procurando o senhor.
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ADONIAS
Fernando e Rubem telefonaram para o escritor Adonias Filho, amigo do general Sizeno Sarmento, rei da Vila Militar. Daí a pouco, Adonias, baiano solidário e eficiente, chamou:
- Falei com o Sizeno, ele disse para o Rubem ficar onde está e aguardar instruções.
Rubem ficou três dias onde estava: no uísque de Fernando. Adonias ligou de novo:
- Rubem, você vai ser ouvido, mas não vai ser preso. Será ouvido por um ex-colega seu da FEB, o coronel Andrada Serpa. Amanhã, 8 da manhã.
- Não pode ser às 10? 8 é muito cedo.
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BRAGA
Rubem chegou ao quartel, o coronel Serpa o esperava:
- Dr. Rubem, bom-dia.
- Um momento, coronel. Se vai me tratar com cerimônia, me chame de embaixador e eu o chamo de coronel. Sem cerimônia, sou Rubem e você é Serpa, o Rubem e o Serpa da FEB lá na Itália.
Rubem depôs até às 9 da noite. As crônicas de Rubem estavam todas sobre a mesa do coronel, marcadas, grifadas em lápis vermelho forte. E o coronel investigando:
- O que é que você quis dizer com estas frases aqui, Rubem?
- Serpa, você conhece o “Constantino”, aquele jogo do bicho de Niterói? A pule diz assim: “Vale o escrito.” Minhas crônicas, Serpa, são como o “Constantino”. Valem o escrito.
E voltou para o uísque mineiro e generoso de Fernando Sabino.
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DIRCEU E PALOCCI
Esse foi o problema do governo de Lula e é o do governo de Dilma : nunca vale o escrito. O PT não deixa. Para o PT, o escrito não vale nada. O ex- procurador-geral da Republica Fernando Souza acusou (e o Supremo Tribunal concordou, recebeu a denuncia e abriu o processo) que o Mensalão era “uma organização criminosa” e José Dirceu o “chefe da quadrilha”.
Lula defendeu Dirceu, dizendo que não houve mensalão, mas “só caixa dois, que todo mundo faz”. Não valia o escrito.
Palocci primeiro negou, depois foi obrigado a confessar que faturou R$ 20 milhões durante a campanha de Dilma, da qual era coordenador, e desses, R$ 10 milhões entre a vitória e a posse, quando era chefe da Comissão de Transição e já convidado para a Casa Civil.
Lula defendeu Palocci e foi ao palácio pressionar Dilma para não demiti-lo, porque “o que ele fez todo mundo faz”. Não valia o escrito.
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