"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 10 de junho de 2012

A GRÉCIA CAMINHA DO CAOS PARA O CAOS


Votando, de novo


A Grécia, berço da democracia, gosta de votar. As eleições do último dia 6 foram inconclusivas e agora teremos mais um exercício em junho. O medo de muitos, que eu não compartilho, é que o berço da democracia seja o túmulo do projeto europeu se viver uma definitiva degringolada econômica, saída do euro e caos político ainda mais acentuado.
Existe incoerência política de uma população que rechaça a austeridade imposta para sua permanência na zona do euro e quer ficar no seu aconchego.


Noriel Roubini, o economista também conhecido como Doutor Apocalipse, é coerente com a fama. Foi rápido para prever que as próximas eleições serão vencidas pela Coalizão da Esquerda Radical, que se opõe ao programa de austeridade e isto levará ao abandono grego da zona da euro.
É verdade que as mais recentes pequisas de opinião indicam que este partido de extrema esquerda (que ficou em segundo lugar nas eleições de 6 de maio) ampliará seu apoio em junho.
No entanto, a nova eleição terá lugar em um ambiente diferente, num referendo sobre a permanência do país na zona do euro. Péssimo se ficar, pior se sair. A velha Grécia precisa decidir se quer crescer ou continuar com suas molecagens. Mas seria conveniente a babá alemã misturar vigilância com alguns afagos.


Sempre difícil prever o futuro, então vamos prever o passado. Bem que avisaram que seria uma fria a Grécia entrar no clube europeu. Antes da Segunda Guerra Mundial, o país era integrante do briguento clube dos Balcãs, como Bulgária e Iugoslávia. O desfecho da guerra fez da Grécia um país ocidental (o negócio de berço da civilização ocidental era remoto), enquanto os outros dois países entraram no clube comunista.


A história andou e em 1981, contra as recomendações da Comissão Europeia e por cálculos relacionados com a política da Guerra Fria (e o fato de que a Grécia, assim como Espanha e Portugal, deixara de ser uma ditadura), ela foi aceita na União Europeia. Andamos mais 20 anos e a Grécia entrou na zona do euro. Aceitação igualmente prematura. Agora é pagar para ver e ver quanto a Europa irá pagar.


Com o colapso da ditadura militar (1967-74), a Grécia, sem suar muito, depositou as esperanças na aquisição de uma moderna identidade europeia. Não abandonou sua cultura clientelista, em que grandes partidos de esquerda e de direita têm culpa no cartório. A Grécia agora pode perder ou rasgar a carteirinha de sócio do clube do euro.
Enquanto isto, integrantes do briguento clube dos Balcãs (que há 20 anos travavam guerras e empreendiam limpeza étnica), caminham na direção oposta. A Croácia está chegando para ser admitida como o vigésimo-oitavo estado-membro da União Europeia e o bloco vai abraçando Sérbia e Montenegro.
Nesta coluna trágica que começou com a Grécia, só falta terminar, para relaxar, com a sabedoria já clássica de Groucho Marx que desconfiava do clube que o aceitava como sócio. Mas o problema com a Grécia é que deveria ter havido mais desconfiaça mesmo sobre o sócio.

10 de junho de 2012
Caio Blinder

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