Em Bruxelas, a cúpula "de último recurso" para o euro encerrou-se ao
amanhecer de ontem. Terá conseguido salvar a moeda comum europeia? Tudo gira em
torno de US$ 2 trilhões. Vale lembrar que, nos dois últimos anos, houve outras
18 cúpulas, todas elas de último recurso. Mas vamos com calma.
A outra pergunta é: a alemã, a poderosa Angela Merkel, conseguiu que todas as cabeças se curvassem diante dela, e particularmente a do socialista François Hollande, que, contrariamente ao seu predecessor, Nicolas Sarkozy, não se inclina automaticamente diante dos desejos da chanceler?
Então, quem ganhou? Como desconfio da minha subjetividade, vou responder a esta pergunta reproduzindo a resposta dada por dois grandes jornais franceses, ambos extremamente sérios, Le Monde e L'Express. A manchete do Monde diz: "A Europa do Sul dobra Merkel", e a do L'Express: "Cúpula europeia: por que Angela Merkel venceu". Portanto, juntando as duas manchetes, obtemos a fórmula totalmente esclarecedora: Merkel venceu, perdeu.
É preciso explicar: houve de fato uma grande mudança. Até agora, a zona do euro (17 membros) era encarnada por duas pessoa, a alemã Merkel e o francês Sarkozy. Como se entendiam perfeitamente, reuniam-se, conversavam e depois comunicavam suas decisões aos outros países. E os outros países diziam: "Sim, senhores!" Inverossímil. O contrário de uma União.
Esse esquema desmoronou. Um pouco por causa do francês Hollande, que não renovou o entendimento sobre o "motor franco-alemão" do euro. Mas também graças à ruidosa entrada em cena de dois países considerados como "quantidades negligenciáveis" por Merkel e Sarkozy: a Espanha e a Itália.
Na noite de quinta-feira, foram eles que deram as cartas. O italiano Monti e o espanhol Rajoy deram prova, sob o olhar de aprovação de Hollande, de um domínio, de uma energia, de um talento formidáveis.
Merkel recuou. Ela tinha um ar um pouco atordoado com a resolução destes dois países que considera preguiçosos e despreocupados.
De fato, Madri e Roma obtiveram ganho de causa. Os dois países são obrigados a pagar juros insuportáveis: 6%, 7% ou mesmo mais, para o financiamento de suas enormes dívidas. Conseguiram que o Mecanismo de Estabilização Financeira possa emprestar diretamente aos bancos nacionais e que os fundos de ajuda possam comprar dívida soberana. O resultado foi fulgurante: pela manhã, os juros nos dois países baixaram maravilhosamente (mas isso durará?).
E Hollande? Ele batalhava numa outra frente. Sua tese é a seguinte: para sair do buraco, é preciso manobrar com duas alavancas, não apenas com uma: por um lado, é preciso fazer economia, impor o rigor, mas procurando não matar os doentes com purgantes exagerados.
Portanto, paralelamente ao rigor é preciso empreender uma ação em favor do crescimento. Merkel só queria saber de austeridade. De sua parte, os países em dificuldades, Espanha, Itália, etc. formaram um bloco com Hollande exigindo uma ação em favor do crescimento. Essa tese ganhou.
Foi decidido um Pacto para o Crescimento, de 120 bilhões.
Merkel foi obrigada a ceder. Mas ela não cedeu no essencial. Se fez concessões, foi para salvar o que considera essencial: a União Orçamentária (chamada na Alemanha de União da Estabilidade), que prevê que Bruxelas tenha direito de supervisionar e mesmo de controlar os orçamentos de cada país.
Em outras palavras, dentro de alguns meses, a França, como os outros membros da zona do euro, deverá submeter seu projeto de orçamento ao olhar glacial dos Comissários Europeus de Bruxelas.
Na verdade, Merkel, diante da revolta da tropa, cedeu em relação aos projetos a curto prazo: a salvação de um ou outro país, mas ela mantém o controle dos movimentos de grande amplitude, os movimentos lentos que poderíamos comparar às derivas inexoráveis das placas tectônicas sob a superfície dos oceanos. Esse movimento lento, aos olhos de Merkel, é a redução das soberanias nacionais. No horizonte distante, vislumbra-se uma perspectiva, sem que a palavra seja pronunciada, o "federalismo", ou pelo menos uma dose de federalismo.
É em torno deste encontro que as verdadeiras nuances ou contradições entre uns e outros se manifestarão em toda a sua aspereza. A França, assim como outros países, não parece disposta, por enquanto, a embarcar nesta grande viagem.
30 de junho de 2012
GILLES LAPOUGE - O Estado de S.Paulo
TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA
A outra pergunta é: a alemã, a poderosa Angela Merkel, conseguiu que todas as cabeças se curvassem diante dela, e particularmente a do socialista François Hollande, que, contrariamente ao seu predecessor, Nicolas Sarkozy, não se inclina automaticamente diante dos desejos da chanceler?
Então, quem ganhou? Como desconfio da minha subjetividade, vou responder a esta pergunta reproduzindo a resposta dada por dois grandes jornais franceses, ambos extremamente sérios, Le Monde e L'Express. A manchete do Monde diz: "A Europa do Sul dobra Merkel", e a do L'Express: "Cúpula europeia: por que Angela Merkel venceu". Portanto, juntando as duas manchetes, obtemos a fórmula totalmente esclarecedora: Merkel venceu, perdeu.
É preciso explicar: houve de fato uma grande mudança. Até agora, a zona do euro (17 membros) era encarnada por duas pessoa, a alemã Merkel e o francês Sarkozy. Como se entendiam perfeitamente, reuniam-se, conversavam e depois comunicavam suas decisões aos outros países. E os outros países diziam: "Sim, senhores!" Inverossímil. O contrário de uma União.
Esse esquema desmoronou. Um pouco por causa do francês Hollande, que não renovou o entendimento sobre o "motor franco-alemão" do euro. Mas também graças à ruidosa entrada em cena de dois países considerados como "quantidades negligenciáveis" por Merkel e Sarkozy: a Espanha e a Itália.
Na noite de quinta-feira, foram eles que deram as cartas. O italiano Monti e o espanhol Rajoy deram prova, sob o olhar de aprovação de Hollande, de um domínio, de uma energia, de um talento formidáveis.
Merkel recuou. Ela tinha um ar um pouco atordoado com a resolução destes dois países que considera preguiçosos e despreocupados.
De fato, Madri e Roma obtiveram ganho de causa. Os dois países são obrigados a pagar juros insuportáveis: 6%, 7% ou mesmo mais, para o financiamento de suas enormes dívidas. Conseguiram que o Mecanismo de Estabilização Financeira possa emprestar diretamente aos bancos nacionais e que os fundos de ajuda possam comprar dívida soberana. O resultado foi fulgurante: pela manhã, os juros nos dois países baixaram maravilhosamente (mas isso durará?).
E Hollande? Ele batalhava numa outra frente. Sua tese é a seguinte: para sair do buraco, é preciso manobrar com duas alavancas, não apenas com uma: por um lado, é preciso fazer economia, impor o rigor, mas procurando não matar os doentes com purgantes exagerados.
Portanto, paralelamente ao rigor é preciso empreender uma ação em favor do crescimento. Merkel só queria saber de austeridade. De sua parte, os países em dificuldades, Espanha, Itália, etc. formaram um bloco com Hollande exigindo uma ação em favor do crescimento. Essa tese ganhou.
Foi decidido um Pacto para o Crescimento, de 120 bilhões.
Merkel foi obrigada a ceder. Mas ela não cedeu no essencial. Se fez concessões, foi para salvar o que considera essencial: a União Orçamentária (chamada na Alemanha de União da Estabilidade), que prevê que Bruxelas tenha direito de supervisionar e mesmo de controlar os orçamentos de cada país.
Em outras palavras, dentro de alguns meses, a França, como os outros membros da zona do euro, deverá submeter seu projeto de orçamento ao olhar glacial dos Comissários Europeus de Bruxelas.
Na verdade, Merkel, diante da revolta da tropa, cedeu em relação aos projetos a curto prazo: a salvação de um ou outro país, mas ela mantém o controle dos movimentos de grande amplitude, os movimentos lentos que poderíamos comparar às derivas inexoráveis das placas tectônicas sob a superfície dos oceanos. Esse movimento lento, aos olhos de Merkel, é a redução das soberanias nacionais. No horizonte distante, vislumbra-se uma perspectiva, sem que a palavra seja pronunciada, o "federalismo", ou pelo menos uma dose de federalismo.
É em torno deste encontro que as verdadeiras nuances ou contradições entre uns e outros se manifestarão em toda a sua aspereza. A França, assim como outros países, não parece disposta, por enquanto, a embarcar nesta grande viagem.
30 de junho de 2012
GILLES LAPOUGE - O Estado de S.Paulo
TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA
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