"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 30 de junho de 2012

"QUEM USA O TERMO PIG MORRE DE SAUDADE DE ALGUM VEÍCULO DO PIG"

Na edição deste mês de junho, IMPRENSA discutiu o papel da imprensa na cobertura do mensalão, cujo julgamento – o maior da história do STF – deve acontecer a partir de agosto. Se, tradicionalmente, a mídia tem sido a grande “vitrine” dos escândalos políticos do país, o episódio vem transformando-a em “vidraça”, alvo de ataques tanto de seus pares, quanto do antigos acusados: os políticos.

Na entrevista abaixo, o jornalista Augusto Nunes, colunista da revista Veja, faz um balanço sobre a atuação da imprensa no caso, defende que se tratou do “maior escândalo político da história do país” e dispara contra jornalistas que rotulam a revista e outros veículos da grande mídia pela nada elogiosa sigla PIG – Partido da Imprensa Golpista. “Todo mundo que usa a expressão PIG morre de saudade de algum veículo que dizem fazer parte do PIG. Todos são viúvas de empresas do PIG”.

Crédito:Divulgação
Augusto Nunes

IMPRENSA - Como você tem visto a cobertura jornalística do mensalão pela imprensa?
AUGUSTO NUNES - De modo geral, ela cumpriu seu papel. Mas, também caiu em uma armadilha, a de usar o termo “mensalão”, porque a linha de defesa diz que eles não recebiam mesada. É claro que não era mesada, o que houve foram pagamentos regulares a deputados do PT e da base aliada para que apoiassem o governo no Congresso e fora dele.

Existe uma ala – inclusive parte da imprensa – que alega que não há provas sobre a origem do dinheiro desviado e que isso mostraria a prévia condenação feita por alguns veículos. O que acha disso?

Quem martelou essa frase e, com isso, foi premiado com um belíssimo emprego, foi o “repórter”, eu digo entre aspas, Franklin Martins 'Mas, não se sabe a origem do dinheiro...'. O primeiro e o segundo relatórios do procurador geral mostraram à exaustão que o dinheiro veio do Banco do Brasil e das estatais. É claro que faziam contratos publicitários de araque. [O mensalão] nasceu em Minas? É claro, lá foi o ensaio geral. Inclusive, defendi a expulsão do Eduardo Azeredo desde o primeiro momento... Eu sempre achei que a corrupção é velha como o Brasil, o que é novo é a institucionalização da impunidade, é um presidente da República dizer que não existiu.

É o maior escândalo político da história do país?

Acredito até que alguns acusados não pegaram nada, e outros pegaram pouco. Mas, é o maior escândalo político da história do país. O mensalão nasceu da impossibilidade de se fazer uma aliança entre PT e PSDB, como o PSDB toparia. [Se a aliança fosse feita], você não ficaria refém dos pequenos partidos, que são a causa do mensalão. Por quê? Porque o Lula não só não quis o PSDB, como recusou a proposta do Zé Dirceu, que tinha feito um acordo com o PMDB. Você só pode fazer maioria recorrendo a práticas fisiológicas.

O que pensa da expressão PIG usada também por alguns jornalistas para desqualificar veículos da chamada grande imprensa, como a própria Veja?

Olha, experimenta acompanhar o Brasil por uma semana pelo Estado do Maranhão. Lá, o Sarney é ótimo, a Dilma é ótima, o Maranhão vai bem e o mensalão não existe. Então, o PIG que para quem usa a expressão fazem parte a Veja, a Folha, o Estadão, o Zero Hora, a Época, O Globo etc. é uma parte minúscula da imprensa, localizada no sudeste do país, com poucos leitores. Não é isso? Golpista por quê? Apesar de não ter votado no Lula, eu celebrei a eleição dele porque acreditei que o PT mudaria as coisas no plano ético. E a mais desastrosa contribuição do PT à política brasileira foi ter ficado igual aos outros. Trabalhei com todos os que conhecidos que se acham fora do PIG, e conheço muito bem. Todo mundo que usa a expressão PIG morre de saudade de algum veículo que diz fazer parte do PIG. Todos são viúvas de empresas do PIG.

30 de junho de 2012
Guilherme Sardas

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