Na edição deste
mês de junho, IMPRENSA discutiu o papel da imprensa na cobertura do mensalão,
cujo julgamento – o maior da história do STF – deve acontecer a partir de
agosto. Se, tradicionalmente, a mídia tem sido a grande “vitrine” dos escândalos
políticos do país, o episódio vem transformando-a em “vidraça”, alvo de ataques
tanto de seus pares, quanto do antigos acusados: os políticos.
Na
entrevista abaixo, o jornalista Augusto Nunes, colunista da revista Veja, faz
um balanço sobre a atuação da imprensa no caso, defende que se tratou do “maior
escândalo político da história do país” e dispara contra jornalistas que rotulam
a revista e outros veículos da grande mídia pela nada elogiosa sigla PIG –
Partido da Imprensa Golpista. “Todo mundo que usa a expressão PIG morre de
saudade de algum veículo que dizem fazer parte do PIG. Todos são viúvas de
empresas do PIG”.
Crédito:Divulgação
Augusto Nunes
IMPRENSA - Como você tem visto a cobertura jornalística do mensalão pela imprensa?
AUGUSTO NUNES -
De modo geral, ela cumpriu seu papel. Mas, também caiu em uma armadilha,
a de usar o termo “mensalão”, porque a linha de defesa diz que eles não recebiam
mesada. É claro que não era mesada, o que houve foram pagamentos regulares a
deputados do PT e da base aliada para que apoiassem o governo no Congresso e
fora dele.
Existe uma ala –
inclusive parte da imprensa – que alega que não há provas sobre a origem do
dinheiro desviado e que isso mostraria a prévia condenação feita por alguns
veículos. O que acha disso?
Quem
martelou essa frase e, com isso, foi premiado com um belíssimo emprego, foi o
“repórter”, eu digo entre aspas, Franklin Martins 'Mas, não se sabe a origem do
dinheiro...'. O primeiro e o segundo relatórios do procurador geral mostraram à
exaustão que o dinheiro veio do Banco do Brasil e das estatais. É claro que
faziam contratos publicitários de araque. [O mensalão] nasceu em Minas? É claro,
lá foi o ensaio geral. Inclusive, defendi a expulsão do Eduardo Azeredo desde o
primeiro momento... Eu sempre achei que a corrupção é velha como o Brasil, o que
é novo é a institucionalização da impunidade, é um presidente da República dizer
que não existiu.
É o maior
escândalo político da história do país?
Acredito
até que alguns acusados não pegaram nada, e outros pegaram pouco. Mas, é o maior
escândalo político da história do país. O mensalão nasceu da impossibilidade de
se fazer uma aliança entre PT e PSDB, como o PSDB toparia. [Se a aliança fosse
feita], você não ficaria refém dos pequenos partidos, que são a causa do
mensalão. Por quê? Porque o Lula não só não quis o PSDB, como recusou a
proposta do Zé Dirceu, que tinha feito um acordo com o PMDB. Você só pode fazer
maioria recorrendo a práticas fisiológicas.
O que pensa da
expressão PIG usada também por alguns jornalistas para desqualificar veículos da
chamada grande imprensa, como a própria Veja?
Olha,
experimenta acompanhar o Brasil por uma semana pelo Estado do
Maranhão. Lá, o Sarney é ótimo, a Dilma é ótima, o Maranhão vai bem e o
mensalão não existe. Então, o PIG que para quem usa a expressão fazem parte a
Veja, a
Folha, o
Estadão,
o Zero
Hora, a Época,
O
Globo etc. é uma parte minúscula da imprensa, localizada no sudeste do
país, com poucos leitores. Não é isso? Golpista por quê? Apesar de não ter
votado no Lula, eu celebrei a eleição dele porque acreditei que o PT mudaria as
coisas no plano ético. E a mais desastrosa contribuição do PT à política
brasileira foi ter ficado igual aos outros. Trabalhei com todos os que
conhecidos que se acham fora do PIG, e conheço muito bem. Todo mundo que usa a
expressão PIG morre de saudade de algum veículo que diz fazer parte do PIG.
Todos são viúvas de empresas do PIG.
30 de junho de 2012
Guilherme Sardas
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