Ao ler um artigo recente fui obrigado a expor algo que venho percebendo há muito tempo em nosso país, o enorme contingente de jovens que almeja a carreira pública. O artigo se chama: “Por que o Brasil não consegue crescer ainda mais?” do autor holandês Kieren Kaal. Em dado momento ele fala, com muita precisão, o seguinte: “Uma economista brasileira muito inteligente contou-me em uma casa de samba sobre os novos planos para a sua carreira. ‘Serei fiscal da Receita. Cinco mil euros de salário inicial, um horário de trabalho legal e me aposentar cedo. O que eu quero mais?’
Um sorriso debochado brilhou no seu rosto. Quando eu a conheci, essa jovem talentosa de 20 e poucos anos ainda tinha ambições muito diferentes. Ela seria uma escritora brilhante ou uma empresária – não uma funcionária pública enferrujada. Mas a tentação é grande. Nada menos que três em cada cinco jovens brasileiros sonham com um emprego no governo, de preferência como funcionário público federal”.
Pois bem, o que tenho visto diariamente na prática docente é justamente isso, um grupo de jovens cuja maior ambição é a de se preparar em um curso técnico/superior para um futuro concurso público estadual, ou preferencialmente federal, para garantirem suas vidas logo no início delas, e assim poderem ter a certeza de que daqui a alguns anos irão se aposentar e morrer em paz.
É deprimente entrar em uma turma de Direito e perguntar aos alunos quantos dali pretendem fazer concurso e, em torno de 90% (ás vezes mais) levantarem seus braços. Estamos mediocrizando o país.
Devemos lembrar que o Estado não produz nada
Enquanto isso, o governo tal qual um leviatã, no melhor modelo hobbesiano, parasita as poucas empresas, retirando o máximo possível por meio da carga tributária, atraindo alguns dos mais promissores talentos do mercado por meio de salários e planos de carreira que o setor privado não tem como fazer frente, dentre outras formas de prejudicar o setor privado.
Não deixa de ser irônico ver nos editais de alguns concursos exigirem o estudo de matemática e/ou economia. No caso da economia é triste porque geralmente não é economia, mas sim uma cartilha político-partidária de acordo com o “P” que esteja no comando do país/estado/município do certame. Mas, voltando a ironia, é de certa forma absurdo que certos orgãos peçam que seus futuros funcionários estudem matemática ou economia, visto que basta realizarem alguns cálculos básicos, matemática elementar, e irão perceber o buraco que o país está se metendo.
Vejamos, então, pelos dados colocados pelo jornalista holandês: Nada menos que três em cada cinco jovens brasileiros sonham com um emprego no governo, de preferência como funcionário público federal”, o que temos então:
- 3 jovens desejam ser funcionários públicos recebendo, em média, 5mil Euros/Mês;
- 2 jovens vão para o setor privado. Vamos considerar que abram empresas e tenham um rendimento igual de 5.000 Euros/Mês, pagando uma tributação média de 40% ao mês, isso totaliza 2.000 Euros/mês por pessoa, ou 4.000 Euros/Mês a cada dois jovens.
Dessa forma, já no primeiro mês temos o seguinte quadro caótico para o Estado:
Funcionários remunerados
03
Valor do vencimento individual
¢ 5.000,00
Total mensal
¢ 15.000,00
Contribuintes privados
02
Valor de tributos individuais
¢ 2.000,00
Total mensal
¢ 4.000,00
Diferença
¢ – 11.000,00 mês
Ou seja, por um cálculo simples, sem entrar em um cálculo atuarial, econômico ou financeiro, sem qualquer espécie de projeção estatística ou temporal já é possível perceber o enorme déficit mensal. Em um ano estamos falando de 132 mil Euros. Não estou nem pensando em fazer cálculos mais elaborados, porque nesse caso a realidade iria ser muito mais crítica para ser demonstrada. A matemática básica é suficiente.
Enquanto isso, a demagogia oficial se vale do “Estado do bem estar social” para buscar votos, para prometer o impossível, sacrificar as gerações futuras, emitindo um cheque sem fundo, que a maior parte de seus técnicos sabe que não tem como pagar, e seus políticos não-técnicos, que desconhecem totalmente a ciência econômica para sequer saberem o que estão criticando.
Acusam o neo-liberalismo, mal sabem o que é liberalismo, de haver quebrado o mundo em 1929, e repetido a dose em 2008, e esquecem que, em ambos os casos, houve interferência direta dos governos nas crises antes das quebras. Tudo bem, aceito todas as acusações, contudo gostaria que me respondessem uma única coisa: como irão fechar as contas acima, sem recorrerem a mais impostos? Porque se o fizerem poderá chegar o dia em que irão inviabilizar as empresas, e como disse antes, quem mantém toda essa estrutura é o setor produtivo, ninguém mais.
10 de agosto de 2012
Sandro Schmitz
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