"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 4 de agosto de 2012

O JULGAMENTO DO MENSALÃO: QUOSQUE TANDEM, LEWANDOWSKI, ABUTERE PATIENTA NOSTRA?

Tribunal vai escolher entre a altivez e a humilhação



O ministro Ricardo Lewandowski abusou ontem de nossa paciência e da de seus pares. Não me lembro — e acho que ninguém se lembra — de um voto sobre uma questão de ordem ter-se estendido por longuíssimos 80 minutos. Seu ânimo era claramente beligerante; as palavras apelaram mais de uma vez à provocação; nos momentos de distração, quando fugiu de seu texto de incríveis 70 páginas, entreviu-se ainda a tentação da lisonja, como quando, rechaçando o pedido para que fosse breve, feito por Ayres Britto, explicou uma das razões de seu libelo que buscava derrubar o julgamento: a questão, lembrou, havia sido suscitada por Márcio Thomaz Bastos, chamado de “o maior criminalista deste país (ou algo ainda mais comovido), ex-ministro da Justiça…” Entendi que, para o ministro, nem todos os advogados são iguais perante o Juízo. Um dia ainda proclamaremos a República, quem sabe!!! Fosse, então, proposta por outro qualquer, talvez ele tivesse abreviado o seu voto em forma de bolo de rolo, com finas camadas idênticas e sobrepostas em torno do mesmo eixo. Uma lástima! Ah, sim: bolo de rolo é bom demais da conta! O de Lewandowski só não vale por uma caixa de Stilnox porque exasperante.

Foi um mau começo, compartilhando a bancada com o ministro Dias Toffoli, cuja presença nesse julgamento é uma afronta aos artigos 134 e 135 do Código de Processo Civil. Sim, caras e caros: a passagem do PT pela Presidência da República não foi irrelevante também para o Supremo. Por que seria? Por muito menos, ministros se declararam impedidos antes, mas não Toffoli. Por muito mais, ministros foram menos prolixos em questões de ordem. Mas não Lewandowski. Vivemos dias em que a mais alta corte do país está sob assédio de um ente de razão que lhe é externo, que não está na Constituição, que não está no Código de Processo Civil, que não está nas leis. E esse ente de razão, é preciso dizer o nome, é o PT. Nota à margem: o voto de Toffoli pelo não-desmembramento foi excelente. Parece-me que ele está participando do julgamento não porque não saiba das coisas, mas porque sabe.

A questão já havia sido discutida pelo Supremo e decidida, e a resposta, dada: contra o desmembramento. Outra podia ser a composição do tribunal, mas o processo era o mesmo. Portanto, o esforço de Márcio Thomaz Bastos constituía, claramente, uma manobra para acabar com o julgamento se acolhida. Como a derrota era dada como certa, foi um esforço para esticar o calendário. Ele sabe muito bem que, ao lado das razões técnicas para condenar ou absolver, existe a questão de natureza política. Esta, mais do que as minudências do caso, mobiliza a sociedade. E assim é não por força ou vontade deste ou daquele grupos em particular. Assim é porque o centro do poder, mesmo na versão benevolente — e, a meu ver, falsa — se organizou para movimentar dinheiro ilegal para pagar dívidas de campanha. Assim é porque, segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República, que me parece a verdadeira, alguns chefões da República montaram um esquema criminoso de arrecadação e de distribuição de recursos — dinheiro, cumpre notar, público — para gerir o Congresso ao arrepio dos caminhos institucionais.

Ai o petralha que mede os outros sempre por sua régua indaga: “Estou entendendo… Você acha que voto legítimo e independente é só o que condena…” Não! Eu não acho, não, embora entenda, sim, que não se viu esquema criminoso tão grave como esse no período republicano. Meu ponto é outro: estou atacando é a chicana, a manobra meramente procrastinadora. Tão logo esteja disponível o voto de Lewandowski, veremos lá que ele próprio lembra casos em que não houve desmembramento. Pior do que isso: ele próprio já foi protagonista de um “remembramento” — ou por outra: depois de ter mandado réus para a primeira instância justamente porque não tinham prerrogativa de foro, ele pediu que fossem, digamos, devolvidos ao Supremo. POR QUE ISSO É IMPORTANTE?

Porque tanto Bastos como Lewandowski tentaram fazer parecer que se estava ali a lidar com questão de princípio, de fundamento, de essência. E isso é simplesmente uma mentira. Havendo a conexão entre as acusações e estando interligados os possíveis crimes cometidos, o normal é manter a inteireza do processo, não o contrário. E, faltasse outro argumento, é preciso lembrar que o próprio ministro já havia votado contra pedido idêntico. É revisor indicado para o caso há dois anos. Trabalhou na revisão por longos seis meses. Afinal, o que lhe faltou, então, para tratar do assunto? Foi o currículo de Márcio Thomaz Bastos, como deu a entender, que amoleceu seu coração?

Maus momentos e chacrinha partidária

Três momentos de Lewandowski chamaram a atenção numa tarde patética. No curso de seu voto, voltou a reclamar do calendário apertado “que esta corte se impôs”. Num país em que a Justiça é sabidamente lenta, para infelicidade dos pobres, um ministro do Supremo considera pouco que um processo tenha ficado cinco anos no tribunal, tendo demorado outros dois para chegar lá.

Ao ler as suas 70 paginas, não citou uma só vez — nenhuma!!! — os crimes de que são acusados os réus do processo que estava sendo julgado. Não citou uma só vez os nomes dos acusados. Não se ouviu a expressão “mensalão do PT”. Ao contrário: ao dizer por que dava voto tão longo, levou-me aqui a enxugar “una futiva lacrima” quando falou da vida das pessoas que estavam sendo julgadas, que podiam ser presas etc. Associei tudo isso a José Dirceu — um dos nomes que ele não pronunciou — e, confesso, sofri. Pois bem. Com todos esses silêncios, estendeu-se, não obstante, por uns 10 ou 15 minutos sobre o que chamou “mensalão tucano”, listando à vontade nomes de réus. Um peso, duas medidas.

Finalmente, ao ser indagado por Joaquim Barbosa sobre o motivo de ter silenciado antes e, pior, votado contra o desmembramento, aí teve um piti: disse que o outro recorria a “argumentum ad hominem”. Lembrar a Lewandowski o voto de Lewandowski é agora crítica pessoal? Que nova abordagem Bastos trouxe à corte? Por acaso as decisões anteriores não tinham sido tomadas, num tribunal constitucional, à luz das Constituição e das leis?

Ad hominem? Cícero abre a sua Primeira Catilinária indagando sobre aquele que era um inimigo da República: “Quousque tandem, Catilina, abutere patientia nostra?” — “Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?” Pois é. Quousque tandem, Lewandowski?…

Comportamento estranho

O ministro, reitero, vote como quiser. Eu aponto aqui o que considero seu comportamento inadequado. E não é de hoje. No caso da Lei do Ficha Limpa, por exemplo, o Lewandowski que estava no TSE fez a mais dura crítica que li ao texto. Não deixou pedra sobre a pedra. Seu duplo, o Lewandowski do STF, no entanto, virou fã incondicional da lei. Mais ou menos como nesse caso da divisão do processo: ele tanto votou contra como a favor — o calhamaço desta quinta.

Antes mesmo de entregar a revisão do processo, com a sociedade clamando por ele, Lewandowski encontrou tempo para conceder algumas entrevistas. E disse coisas estranhas. Afirmou que preparava um “voto alternativo” ao do relator, Joaquim Barbosa. Como o seu trabalho era de revisão do processo, apontando suas eventuais falhas — afinal, ele tem o seu voto para contestar o do relator se quiser —, parecia haver ali o ânimo de se colocar como a outra ponta do processo.
Encerrando

Não estou aqui a demonizar Lewandowski, não! Todos sabem, aliás, que não sou exatamente fã de certos arroubos do ministro Joaquim Barbosa. Já divergi de coisas que ele disse com muita dureza até. Nesse caso, tenho a sua mesma curiosidade: por que só agora? Por que Lewandowski mudou de ideia? Que princípios orientaram o seu voto de então e que princípios orientaram o de hoje? Mais: não era o único ministro com voto redigido. Bastos já havia anunciado a intenção de levantar a questão. Lewandowski, no entanto, a gente viu, se preparou com afinco, mesmo sabendo, e ele sabia, que iria perder com folgada margem. Para quem falava? Para quê?

Mais uma vez, ele mesmo deu a pista. Afirmou que, se condenados, os réus poderiam até mesmo recorrer à Corte Interamericana de Direitos Humanos, intenção já anunciada por alguns amigos de José Dirceu. Uau! Dirceu, o mártir das Américas — o único mártir, nessa hipótese então, de um estado democrático e de direito! Que piada! A intenção do voto de 80 minutos — numa mera questão de ordem! — era pespegar a pecha de ilegítimo num processo de que ele é o revisor. E, segundo entendi, depois de dois anos, seis meses dos quais dedicados a um “trabalho árduo”, ele acabou não propondo alteração nenhuma. Aguardemos agora o seu voto.
Adiante, Supremo, sabendo que, nessa matéria e em se tratando de um tribunal superior, não existe meio-termo entre a altivez e a humilhação.

O tempora! O mores!

04 de agosto de 2012
Reinaldo Azevedo

Um comentário:

  1. Agora só tratamento de choque para livrar o Brasil do domínio de bandidos.
    Veja na net.:
    VAMOS CONCENTRAR VOTOS, SOMENTE
    NA OPOSIÇÃO, PELO BRASIL INTEIRO. VAI “ESPIRRAR CORRUPTOS ATÉ PELO BUEIRO”.

    NO BRASIL, BANDIDOS NÃO RESPEITAM O PODER JUDICIÁRIO.
    NO BRASIL, O PODER NÃO EMANA DO POVO, MAS A PUNIÇÃO SIM.
    APOSENTADOS, PENSIONISTAS, PROFESSORES, MILITARES, FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS – ESCRAVIZADOS E HUMILHADOS – VÃO “FERIR DE MORTE POLÍTICA” O CORAÇÃO DOS CARRASCOS CORRUPTOS: AS URNAS.
    "A REVOLTA DAS BENGALAS E DAS CADEIRAS DE RODAS"
    Parece que o movimento contra a corrupção e escravidão dos trabalhadores e aposentados no Brasil, iniciativa dos desprezados velhinhos e aposentados, está criando corpo, conquistando espaço e novas ideias.
    Rola na net.:

    POVO SEM PARTIDO POLÍTICO É PATRÃO:
    NÃO PERDE ELEIÇÃO
    PARA PESQUISA, RÁDIO OU TELEVISÃO.
    REPASSEM SEM MODERAÇÃO.

    ANULAR VOTO NÃO É A SOLUÇÃO
    VAMOS CONCENTRAR OS VOTOS NA OPOSIÇÃO,
    PARA EXPULSAR CORRUPTOS DE MONTÃO.
    DEPOIS DE QUATRO ANOS NÓS JULGAMOS A OPOSIÇÃO.

    “O DESESPERO DO CIDADÃO O LEVA A PENSAR EM ANULAR O VOTO.”

    NÃO ANULE O SEU VOTO, mesmo não confiando nas urnas eletrônicas – se fossem confiáveis, os Estudos Unidos adotariam o sistema.

    Considerando-se a banalização da desonestidade, imposta pelo Partido dos Trabalhadores e coligações, é fato que fica muito fácil – vamos ser claros – o PT roubar os votos nulos em urnas por eles controladas. Não se esqueçam de que a máquina pública está loteada: tem um petista em cada posto.
    Roubar os votos da oposição talvez seja um pouco mais difícil.

    Em função do acima exposto, acredito que a estratégia de concentrar os votos na oposição – PROPOSTA DO MOVIMENTO IDEALIZADO POR APOSENTADOS – seja a única maneira de tirar o PT do poder e, com ele, muitos males do Brasil.

    “É UM TRATAMENTO DE CHOQUE”. “VAI SER UM DEUS NOS ACUDA” PORQUE ELES JÁ CONTAM COM A PERPETUAÇÃO NO PODER.

    Vamos tomar as suas cadeiras antes que se tornem perpétuas, sem eleições no país com a ajuda do judiciário. Acham absurdo?
    O rolo compressor da corrupção está, até, atropelando a suprema corte de justiça do país.
    O lula, pessoalmente, decidiu pela permanência do terrorista italiano, depois do processo passar pelo supremo, lembram-se? Lembram-se também do nome do advogado do cachoeira? Sim! O ministro da justiça do lula.
    Ainda há tempo: a classe beneficiada com a queda do PT é, por enquanto, mais numerosa do que os beneficiários das bolsas-escravos-das-urnas.

    Quanto à oposição, teremos quatro anos para vigiá-los. O povo vai sair fortalecido desta luta.

    A união de esforços para divulgar o movimento é importante para o povo conquistar uma vitória histórica, nas urnas, COMEÇAR UMA NOVA CULTURA POLÍTICA ONDE O POVO, REALMENTE, É PATRÃO E OS POLÍTICOS SEUS FUNCIONÁRIOS.

    Expressão de pensamento retirada de textos do movimento: “A REVOLTA DAS BENGALAS E DAS CADEIRAS DE RODAS” que gira na net.

    REALIDADE:
    HÁ ANOS CONHECEMOS E ANALISAMOS OS PROBLEMAS POLÍTICOS NO BRASIL, MAS NUNCA CONSEGUIMOS A SOLUÇÃO. AS NOSSAS ATITUDES ATÉ AGORA SÓ POTENCIALIZARAM O MAL. O MOVIMENTO DOS APOSENTADOS É A ÚLTIMA SAÍDA.


    OS TRABALHADORES E APOSENTADOS: ESCRAVIZADOS, MISERÁVEIS, HUMILHADOS E ENDIVIDADOS NÃO VÃO PERMITIR – A PARTIR DAS PRÓXIMAS ELEIÇÕES – QUE OS “TUMORES CANCERÍGENOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA” SAIAM SE REPRODUZINDO E ESPALHANDO MAIS FILHOTES PELO BRASIL AFORA.
    PENSEM NISSO E DIVULGUEM, AO MÁXIMO. O MOMENTO É ESTE.
    VAMOS COMEÇAR A ENDIREITAR O BRASIL, ENFRAQUECER O MAL – O PT, PMDB E COLIGAÇÕES – JÁ NAS PRÓXIMAS ELEIÇÕES.

    ResponderExcluir