Em artigo intitulado “A Extinção do Mulato”, publicado em 2006, eu escrevia:
“Movimentos ecologistas estão preocupados com a extinção de baleias, ursos polares, micos-leões-dourados e outras espécies.
Pessoalmente, estou preocupado com outra espécie bem mais próxima e mais valiosa, os mulatos e as mulatas. Que, dependendo da inépcia de nossos legisladores, em breve será extinta. Pelo menos do ponto de vista legal.
É o que propõe um monstrengo jurídico, de autoria do senador Paulo Paim, o projeto de lei n° 3.198/2000, também chamado de Estatuto da Igualdade Racial. Já foi aprovado pelo Senado e tramita em regime de prioridade na Câmara dos Deputados. De uma só tacada, Paulo Paim extermina legalmente os mulatos do território pátrio: “Para efeito deste Estatuto, consideram-se afro-brasileiros as pessoas que se classificam como tais e/ou como negros, pretos, pardos ou definição análoga”.
“Demorou mas chegou até nós. Está sendo introduzida legalmente no Brasil a classificação ianque, que só consegue ver pretos e brancos em sua sociedade e nega a miscigenização. Este sórdido projeto é antigo, fruto da exportação dos conflitos raciais dos Estados Unidos para um país onde o negro sempre conviveu bem com o branco, tanto que o mulato constitui um contingente considerável da população. Mal foi eleito, o Supremo Apedeuta saiu arrotando urbi et orbi que o Brasil era a segunda nação negra do mundo, depois da Nigéria.
"Até mesmo uma pessoa aparentemente culta, como Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores, prestou-se a corroborar o sofisma safado: “Como declarou o presidente Lula, o estreitamento das relações com a África constitui para o Brasil uma obrigação política, moral e histórica. Com 76 milhões de afrodescendentes, somos a segunda maior nação negra do mundo, atrás da Nigéria, e o governo está empenhado em refletir essa circunstância”. Ao colocar todos afrodescendentes no mesmo saco dos negros, o ministro demonstra que, nos círculos do poder, mesmo homens cultos se dobram à bajulação.
“Ora, segundo o IBGE, a população negra do Brasil, em 99, era de apenas 5,4%. Com o acréscimo de 39,9% do contingente de mulatos, o Brasil estaria perto de ser definido como um país majoritariamente negro, como aliás é hoje considerado por muitos americanos e europeus. Com o projeto do senador, não teremos mais mulatos (ou pardos, no jargão do IBGE), mas apenas afro-brasileiros. O que os ativistas negros esquecem é que o mulato pode denominar-se tanto afro-brasileiro como euro-brasileiro. A tônica no afro tem intenções óbvias: aumentada artificia
lmente a população negra, torna-se fácil pressionar os legisladores para obter mais vantagens para os que não são brancos. Os ativistas negros no Congresso querem ganhar privilégios no tapetão da semântica”.
E ganharam mesmo. A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) indica uma inversão da tendência histórica de aumento da afirmação da miscigenação na população brasileira. Entre 2009 e 2011, houve queda na participação de pessoas que se declaram pardas e aumento dos autodeclarados pretos. É o que leio no Estadão.
Segundo o professor da UFRJ Manolo Florentino, do departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), "o que há de novo é o crescimento especificamente do preto em detrimento do pardo. O brasileiro não é burro. Isso vem acontecendo numa proporção exatamente simétrica à expansão das políticas de ação afirmativa fundadas no conceito de raça. No final das contas, vamos acabar tendo uma sociedade bicolor."
Como a ianque, como eu antecipava. Nunca foi tão fácil ser profeta nesta terra. Ao afirmar que brasileiro não é burro, o que o professor está dizendo é que brasileiro mente para passar bem. Segundo o Claudio Moura Castro, que ora é economista, ora é pedagogo, "a definição de cor é muito volátil. Se fizerem cota para branco, vai aumentar a proporção de branco".
Para o sociólogo Simon Schwartzman, apesar de as cotas também beneficiarem os pardos, há uma campanha do movimento negro no sentido de que as pessoas se declarem pretas, e não pardas.
O professor da UFRJ afirma que a tendência histórica verificada ao longo do século 20 era de "extinção" da categoria preto e de crescimento dos pardos, lembrando que, a rigor, pardos são também a mistura de brancos com indígenas.
Ou seja, uma afirmação da miscigenação. "Agora, temos uma reversão disso. Ao invés de afirmar-se a miscigenação expressa através do crescimento do pardo, o que está se afirmando é a bipolarização da sociedade com o crescimento dos pretos", diz Florentino.
Alvíssaras! Atingimos os padrões de racismo da grande nação do norte. Com a diferença de que um brasileiro agora pode escolher a raça a que pertence. Como ser negro rende mais dividendos que ser mulato, sejamos todos negros. Curiosamente, as autoridades entrevistadas pelo jornal vêem este embuste como algo absolutamente inocente. O Brasil vai deixar de ser uma nação onde as raças se misturam só porque o IBGE e os legisladores querem.
Em 1994, fui o único jornalista no Brasil a denunciar a farsa do massacre dos ianomâmis em Haximu. Sete entidades ligadas a indígenas, em representação ao MPF, pediram cinco anos de prisão para este que vos escreve. Por crime de racismo. Por ter afirmado que os índios não conseguiram escapar de uma cultura ágrafa e que os antropólogos queriam conservá-los como animais em museus intemporais para contemplação dos homens do futuro. Bem entendido, os indigenistas não levaram nada e tiveram de retirar seu cavalinho da chuva.
Obviamente, os defensores incondicionais dos bugres queriam intimidar-me. O índio deve ser preservado. Afinal o subsolo das terras que habitam é um tesouro a ser explorado, não pelos brasileiros, mas pelas nações do Primeiro Mundo.
Já o mulato, este pode ser extinto. Além de não ter subsolo que preste, neste país onde negro no vestibular vale por dois brancos, melhor ser negro.
Os legisladores estão destruindo uma cultura onde a miscigenização era norma, para transformar o Brasil em um país de racismo extremado como os Estados Unidos.
24 de setembro de 2012
janer cristaldo
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