Ferreira Gullar, pseudônimo do maranhense José Ribamar Ferreira, jornalista, crítico de arte, teatrólogo,biógrafo, tradutor, memorialista, ensaísta e poeta é um dos fundadores do neoconcretismo, que entra para a história da literatura como um dos maiores expoentes e influenciadores de toda uma geração de artistas dos mais diversos segmentos das artes brasileiras.
Segundo alguns professores de literatura, o poema “Traduzir-se” reflete a profissão de fé de Gullar no exercício de uma poética em um discurso que só abrange a sociedade, porque investiga o mais fundo da subjetividade. O poeta se revela contido e grave durante o que vai expondo.
Nas rimas que apresenta este poema, segue seu esquema peculiar de ajustar dois vocábulos fortes e de importância capital para o significado total: “mundo/fundo”, “multidão/solidão”, “pondera/delira”, e assim por diante.Até o sexto verso há a reiteração, quase que como um refrão, dos dois aspectos fundamentais abordados no texto: “Uma parte de mim/outra parte”.
Em quase todos os poemas de Gullar é possível traçar dois paradigmas, que se resumem em antinomias existenciais, reveladoras da missão do poeta em seu desdobramento de sujeito poético e sujeito histórico. Pelo esquema de pontuação adotado, pode-se obter uma alegoria da relação entre o eu-indivíduo e o eu-coletivo. A primeira parte, denominada de “Uma parte”, seguida de uma identificação, introduz a parte seguinte, denominada de “outra parte”, através de dois pontos.
Esse sinal é usado, em linguagem corrente, como indicativo de uma enumeração, citação ou aposto. O que, numa leitura alegórica, denuncia a indicação de que a “outra parte”, na verdade, está contida na primeira, ou talvez lhe é predicativa; ou seja, uma não exclui a outra, melhor, definem-se pela complementaridade.
TRADUZIR-SE
Ferreira Gullar
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
Segundo alguns professores de literatura, o poema “Traduzir-se” reflete a profissão de fé de Gullar no exercício de uma poética em um discurso que só abrange a sociedade, porque investiga o mais fundo da subjetividade. O poeta se revela contido e grave durante o que vai expondo.
Nas rimas que apresenta este poema, segue seu esquema peculiar de ajustar dois vocábulos fortes e de importância capital para o significado total: “mundo/fundo”, “multidão/solidão”, “pondera/delira”, e assim por diante.Até o sexto verso há a reiteração, quase que como um refrão, dos dois aspectos fundamentais abordados no texto: “Uma parte de mim/outra parte”.
Em quase todos os poemas de Gullar é possível traçar dois paradigmas, que se resumem em antinomias existenciais, reveladoras da missão do poeta em seu desdobramento de sujeito poético e sujeito histórico. Pelo esquema de pontuação adotado, pode-se obter uma alegoria da relação entre o eu-indivíduo e o eu-coletivo. A primeira parte, denominada de “Uma parte”, seguida de uma identificação, introduz a parte seguinte, denominada de “outra parte”, através de dois pontos.
Esse sinal é usado, em linguagem corrente, como indicativo de uma enumeração, citação ou aposto. O que, numa leitura alegórica, denuncia a indicação de que a “outra parte”, na verdade, está contida na primeira, ou talvez lhe é predicativa; ou seja, uma não exclui a outra, melhor, definem-se pela complementaridade.
TRADUZIR-SE
Ferreira Gullar
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
(Colaboração enviada pelo poeta Paulo Peres – site Poemas & Canções)
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