SANTA HELENA TE PERDOE
José Burnet, maranhense, jornalista, intelectual brilhante, depois chefe da Casa Civil do governador João Castelo, era deputado estadual do PSD. Em 1962, candidatou-se à Câmara e saiu pelo interior em campanha eleitoral.
Chegou à cidade de Santa Helena, foi para o comício:
– Povo de Santa Helena! Gosto tanto desta terra, mas tanto, que se pudesse nascer de novo pediria a Deus para nascer aqui em Santa Helena.
Foi um sucesso. No dia seguinte, Burnet estava em Pinheiro:
– Povo de Pinheiro! Gosto tanto desta terra, mas tanto, que se pudesse nascer de novo pediria a Deus para nascer aqui em Pinheiro.
Lá de trás, um agricultor, que por acaso tinha assistido ao comício da véspera, em Santa Helena, gritou:
– Doutor, e Santa Helena, doutor?
– Santa Helena? Santa Helena? Santa Helena que me perdoe!
E desceu.
PMDB DO MENSALÃO
O senador Sarney não precisa pedir a Deus para nascer em Pinheiro. Já nasceu lá. Precisa, e muito, é pedir perdão a Santa Helena por ser tantos sendo um só. E, em cada época e lugar, ser um Sarney tão diferente do outro.
O ex-presidente competente que comandou no País a travessia da ditadura para a democracia e por isso é respeitado nas referencias e conferencias internacionais, o construtor da nova política sul-americana do Brasil, a partir do Mercosul, o acadêmico com seus romances traduzidos lá fora, não tinha o direito de ser o chefe do PMDB do Mensalão e Sanguessugas.
E ainda fica magoado quando seus amigos e companheiros, de Senado e de partido, se declaram decepcionados, como o senador Pedro Simon:
“É triste esse papel do Sarney. Infelizmente, ele serve a qualquer governo e tem os cargos que quer”.
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O CANGURU
O senador Simon sabe e diz, e isso sobretudo o constrange, que o pecado de Sarney, de servir a qualquer governo, em qualquer época e da maneira mais cinzenta, desde que puxe as brasas para sua sardinha, vem de longe.
Em janeiro de 1971, em pleno horror do governo Médici, mal Sarney chegara ao Senado, o americano B. Shepard desceu na Lua, comandando a Apolo 14. (Não era o primeiro. Em julho de 1969, Neil Armstrong, Michael Collins e Edwin Buzz já haviam caminhado na lua pela primeira vez).
Quando Shepard pisou na lua e saiu andando, branco e inflado, sobre as crateras de Fra Mauro, um cientista de Houston gritou: “É o canguru”!
O mundo todo ouviu e riu. Naquele dia, a Veja havia saído com uma surpreendente entrevista, nas páginas amarelas, do jovem e brilhante senador de 41 anos.
Ele, que nada mais tinha sido na vida senão político (deputado aos 25 anos, governador aos 35), pregava que “a hora é dos técnicos”.
Atacava “a velha era dos políticos” e anunciava “a nova era dos técnicos”. Sarney emprestava sua boca para um recado da linha dura militar.
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SARNEY
Quem o conhecia, seus companheiros da Bossa Nova da UDN, quase todos cassados, levaram um susto.
Desde 1950, lá em São Luís, jornalista talentoso, candidato a deputado federal pelo PSD, ele só fazia política. Fui à Enciclopédia Larousse:
“Canguru: caracteriza-se por uma cauda imponente para assegurar o equilíbrio do salto. Animal inofensivo e medroso”. Pensei logo: “É o Sarney.”
E escrevi, na Tribuna da Imprensa, um artigo (O canguru do Maranhão) contando a decepção dos ex-colegas dele.
Chegou à cidade de Santa Helena, foi para o comício:
– Povo de Santa Helena! Gosto tanto desta terra, mas tanto, que se pudesse nascer de novo pediria a Deus para nascer aqui em Santa Helena.
Foi um sucesso. No dia seguinte, Burnet estava em Pinheiro:
– Povo de Pinheiro! Gosto tanto desta terra, mas tanto, que se pudesse nascer de novo pediria a Deus para nascer aqui em Pinheiro.
Lá de trás, um agricultor, que por acaso tinha assistido ao comício da véspera, em Santa Helena, gritou:
– Doutor, e Santa Helena, doutor?
– Santa Helena? Santa Helena? Santa Helena que me perdoe!
E desceu.
PMDB DO MENSALÃO
O senador Sarney não precisa pedir a Deus para nascer em Pinheiro. Já nasceu lá. Precisa, e muito, é pedir perdão a Santa Helena por ser tantos sendo um só. E, em cada época e lugar, ser um Sarney tão diferente do outro.
O ex-presidente competente que comandou no País a travessia da ditadura para a democracia e por isso é respeitado nas referencias e conferencias internacionais, o construtor da nova política sul-americana do Brasil, a partir do Mercosul, o acadêmico com seus romances traduzidos lá fora, não tinha o direito de ser o chefe do PMDB do Mensalão e Sanguessugas.
E ainda fica magoado quando seus amigos e companheiros, de Senado e de partido, se declaram decepcionados, como o senador Pedro Simon:
“É triste esse papel do Sarney. Infelizmente, ele serve a qualquer governo e tem os cargos que quer”.
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O CANGURU
O senador Simon sabe e diz, e isso sobretudo o constrange, que o pecado de Sarney, de servir a qualquer governo, em qualquer época e da maneira mais cinzenta, desde que puxe as brasas para sua sardinha, vem de longe.
Em janeiro de 1971, em pleno horror do governo Médici, mal Sarney chegara ao Senado, o americano B. Shepard desceu na Lua, comandando a Apolo 14. (Não era o primeiro. Em julho de 1969, Neil Armstrong, Michael Collins e Edwin Buzz já haviam caminhado na lua pela primeira vez).
Quando Shepard pisou na lua e saiu andando, branco e inflado, sobre as crateras de Fra Mauro, um cientista de Houston gritou: “É o canguru”!
O mundo todo ouviu e riu. Naquele dia, a Veja havia saído com uma surpreendente entrevista, nas páginas amarelas, do jovem e brilhante senador de 41 anos.
Ele, que nada mais tinha sido na vida senão político (deputado aos 25 anos, governador aos 35), pregava que “a hora é dos técnicos”.
Atacava “a velha era dos políticos” e anunciava “a nova era dos técnicos”. Sarney emprestava sua boca para um recado da linha dura militar.
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SARNEY
Quem o conhecia, seus companheiros da Bossa Nova da UDN, quase todos cassados, levaram um susto.
Desde 1950, lá em São Luís, jornalista talentoso, candidato a deputado federal pelo PSD, ele só fazia política. Fui à Enciclopédia Larousse:
“Canguru: caracteriza-se por uma cauda imponente para assegurar o equilíbrio do salto. Animal inofensivo e medroso”. Pensei logo: “É o Sarney.”
E escrevi, na Tribuna da Imprensa, um artigo (O canguru do Maranhão) contando a decepção dos ex-colegas dele.
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