Dona Marta Suplicy, que ganhou um ministério – o da Cultura - para apoiar o combalido candidato do PT à prefeitura de São Paulo, anunciou ao que vem na quinta-feira passada. Em comemoração do Dia da Consciência Negra (20 de novembro próximo), lançará editais para beneficiar apenas produtores e criadores negros. "É para negros serem prestigiados na criação, e não apenas na temática. É para premiar o criador negro, seja como ator, seja como diretor ou como dançarino", disse a ministra à Folha de São Paulo.
Curiosamente, a decisão foi tomada em reunião em Brasília com a ministra Luiza Bairros, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Estranha igualdade racial que exclui brancos e mulatos da participação nos editais.
Para Nuno Coelho de Alcântara, da Fundação Cultural Palmares, instituição ligada ao MinC para promover e preservar a cultura afro-brasileira, um edital que condicione a seleção à raça do criador ou produtor pode "fomentar o preconceito racial".
Alcântara foi modesto. Pode fomentar o preconceito racial? Não é que possa fomentar.
É claro que fomenta o preconceito racial. Como desde há muito vem fomentando – não o preconceito racial, mas o ódio racial – a política de cotas na universidade. Qual branco vai olhar com carinho um negro que lhe roubou a vaga na universidade só porque sua pele é negra.
Há horas venho afirmando. Os antigos profissionais da luta de classes, ao perderem a antiga bandeira, precisavam de uma nova. Se hoje se tornou obsoleto falar em burguesia e proletariado, cria-se uma cisão entre brancos e negros, homens e mulheres, heterossexuais e homossexuais. Se não existe ódio entre uns e outros, é preciso criá-lo. Luta de classes morta, luta racial posta.
Para o artista plástico Emanoel Araujo, curador do Museu Afro Brasil em São Paulo, os editais representam uma posição política. "Mas isso é muito bem-vindo. Como está, o Brasil parece mais a Dinamarca do que um país mestiço. Na TV, o negro sempre aparece na posição de empregado ou de chacota. O lado branco é chiquérrimo, e o outro, escravo ou ex-escravo", disse.
Estranho argumento. Os negros pretendem cobrar uma dívida histórica, alegando que há mais de século o negro foi escravo ou ex-escravo. Mas se o negro aparece na TV como escravo ou ex-escravo, a TV peca por racismo. Que querem, afinal, estes senhores? Se o negro era visto como escravo ou x-escravo, por que não pode ser visto como escravo ou ex-escravo?
Comentaristas desinformados, que parecem não ler jornais, dizem que Dona Marta está oficializando o racismo no Brasil.
Nada disso! O racismo foi oficializado dia 26 de abril passado, quando a suprema corte judiciária do país oficializou, por unanimidade, o racismo no país. Naquela data, o STF revogou, com a tranqüilidade dos justos, o art 5º da Constituição Federal, segundo o qual todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza. A partir de então, tornou-se legal a prática perversa instituída por várias universidades, de considerar que negros valem mais do que um branco na hora do vestibular. Parafraseando Pessoa: constituições são papéis pintados com tinta. Que podem ser rasgados ao sabor das ideologias.
No que não vai nada de novo. Em maio do ano passado, o STF revogou de uma penada o § 3º do art. 226 da Carta Magna: “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”. Ao reconhecer a união estável para casais do mesmo sexo, o excelso pretório jogou no lixo a carta aprovada por uma Constituinte. Onde se lia homem e mulher, leia-se homem e homem, ou mulher e mulher e estamos conversados.
A partir de hoje, onde se lia “todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza”, leia-se: todos são iguais perante a lei, exceto os negros, que valem mais. Simples assim.
Os considerandos a favor do racismo são vários. Segundo o ministro Cezar Peluso, “há graves e conhecidas barreiras institucionais do acesso aos negros às fontes da educação”. Como se não houvesse barreiras institucionais também para os brancos. Se o vestibular barra negros, barra também brancos, amarelos, verdes ou azuis. “É preciso desfazer a injustiça histórica de que os negros são vítimas no Brasil”, continuou o ministro. Como se os milhões de brancos que vivem na miséria não fossem vítimas de injustiças históricas.
Segundo o ministro Joaquim Barbosa, hoje mimado pela mídia, as ações afirmativas tentam neutralizar o que chamou de “efeitos perversos” da discriminação racial: “As medidas visam a combater a discriminação de fato, de fundo cultural, como é a brasileira. Arraigada, estrutural, absolutamente enraizada na sociedade. De tão enraizada as pessoas nem a percebem, ela se normaliza e torna-se uma coisa natural”.
Barbosa é aquele ministro negro, que chegou a mais alta corte do país e ainda continua se queixando de racismo. Na Folha deste domingo continua se queixando:
“A imprensa brasileira é toda ela branca, conservadora.
O empresariado, idem. Todas as engrenagens de comando no Brasil estão nas mãos de pessoas brancas e conservadoras”.
Curioso depoimento de um negro que está às vésperas de assumir a presidência da mais alta corte jurídica do país. Branco, de repente, virou sinônimo de conservador. Devemos deduzir que negros, ipso facto, são revolucionários?
Ironicamente, justo neste domingo, recebe a capa do mais importante órgão da “imprensa brasileira toda branca”. E com aura de herói:
07 de outubro de 2012
janer cristaldo
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