Conforme os jornais da semana, em São Paulo e no Rio, conclui-se ser desleal
a concorrência entre o estado de Direito e o crime organizado.
Porque, se
procurar emprego honesto, um jovem desfavorecido economicamente, com pouca ou
nenhuma escolaridade, morador da favela, encontrará no máximo o salário mínimo.
Caso decida aderir aos bandidos que controlam e até infernizam sua vida, disporá
de muitas vezes a merreca que a honestidade lhe oferece.
Quando ingressa nas polícias militares e até nas forças armadas, é tentado pelos barões do crime organizado a transferir seus conhecimentos bélicos ao narcotráfico.
Além dos vencimentos, geralmente parcos, dados pelas corporações oficiais, poderá receber dos bandidos um abono bem superior. Conseguindo inscrever-se numa quadrilha qualquer, seja como “instrutor”, “avião”, “soldado” ou “fogueteiro”, sua remuneração poderá chegar a dez vezes a oficial, e por semana.
Precisará ser aprovado em diversos “cursos”, como “informação”, “guerra na selva”, “guerrilha urbana”, “tiro”, “natação em esgoto” e similares. Depois, o céu é o limite, tornar-se “gerente”, “empresário”, “controlador de ponto de venda de drogas” e até “chefe”.
Dá para o humilhado, desprezado e indignado menino hesitar? Do poder público sofre apenas o abandono e a truculência, quando a polícia sobe o morro.
Do narcotráfico, proteção para ele e sua família, remédios, alimentação, até ajuda em dinheiro para velórios e festinhas de aniversário.
Seus valores são outros, ainda que o risco, infinitamente maior. Mas o que tem a perder o indigitado jovem, senão a própria vida, para a qual dedica importância relativa?
Essa realidade explica porque o crime organizado cresceu, ultrapassou a periferia, desceu o morro e começou a dominar o asfalto.
Fazer o quê, do lado de cá? Os policiais que não se corrompem ganham bem menos do que seus adversários. Sofrem mais, até porque boa parte deles obriga-se a morar nas favelas, mesmo escondendo sua condição profissional e sua farda. Em termos de armamento, perdem sempre. Para não falar na permanente intranqüilidade.
Muitos ingressam nas milícias, engodo logo desvendado, pois elas utilizam os mesmos métodos dos criminosos, explorando as comunidades e submetendo-as a constrangimentos parecidos, tudo dependendo da altura em que se encontram os casebres: mais para cima, submetem-se ao narcotráfico. Na subida do morro, às milícias.
Solução não dispõem as autoridades, registrando-se a contaminação da bandidagem junto a parte dos contingentes instalados nas favelas para pacificá-las. É a falência do estado de Direito.
08 de dezembro de 2012
Carlos Chagas
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