"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 9 de dezembro de 2012

"CAINDO A FICHA"

"Nada como uma safra de notícias negativas para que o governo comece a refletir um pouco mais sobre o que anda dando errado na economia brasileira, que deve crescer só 1% neste ano.

Depois do PIB "nada espetacular" do terceiro trimestre e da inflação ainda elevada de novembro, alguns assessores presidenciais começaram a enxergar problemas onde, até pouco tempo, só viam virtudes.

É o caso do sentimento refratário de investidores em relação ao estilo presidencial. No governo, reinava o discurso de que eles estão muito mal acostumados com a era do "almoço grátis" no país e terão de se adaptar aos novos tempos -de taxa de retornos bem menores.

A avaliação tem lá seu sentido e justificativa. Essa turma ganhou muito dinheiro fácil por aqui nos últimos anos. Só que o governo parece ter exagerado na sua autoconfiança e começou a distribuir sopapos de forma indiscriminada, sobrando até para quem não merecia.

Agora, com o investimento registrando a quinta queda consecutiva, alguns assessores passaram a admitir reservadamente que o tratamento nada amigável dispensado aos investidores teve sua influência no resultado ruim da economia.

Um conselheiro da presidente Dilma vai na mesma linha. Em sua opinião, ela vem tomando as medidas adequadas e corretas, mas seu governo erra nos detalhes e na forma como as negocia com o empresariado e investidores. Um tom de arrogância prepondera e cria ruídos.

Assessores e conselheiros acreditam que foi quebrada, em alguns casos, a relação de confiança entre governo e setor privado, paralisando investimentos. Alguns, inclusive, estão mudando de endereço e seguindo para países vizinhos.

Um dos assessores disse que, com jeitinho, iria repassar sua avaliação à presidente. Em sua opinião, é hora de ser mais suave no trato, sem perder a direção. Enfim, a ficha parece estar caindo. A conferir.

09 de dezembro de 2012
Valdo Cruz, Folha de São Paulo

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