"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 9 de dezembro de 2012

"PIBINHO MOSTRA AMBIENTE AZEDO E DILMA PERDIDA"

Azedou e levantou poeira
Pibinho não disse coisa nova sobre a economia, mas ambiente ficou azedo e Dilma parece perdida
DILMA ROUSSEFF disse que jamais viu jornal propor demissão de ministro. A presidente indignava-se de responder à sugestão da revista britânica "The Economist", que na semana passada avacalhou o Brasil e pediu a cabeça do ministro da Fazenda.

A presidente poderia ter se poupado do vexame duplo que foi responder à sugestão e dizer bobagem ao fazê-lo. Aqui e alhures, a imprensa não apenas pede a cabeça de ministros e presidentes como ajuda a derrubá-los. No mínimo, a presidente deve saber quem foi Carlos Lacerda, brilhante articulista de golpes nos anos 1950 e 1960, que pedia a cabeça e o fígado de presidentes. Mas passemos.

Como Dilma lê jornais e livros, é provável que o tropeção se deva ao fato de a presidente estar "hecatombada pela vaga da ressaca", como diz o verso de Mário Faustino, fora de si por causa do resultado muito ruim do PIB, de fato um ressacão, nos vários sentidos da palavra.

Em português mais corrente, Dilma ainda pergunta se anotaram a placa do caminhão que atropelou o devaneio inaugural da sua presidência, de crescimento médio de quase 6% no seu mandato, em vez do 1,8% da primeira metade de seu governo.

Sim, o clima azedou na semana que se seguiu à divulgação do Pibinho. Nem era para tanto, mas azedou. Se no terceiro trimestre a economia tivesse crescido o esperado, o desempenho ainda seria muito ruim, de crescimento anual em torno de 1%.

Sim, a ressaca lavou a esperança de crescimento maior em 2013, mas também não muito. Mais importante, o número pífio do PIB destampou e deu mais legitimidade às críticas engasgadas na garganta de muita gente, em especial economistas ditos "liberais".

Porém, Dilma é apenas em parte responsável pelo mau resultado de agora. Se continuar a insistir em algumas políticas, pode legar coisa ainda pior a seu sucessor(a). Decerto tem ajudado a atrapalhar.

Seu governo não tinha projeto. Intervém onde não deve na economia. Aceitou o pacote de ministros e agregados proposto por Lula, gente muita vez incompetente, enrolada ou corrupta mesmo.

A quizumba promovida por essa gente ajudou a derrubar o investimento do governo e a desorientar normas que pautam a atividade econômica, veja-se a miséria das agências reguladoras.

Em termos macroeconômicos, seu governo não vai mal. A dívida pública cai, os juros caíram muito. A inflação vai alta, mas nem tanto agora. Mas Dilma acredita que pode fazer a economia andar controlando preços, lucros e apenas dando dinheiro a empresários.

A presidente dá alguns sinais de que as coisas podem melhorar no futuro, mas em seguida nubla o ambiente, levanta poeira batendo o pé em vez de negociar e obter resultados. Veja-se o caso da redução do custo da energia elétrica ou da enrolada privatização de obras e serviços de infraestrutura (aeroportos, estradas, portos etc.). Perde seu tempo com projetos megalômanos, como o do trem-bala.

Dilma não oferece esperança de que a economia será menos burocrática e engessada (não promete "reformas"). Dedica-se a muitos remendos e intervenções que aumentam a confusão legal e microeconômica. Mexe muitos pauzinhos, mas não faz uma canoa.

09 de dezembro de 2012
Vinicius Torres Freire - Folha de São Paulo

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