"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

GILBERTO CARVALHO, A VOZ DA INCONSEQUÊNCIA

O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da república defende mensaleiros, ataca adversários, constrange magistrados, grava mensagens ao partido – enfim, atua como porta-voz do PT dentro do governo Dilma Rousseff
A ordem era manter o governo totalmente afastado de qualquer polêmica que envolvesse o julgamento do mensalão.
Ministros não deveriam comentar, analisar ou fazer juízo sobre o caso. Ordem presidencial.
Ordem, ao que tudo indica, sem nenhum valor para o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho.
Contrariando a determinação da presidente Dilma Rousseff, o ministro já saiu em defesa dos mensaleiros, já usou as dependências do Palácio do Planalto para gravar um vídeo conclamando a militância do PT a reagir às acusações, já atacou adversários e, na semana passada, chegou ao extremo ao tentar constranger o Supremo Tribunal Federal (STF), a corte que acaba de condenar os chefes petistas à cadeia.
Em entrevista, Gilberto Carvalho revelou que conversou reservadamente com dois juízes da corte sobre o mensalão.
Para alguém investido de poder e empenhado na defesa dos companheiros de partido, é um comportamento flagrantemente inadequado.
O ministro se queixou ao então presidente do STF, Ayres Britto, da data escolhida para o julgamento – muito próximo das eleições municipais.
Britto, segundo ele, explicou que tentara, sem sucesso, antecipá-la. Com Luiz Fux, o outro magistrado, a conversa teria sido ainda mais imprópria:
“Sem que eu perguntasse nada, ele falou para mim o que falou para todos os outros. Que ele tinha estudado o processo. Que o processo não continua prova nenhuma. Que era um processo absolutamente sem fundamento. E que ele tomaria uma posição muito clara”.
O diálogo ocorreu antes da nomeação de Fux para o Supremo.
Ou seja, o secretário-geral da Presidência revela que ouviu do juiz a ser indicado à corte pelo seu governo o compromisso de que votaria a favor dos mensaleiros.
Não foi uma inconfidência despropositada.
Como já fizeram petistas envolvidos no escândalo, i ministro insinua que a nomeação de Fux – que condenou todos os principais acusados – estaria condicionada à absolvição da quadrilha.
Não é a primeira vez que Gilberto usa seu posto para mandar recados do partido.
O ministro é considerado os olhos, os ouvidos e a voz do PT e do ex-presidente Lula no atual governo.
28 de dezembro de 2012
Adriano Ceolin – Veja

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