O abatimento médio para a indústria e os demais consumidores deve ser de 20,2%, disse na sexta-feira o secretário executivo e ministro interino da Fazenda, Nelson Barbosa, reforçando o discurso apresentado nos dias anteriores pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Diante do discurso-padrão ouvido em Brasília há algum tempo, fica difícil imaginar se o controle monetário e a disciplina fiscal ainda terão, do ponto de vista do governo, alguma relevância para a política anti-inflacionária.
Sem o corte de impostos sobre automóveis e outros bens duráveis, a inflação medida pelo IPCA teria superado os 5,84% anunciados na quinta-feira. Esse efeito foi reconhecido pelo ministro interino da Fazenda. Ele poderia ter mencionado também a contenção de preços dos combustíveis. Os aumentos concedidos foram inferiores aos pretendidos pelos dirigentes da Petrobrás e indicados no plano de negócios da companhia. O consumidor foi poupado, mas a cúpula da empresa continua reclamando um ajuste realista.
Ministros, dirigentes do BC e outros funcionários federais continuam falando, no entanto, como se expedientes como esses compusessem de fato uma política de combate à inflação. O ministro interino da Fazenda chegou a indicar, na sexta-feira, o possível impacto da redução das tarifas de energia elétrica na formação do IPCA. Conversas desse tipo são um tanto estranhas e preocupantes quando envolvem uma autoridade especializada em análise econômica.
Para começar, é um despropósito falar de impostos como se fossem um fator inflacionário. O corte de um tributo, mesmo definitivo, apenas contribui para a redução de uma classe de preços. Não elimina pressões derivadas de fatores como o aumento de salários acima dos ganhos de produtividade, uma forte expansão do crédito, um aumento imoderado do gasto público ou uma combinação de todas essas variáveis.
Alguns preços podem cair e levar o índice geral para baixo, mas o movimento de alta será reiniciado, se as reais causas da inflação permanecerem. É este o caso do Brasil. Além disso, nem se pode contar com uma redução permanente de tributos, porque os cortes são provisórios.
Também o controle dos preços de combustíveis é um remédio impróprio contra a inflação. A contenção irrealista dos preços da gasolina e do diesel afeta o fluxo de caixa e a rentabilidade da Petrobrás, prejudicando sua capacidade de investir e tornando suas ações menos atrativas.
Não por acaso, nem por capricho dos investidores, o valor de mercado da Ambev superou o da Petrobrás. A manipulação de preços foi apenas um dos fatores, ao lado de outras intervenções desastradas. Outra consequência dessa política foi o desacerto da relação de preços da gasolina e do etanol, com reflexos muito ruins para o setor sucroalcooleiro. Tudo isso apenas serve para maquiar a inflação, mas os prejuízos para a economia são reais e muito claros.
No caso das tarifas de eletricidade, o discurso do governo é ainda mais despropositado. A redução do custo da energia elétrica é muito bem-vinda, em princípio, porque tanto beneficia as famílias consumidoras quanto alivia os custos de produção e torna o País mais competitivo.
Essa mudança tem sentido somente como política estrutural. É preciso verificar se há condições sustentáveis para o corte de tarifas, sem prejuízo para a capacidade de investimento e sem sobrecarga para o Tesouro. Ao insistir na redução imediata da conta de energia, mais uma vez o governo age de forma voluntarista e confunde questões muito diferentes. As pressões inflacionárias resultam principalmente de erros da política, a começar pela manutenção, desde 2005, de uma meta de inflação muito alta pelos padrões internacionais.
13 de janeiro de 2013
editorial do Estadao
Nenhum comentário:
Postar um comentário