Juvenil, na ânsia de proteger o réu José Genoíno (PT-SP) fez o dever de casa ao contrário e puxou uma sujeira protegida pelo tapete dos companheiros há mais de uma década: a relação suspeita entre o PT e o jogo do bicho.
Irritado com a reprimenda pública que o ex-governador Olívio Dutra fez ao recém-empossado deputado José Genoíno durante entrevista à Rádio Guaíba – “Eu acho que tu deverias pensar na tua biografia, na trajetória que tem dentro do partido... que tu deverias renunciar” -, André Vargas sacou do coldre a cobertura que o PT dera a Dutra na CPI estadual do jogo do bicho, em 2001.
“Para quem teve a compreensão do conjunto do partido em um momento difícil, ele está sendo pouco compreensivo”, disparou.
Pela cabeça do parlamentar, que está prestes a virar vice-presidente da Câmara, não ocorreu que estava colocando lenha em uma fogueira que nem brasa mais tinha.
Por 36 votos a favor e 10 contra, a CPI da Segurança Pública (jogo do bicho) realizada pela Assembleia do Rio Grande do Sul chegou a enquadrar Dutra por improbidade administrativa e crime de responsabilidade. Depois disso, o processo caminhou devagar e acabou sendo rejeitado pelo Ministério Público.
Em 2004 o tema voltou à baila quando a loteria gaúcha foi entregue a Carlos Almeida Ramos. Ele mesmo, o Carlinhos Cachoeira.
No ano seguinte, o esquema foi alvo de denúncia do deputado José Vicente Goulart Brizola, ex-diretor da loteria estadual. Na CPI dos Bingos, ele afirmou que fora coagido por petistas gaúchos a buscar recursos de campanha com donos de bingos e bicheiros.
Os petistas negaram. Viraram bichos. Literalmente.
Tido como um dos responsáveis por fazer a presidente Dilma Rousseff trocar o PDT pelo PT, José Vicente Goulart Brizola morreu, prematuramente, aos 61 anos, no último dia 28 de dezembro.
O filho do ex-governador Leonel Brizola, pai do ministro Brizola Neto, não está mais aqui para cobrar a reabertura do caso. Mas investigar os elos que, por mais de uma década, ligam o PT a bicheiros é algo inadiável depois de o deputado André Vargas confessar a proteção propiciada pela “compreensão do conjunto”.
O bicho pode até não pegar. Mas não abrir novas diligências será incompreensível.
13 de janeiro de 2013
Mary Zaidan, Globo online
Nenhum comentário:
Postar um comentário